Just one night

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Publicação original: 31/10/2020
Sinopse: Todo ano, por uma noite, Seokjin tinha o amor da sua vida para si. Somente por uma noite, e nada mais. Era melhor que nada, e por isso pagaria o que tivesse que pagar.
Tags
: LGBTQIA+; ficção; universo alternativo; melancolia; Halloween; horror leve.
Classificação: 16 anos
Notas: Olá!
Pra essa noite eu tinha preparado duas coisas: uma fic novinha no tema do Halloween, e a finalização de outra fic que também é de Halloween. Só que meu dia foi péssimo e eu não tô com energia de publicar coisa nova nem atualizar coisa em andamento, e ia deixar por isso mesmo, só que eu gosto muito de Halloween e não quero deixar passar batido. Sabe lá se ano que vem eu vou tá escrevendo ainda, né? Melhor republicar um continho do que não fazer nada, eu acho.
A quem for ler, please enjoy the journey! E não se esqueça de verificar se as notas estão dentro do que gosta de consumir :B

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***

- Whatever it takes -

A noite estava especialmente estrelada. A Lua brilhava de uma forma incomum, dando à noite, ao mesmo tempo, um ar romântico e fantasmagórico. Seokjin olhou para o céu de sua janela, observando o primor daquele manto negro que cobria o mundo enquanto o Sol repousava, pensando no quanto tinha sido providencial tanta beleza justamente naquela noite. Havia cinco anos que Seokjin ansiava pela chegada da noite de Halloween. Desde a noite em que a maior tragédia tinha se abatido sobre sua vida. Desde a noite em que tinha perdido a pessoa a que mais amava.

Fechou os olhos por um instante e suspirou, tomando coragem para sair daquela janela e ir arrumar a casa para a visita pela qual tinha passado um ano inteiro esperando. Tudo tinha que estar no seu devido lugar, igual a cinco anos atrás. Era por isso que Seokjin jamais tinha saído dali, mudado móveis ou louças, o que quer que fosse. Quando ele chegasse tudo deveria estar exatamente da mesma maneira que estava quando ele se foi. Não havia nada escrito em lugar algum que indicasse ser uma regra, mas Seokjin sentia que sim, era uma. Se mexesse em algo poderia colocar tudo a perder. Não tinha a menor intenção de correr o risco.

Não era muito o que tinha que arrumar. Bastava colocar os pratos de vidro transparente nos lugares, as taças baratas manchadas de vinho tinto de um lado e os talheres de prata herdados da avó do outro. No centro da mesa, ficaria a garrafa de bebida de qualidade duvidosa, os pastéis cozidos com recheio de porco e os bolinhos doces de arroz coloridos, a disposição da fome de quem quisesse se servir. Com tudo arranjado, quando a visita chegasse, era só tomar cuidado para não iniciar uma discussão em meio às provocações costumeiras, e tudo ficaria bem. Pelo menos até o amanhecer.

A campainha tocou no mesmo segundo em que Seokjin terminou de colocar o último doce na bandeja prateada, também herança de sua adorada avó. Seu rosto foi ornado com um sorriso melancólico, contente e gentil, uma combinação que somente Seokjin seria capaz de oferecer. Inspirando fundo e mantendo o sorriso, caminhou para a porta e a abriu.

— Sua fantasia está um lixo — falou diante de um Namjoon porcamente vestido de Pierrot.

— Pelo menos eu estou fantasiado — retrucou olhando com desgosto para Seokjin, todo vestido com roupas pretas comuns. — Cadê sua fantasia de Arlequim? Eu demorei pra achar essas duas!

— Tá no fundo do guarda-roupa, o único lugar que poderia estar. Pra que se fantasiar se a gente nem vai sair? — Namjoon cruzou os braços, contrariado. — Anda, entra logo. Eu acabei de servir o jantar.

— Só porque você cozinha muito bem. — Namjoon falou ao entrar, e antes que pudesse dar algum passo mais para dentro, foi agarrado pela cintura e teve a boca tomada por um beijo. — E porque beija muito, também.

— Sei. — Seokjin riu baixo, soltando Namjoon e trancando a porta atrás deles. — Fiz seus pastéis preferidos, mas meio diferente. Acho bom você gostar.

— Se estiver ruim eu vou falar.

— É claro que vai, nunca perderia a chance de reclamar.

Namjoon deu de ombros, e Seokjin o conduziu para a copa. Indicou a ele uma cadeira, sentou-se na outra, próximo a ele, e então começaram a comer e conversar. Driblou Namjoon quando este tentou o convencer a se vestir de Arlequim, o fez comer mais do que o pretendido, beberam juntos a garrafa de vinho sobre a mesa e mais outra, que Seokjin pegou ao notar que não havia mais bebida. Tudo muito parecido com a noite de Halloween de cinco anos antes, com exceção de que, daquela vez, Seokjin não machucaria os sentimentos de Namjoon o chamando de tolo por motivo nenhum. Dessa vez não o faria sair bêbado e chateado porta afora, suscetível a qualquer barbaridade na rua. Dessa vez faria tudo de uma forma melhor, mesmo sabendo que, na realidade, coisa alguma mudaria. Faria tudo melhor, para poder continuar vivendo, e para aproveitar aquela única chance que, curiosamente, passou a ter depois de dizer aos ventos que faria qualquer coisa para ter Namjoon de volta, nem que fosse por uma noite.

...

O dia seguinte era sempre difícil. Ao acordar tinha que encarar a realidade, que Namjoon não estava mais ali, e que a noite anterior não tinha passado de uma fantasia real, ou o que quer que fosse. Sempre pensava, depois de acordar sozinho na cama, sobre como era possível ter aquelas noites com Namjoon, e que preço por acaso teria que pagar por elas. O pensamento, porém, se desfazia em meio às lembranças novas que cada Halloween lhe trazia, em meios às risadas, carícias e juras de amor que acrescentava às que tinha, de fato, vivido com o amor de sua vida.

Nesse clima, na manhã posterior à noite de Halloween, Seokjin se levantava, se arrumava, saía de casa e ia rumo ao memorial de Namjoon, tomando o cuidado de passar numa floricultura e comprar um buquê de pequenas margaridas, as flores preferidas de seu amado quando em vida. Diante do modesto memorial Seokjin se sentava, prestava homenagem e depositava o buquê, e então começava um monólogo diante da urna repleta de cinzas sobre como a noite anterior tinha sido boa, agradecendo a Namjoon por tê-lo perdoado, por ter lhe feito aquela visita mais uma vez. Vinha sendo assim há cinco anos. Essa era a rotina de Seokjin.

Na volta para casa, depois de "conversar" com Namjoon em seu estado atual e não numa espécie de magia, Seokjin voltava a ser assombrado pelos pensamentos que lhe diziam que, cedo ou tarde, um preço muito alto por suas noites de Halloween seria cobrado. Seokjin os afugentava, mas no fundo sabia que quem quer que tivesse aceitado sua oferta desesperada, um dia iria querer algo seu em troca. O preço que tivesse de pagar no futuro estaria bem pago.

Desde que pudesse, por pelo menos uma noite ao ano, ter Namjoon de volta, pagaria o que fosse.

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E foi isso! Espero que quem leu tenha gostado! Muito obrigada a quem chegou aqui, e feliz Halloween! ;***

Em todos os universos, eu e vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora