II

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Billie sobe as escadas até o 5° andar do prédio. Passa pelas portas de madeira envernizadas, com algumas luminárias e lâmpadas nas paredes do corredor.

Chega até a porta de seu mais novo quarto. Enfia a chave na porta, arrasta suas bolsas para dentro e logo depois entra no quarto.

Pov Celia

Me levanto rápido ao ouvir um barulho alto. Me sento na cama, vejo 4 bolsas jogadas no chão do quarto, e uma garota de cabelo azul claro passar pela porta.

— Ah, oi. — Se vira para mim, me dando a visão de seus lindos olhos azuis. Meu deus, essa garota é muito bonita. Se vira de novo, e começa a juntar as bolsas no pé da outra cama.

— Qual o seu nome? — Pergunto vendo ela tirar uma espécie de violão pequeno da bolsa.

— William. E o seu? — Franzo o cenho ao ouvir sua resposta. William?

— Celia. — Continuo a observar a garota que agora guarda as roupas no armário.

— O que faz aqui, Celia? — Se senta na cama com o violão pequeno nas mãos.

— Eu tenho transtorno alimentar, minha mãe me colocou aqui. E você? —  Observo ela dedilhar o instrumento em suas mãos.

— Depressão, ansiedade, problemas com drogas, crises de raiva, de pânico e algumas outras coisas. — Ela suspira. —  Tirando tudo isso, eu tô ótima! — Levanta o rosto e sorri para mim.

E que sorriso lindo, mesmo sendo um melancólico.

— Entendi. Aqui acontece algumas festas clandestina às vezes. — Conto a ela, para puxar assunto, não sei ao certo oque dizer.

— Sério? — Levanta a cabeça e para de tocar.

— É, vai ter uma na sexta. —  Me deito na cama de novo. Ela dá um pulo da outra cama e vem até a minha.

— A gente vai, né? — Se senta do meu lado na cama, fazendo meu coração acelerar automaticamente.

— Eu não vou nessas festas. — Me ajeito na cama, tentando me afastar dela.

— Vamos, por favor! Eu acabei de chegar, não posso ir sozinha. — Fala me encarando. Seu rosto a centímetros do meu faz minha respiração falhar.

— Tá bom, eu te levo, mas só nessa. — Tento falar em um tom firme, já que essa proximidade dela está mexendo comigo. Ela sorri, aquele lindo sorriso de novo,  balança a cabeça e volta a tocar. — 11:45 a gente desce pro almoço. — Aviso. Ela só murmura um "uhum" e continua a tocar.

Pov Billie

Continuo a tocar melodias aleatórias no meu ukulele, sempre espiando o relógio para não perder a hora do almoço.

Por mas que eu só tenha ficado algumas minutos aqui, acho que não vai ser tão ruim como eu imaginava. Ou talvez seja.

Celia, minha nova colega de quarto com um nome de velha, dorme ao meu lado. Ela está imóvel e sua respiração calma.

A quanto tempo será que ela está aqui? Parece tão...confortável. Como se isso não fosse um tipo de "reabilitação" para jovens problemáticos, como eu.

Só não me jogam na reabilitação porquê eu ainda não tenho idade. Me pergunto como eu só tenho 16 e sou tão fodida assim. Eu tenho menos de 20 e já fiz tanta merda. Como será quando eu chegar nos 20? Se eu chegar lá.

De repente, um sino alto ecoa pelos corredores. Confiro o relógio, 11:45. Dou leves empurrões no ombro de Celia, que acorda meio assustada. Murmuro um "Vamos" e ela se levanta coçando os olhos.

Analiso Celia na cama. Ela tem um cabelo ondulado castanho na altura dos ombros, seus olhos são claros, não chegam a ser azuis como os meus, são meio cinzas. Ela é morena, com algumas sardinhas espalhadas em torno de seu nariz.

Celia se levanta e calça os chinelos. Saímos do quarto e eu sigo Celia, observando o caminho. Descemos todas as escadas, passamos por alguns corredores e salas, até chegar em uma porta dupla na qual Celia empurra, me dando visão de um grande refeitório, cheio de gente.

— Nossa...— Murmuro continuando a seguir Celia.

Eu pensei que as coisas aqui seriam assustadoras, mas não. São, de alguma forma, aconchegantes e com algumas coisas parecidas mesmo com a escola.

O refeitório é cheiroso, cheiro de desinfetante. De algum jeito, o cheiro da comida não se mistura com a dos produtos.

Celia pega duas bandejas, dando uma para mim. Caminhamos pelo corredor onde tem várias comidas espalhadas em panelas. Celia passa por todas, indo até uma espécie de "atendente".

— Celia! — Fala a mulher do outro lado ao ver Celia. Ela pega algo em baixo do balcão e entrega um pote e um prato embrulhado para Celia, que sorri, olha para mim e aponta com a cabeça para a mulher.

— Essa é a Lívia, ela cuida das comidas  "especiais", se é que me entende. — Balança a cabeça.

— Não entendi. — Lívia olha para mim, me olhando de cima a baixo.

— E você é quem? — Lívia pergunta com as sombracelhas franzidas.

— Billie Eilish. — Ela ergue as sombracelhas e murmura um "Ah", se volta para baixo do balcão de novo e de lá ela tira outro pote e um prato e me entrega. Agradeço, começando a andar em direção a uma mesa com Celia.

No pote está escrito: Vegano. E no prato, algo escrito em outro idioma.

— Você não tem amigos? — Pergunto a Celia que mexe na comida com o garfo.

— Não. — Responde sem me olhar. — O que é o seu "especial"? — Muda de assunto.

— Comida vegana. O que quer dizer com "especial"? —.Pergunto começando a comer.

— São os pratos feitos para veganos, pessoas com T.A, tipo eu, ou alguém que tenha alguma restrição alimentar. — Continua a mexer na comida. Intercalo meu olhar entre ela e o prato.

—.Não está com fome? — Ela nega suspirando. Sua expressão está triste e cansada, chutaria que ela está anêmica. Se ela tem T.A, comer para ela é difícil. — Vamos conversar, me diz algo sobre você. — Falo para tentar distrair ela e seja que tipos de pensamentos ela está tendo agora.

— Sabe, eu nunca tive uma relação muito boa com a comida, sempre que algo me decepcionava eu descontava tudo nela. Quando eu brigava com a minha mãe, eu parava de comer, passava dias sem comer dentro do meu quarto. Até que um dia, meu pai veio me visitar, ele viu meu estado e me levou para o hospital. — Ela suspira. — E lá, eu descobri que tinha distúrbio alimentar. Meu pai insistiu para minha mãe me colocar em um psicólogo, mas ela disse que aqui tem tudo que eu preciso. — Um nó se forma em minha garganta, Celia levanta o olhar para mim com os lábios pressionados uns contra os outros.

— Eu sinto muito, você é forte e sua mãe é uma cuzona. — Celia dá uma risada alta. — Não te conheço, mas tenho certeza que ela não te merece. — Volto a comer, Celia sorri e dá uma garfada em seu prato.

— E você, Billie. — Fala depois de um tempo em silêncio. — Me conta algo sobre você. — Dá outra garfada no prato.

— Minha mãe morreu, entrei em depressão e me viciei em drogas. — Resumo. Falar sobre a morte da minha mãe não é algo que eu queira falar, não agora. Ela só com a cabeça, como se entendesse que eu não quero falar sobre.

𝑴𝑬𝑵𝑻𝑨𝑳 𝑷𝑹𝑶𝑩𝑳𝑬𝑴𝑺 ☠︎☹︎ Onde histórias criam vida. Descubra agora