Um brinde a amizade

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O casamento da minha irmã tinha sido sem dúvidas um divisor de águas em nossas vidas.

Eu digo nossas, não só porque Eduardo fazia minha irmã imensamente feliz, ou porque ele era sem dúvidas o cunhado mais bacana que eu já tive em toda minha vida.

Mas sim pelo fato de que desde o casamento deles a minha vida tinha mudado drasticamente.

Lembro das amizades que fiz naquele dia, me lembro perfeitamente de pensar que havia acabado de encontrar os melhores "parceiros de rolê da vida", alegres, divertidos e com uma tolerância alcoólica nas alturas.

Mas a cruel realidade da vida foi muito além disso.

Trinta dias depois do casamento de Paula, nosso pai faleceu. E todo o chão ao nosso redor, desabou.

Foi extremamente difícil e doloroso e eu cheguei a pensar que nunca iria conseguir parar de chorar.

Mas eventualmente eu acabei conseguindo.

Não sozinha, é claro.

Eu tive o improvável suporte dos "amigos" do meu cunhado, no processo.

Raphael Veiga e Joaquim Piquerez.

Dois dos melhores amigos de Eduardo, além de companheiros de time também.

Era cientificamente improvável que dois "desconhecidos" fossem capazes de me dar o suporte necessário em um momento tão difícil como aquele.

Mas foi exatamente o que aconteceu.

Eduardo precisava cuidar da minha irmã, que com a notícia entrou em um estado de choque absoluto.

Paola, mãe da Paula, me odiava o suficiente para se manter o mais distante possível de mim, já que eu era um lembrete doloroso da infidelidade de seu marido, doloroso o suficiente para que nem a morte dele fosse capaz de fazê-la suportar a minha presença.

Então, não me sobrava nada. Nem um abraço, nem um "meus sentimentos", nem um consolo se quer. Se não fosse por aqueles dois "desconhecidos" que decidiram me amparar naquela época.

E foi assim, que nasceu uma das mais improváveis amizades.

Raphael e Piquerez estiveram ao meu lado todos os dias de todos os meses que vieram a seguir. Me dando suporte, me aconselhando, sustentando todas as minhas crises de choros e não me deixando sozinha durante um bom tempo.

Hoje, quase um ano depois desse fatídico acontecimento, eles ainda se mantinham aqui. Presentes e constantes em minha vida e eu não poderia estar mais agradecida por isso.

A dor ainda estava aqui,viva e fresca, a saudade ainda era forte e avassaladora na maior parte do tempo, e as crises de choro iam e vinham com frequência, mas era mais fácil com eles dois me ajudando a segurar as pontas.

Era mais fácil porque eu sabia que teria com quem contar quando tudo ficasse verdadeiramente difícil.

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