Quase Impossível

004

Kat's pov
ATUALIZADO

Estou na varanda, apoiada no parapeito, enquanto converso por uma chamada de vídeo com Nessa. A brisa quente balança meus cabelos, e o som das ondas no fundo cria uma trilha sonora perfeita para uma chamada descontraída.

— Então, basicamente, minha mãe deu a viagem pra gente — Termino a explicação.

A expressão de Nessa se ilumina na tela.

— Kat, você tem noção de que ganhou uma viagem pro Havaí? Você é a pessoa mais sortuda do mundo!

— Ah sim, uma viagem viagem paradisíaca com Vinnie. Que sorte a minha. — Respondo sarcástica — Seria bem melhor se você e Ava estivessem aqui.

— Não liga pra ele, aproveita a viagem!

— É, Kat, não liga pra mim.

A voz grave é divertida surge atrás de mim, acompanhada de um peso no meu ombro. Viro a cabeça num sobressalto e dou de cara com Vinnie, seu rosto colado ao meu na tela da chamada.

— Porra, Vinnie! Já disse pra parar de me assustar! — resmungo empurrando sua testa contra a palma da minha mão.

Ele ri e se afasta, deixando um belisco na minha cintura.

— Bom, amiga, aproveita aí! Amo você! Beijos!— Nessa de despede e logo desligo a chamada.

Vinnie está encostado no portal da porta, mexendo nos cabelos e, para minha infelicidade, sem camisa.

— Andou pelo hotel assim? — pergunto, estreitando os olhos.

Ele dá um meio sorriso e se joga na espreguiçadeira, apoiando os braços atrás da cabeça.

— Óbvio que não. Essa suíte está muito quente.

— O clima estava normal até você chegar — retruco, sem dar muita atenção.

Ele se inclina a frente, apoiando os antebraços sobre a mesa da varanda.

— Então eu te deixo com calor?

Reviro os olhos, ajeitando o short sobre meu corpo e logo fazendo um coque.

— Meu Deus, sai de perto.

Ele solta uma risada sincera, pegando uma blusa social branca sobre a cadeira e colocando sem abotoar.

— Quer ir jantar?

Arqueio uma sobrancelha.

— Você me chamando pra jantar?

— Não se iluda, Kat. Só pensei que estaria com fome, já que não comeu nada desde que chegamos. Mas tudo bem, se quiser morrer de inanição.

Ele se levanta, e começa a caminhar dentro da suíte.

— Tá bom, eu vou! — digo revirando os olhos— Só um segundo.

— Anda logo! — ouço sua voz distante na sala enquanto pego minha bolsa no quarto.

— Ja estou aqui! — digo correndo em sua direção. Ele segura a porta para que eu possa passar primeiro.

Entramos no elevador e nós deparamos com um casal de velhinhos. A senhora nos observava com um olhar nostálgico, enquanto o senhor... nunca fui tão julgada por alguém com cabelos brancos.

— Vocês dois me lembram minha juventude com Thomás — diz a senhora entrelaçando os dedos no braço do marido, que, presumo ser o tal Thomás.

Solto um sorriso educado enquanto Vinnie morde o lábio pra segurar o riso. Aperto seu braço discretamente, com as unhas, e ele me faz uma careta antes de mandar um sorriso divertido.

— Obrigada. Tenham uma ótima noite — digo, me despedindo assim que as portas se abrem.

O restaurante está lotado e barulhento. Há uma mesa enorme cheia de pratos sofisticados e garçom circulando entre os clientes. Me sento e espero Vinnie terminar de analisar o cardápio.

— O que vai pedir? — digo, prendendo o cabelo em um coque. Percebo que Vinnie observa cada movimento atentamente.

Ele coça o queixo, assumindo uma expressão séria e pensativa.

— Acho que camarão. Lembro da sua cara quando fomos naquela viagem com nossos pais, no começo você odiou o camarão do restaurante, mas depois comeu mais do que eu.

— Você também gostou, nem vem
— digo gesticulando.

Ele ri de leve e olha o cardápio novamente.

— Vou pedir camarão.

Dou de ombros. Qualquer coisa me serviria bem agora. Mas então, avisto alguém familiar do outro lado do restaurante.

— Ah não...não,não,não... — reclamo, abaixando a cabeça e cobrindo o rosto com as mãos.

Vinnie franze a testa e olha ao redor.

— Não quer mais camarão?

— Meu ex-namorado, Anthony. Está aqui.

Vinnie me encara por alguns segundos antes de soltar uma risada debochada.

— Já namorou um cara chamado Anthony?

Reviro os olhos.

— Cala a boca! Eu preciso.. consegue fazer um favor pra mim?

Ele ergue uma sobrancelha.

— Depende.

Respiro fundo e murmuro, é quase inaudível de tão baixo que digo.

— Eu preciso que finja ser meu.. ser meu.. — As palavras simplesmente não saem pela humilhação que estou passando.

— Precisa que eu seja seu namorado? — Ele brinca com um sorriso provocante.

— Exato.

— O que eu ganho com isso? — Ele coloca os dedos cruzados por baixo do queixo enquanto apoia os cotovelos na mesa.

Mordo o lábio, ponderando.

— Faço o que você quiser por uma semana, depois da viagem.

Os olhos deles brilham por interesse.

— Tá fechado.

Não demora muito até que Anthony se aproxime. Ele está acompanhando de uma garota morena, claramente plastificada, com um short florido e um biquíni branco que mal a cobre suficiente.

— Kat? É você mesmo?

Forço um sorriso educado.

— Pois é... Quanto tempo não é?

Ele assente.

— Sim... Bom essa é Chloe, minha namorada.

Ele passa as mãos pelas costas dela, e a garota sorri radiante. Sem nem tentar disfarçar o olhar avaliativo sobre mim.

— Prazer.. Este é Vinnie, meu... — as palavras se embolam de novo, trazendo um nó sem solução.

Antes que eu consiga terminar, Vinnie se levanta e aperta a mão de Anthony com um sorriso charmoso.

— Vinnie. Namorado dela —

Me levanto logo em seguida e cumprimento Chloe, que parece mal prestar atenção em mim.

— Podemos nos sentar com vocês? — Ela sugere com a voz aguda — Tipo encontro de casais, sabe?

Minha vontade de revirar os olhos e quase incontrolável.

— Claro! Sentem-se com a gente, né amor? — Vinnie diz e encaro-o vendo o sorriso torto com puro divertimento, mas assinto. Sei que ele fez isso pra me provocar.

Me sento ao lado dele, um sorriso forçado no rosto. Sinto sua mão pousar na minha coxa por baixo da mesa e, discretamente, aperto sua pele como um aviso.

Ele apenas se inclina ao meu ouvido e sussurra:

— Relaxa, Kat... Sou seu namorado, não sou?

Encaro ele com remorso e ele pisca acariciando minha coxa. Deus eu o odeio tanto.