- Preciso falar-lhe amanhã, sem falta; escolha o lugar e diga-me.
Creio que José Dias achou desusado este meu falar. O tom não me saíra tão
imperativo como eu receava, mas as palavras o eram, e o não interrogar, não
pedir, não hesitar, como era próprio da criança e do meu estilo habitual,
certamente lhe deu idéia de uma pessoa nova e de uma nova situação. Foi no
corredor, quando íamos para o chá; José Dias vinha andando cheio da leitura de
Walter Scott que fizera a minha mãe e a prima Justina. Lia cantado e compassado.
Os castelos e os parques saíam maiores da boca dele, os lagos tinham mais água
e a "abóbada celeste" contava alguns milhares mais de estrelas cintilantes. Nos
diálogos, alternava o som das vozes, que eram levemente grossas ou finas,
conforme o sexo dos interlocutores, e reproduziam com moderação a ternura e a
cólera.
Ao despedir-se de mim, na varanda, disse-me ele:
- Amanhã, na rua. Tenho umas compras que fazer, você pode ir comigo, pedirei a
mamãe. É dia de lição?
- A lição foi hoje.
- Perfeitamente. Não lhe pergunto o que é; afirmo desde já que é matéria grave
e pura.
- Sim, senhor.
- Até amanhã.
Fez-se tudo o melhor possível. Houve só uma alteração; minha mãe achou o dia
quente e não consentiu que eu fosse a pé; entramos no ônibus, à porta de casa.
- Não importa, disse-me José Dias; podemos apear-nos à porta do Passeio
Público.
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Dom Casmurro
ClassicsBentinho e Capitu são criados juntos e se apaixonam na adolescência. Mas a mãe dele, por força de uma promessa, decide enviá-lo ao seminário para que se torne padre. Lá o garoto conhece Escobar, de quem fica amigo íntimo. Algum tempo depois, tanto u...