Não há sensação pior do que passar a adolescência se adequando a grupos aos quais você claramente não pertence. Felizmente alguns atravessam a fase aterrorizante da adolescência com êxito, mas devo dizer que, dentre mortos e feridos, sempre salvam-se todos.
Lux estava quase se salvando; ou melhor, todos achavam que ela estava, menos ela.
"Eu não quero. Eu definitivamente não quero e essa ideia é horrível, Katarina!" Lux balbuciou, mas sua voz era falha e aguda, muito mais aguda que o normal, tão aguda que faltava pouco para que se transformasse em um solene som ouvido apenas por animais ou algo do tipo. Era muito claro que ela estava sob uma grande carga de estresse e nervosismo, e as palmas de suas mãos suavam tanto que mal conseguia segurar seu próprio celular. "Acho que vou vomitar!"
"Não, nada de vômito. Você é uma mulher ou um rato?" Katarina interviu, posicionando a garota na frente de um espelho diante do qual podiam avaliar seus corpos dos pés à cabeça.
"Um rato, satisfeita? Será que a gente pode deixar isso pra' lá agora?" A garota continuou insistindo, seu celular escorregando por entre seus dedos suados, seus olhos arregalados, como se ela acabasse de ver um fantasma.
Era uma festa de Halloween, no fim das contas.
"Lux, vai ser legal! E além do mais, são só uns amassos, uns beijinhos, você não precisa se comprometer com ele nem nada assim. Se for ruim, vocês só fingem que isso não aconteceu." Katarina tentou acalmar os ânimos da loira que parecia escanear seu próprio quarto na mansão Stemmaguarda a procura de saídas de emergência.
Desde que Luxanna se entendia por gente, observava Katarina, que estava há anos namorando seu irmão mais velho, Garen. Provavelmente por isso, a relação de ambas era mais do que amistosa, algo quase fraternal porque, no fim das contas, uma irmã de consideração é tudo que uma adolescente perdida precisa às vezes.
"Eu beijei uma vez e foi horrível! Além de lembrar exatamente como aquele garoto rangeu os dentes contra os meus, nunca esqueci de como ele babou minha cara inteira. Tenho pesadelos com isso até hoje." Lux insistiu, e ela claramente não mudaria de opinião hoje. Ao menos não sem uma ajudinha.
A mansão Stemmaguarda estava cheia, cheia de verdade, abarrotada de gente abastada que não tinha propósitos decentes nos quais investir dinheiro e de seus respectivos filhos, adolescentes desviados e de caráter duvidoso, ricos apenas de dinheiro, pobres de moralidade e por fim, para terminar de tumultuar o local, estavam os oprimidos pela elite, a exceção, é claro, os amigos mais chegados da caçula da família de ricaços.
Katarina e a assustada Luxanna estavam no quarto desta segunda, e a conversa sobre como os amigos da loira haviam lhe arrumado um menino "bonitinho" para beijar durante a festa de halloween estava acontecendo há pelo menos meia hora, como um loop que sempre voltava ao ponto do dilema: Lux nunca disse que queria beijar aquele tal garoto. Ela sequer sabia qual babaca da escola deveria ser.
Fosse quem fosse, ela não estava disposta.
"Bom, você quem sabe. Se quiser, ele vai estar no jardim mais tarde, acho que o Garen disse que vocês deviam se encontrar lá às onze e pouca, antes do discurso da meia noite." Katarina murmurou, meio contrariada, vendo que a loira havia mais uma vez optado por manter-se fora da diversão. "Você vai ao menos ficar com a gente lá no salão? Não é como se seus pais precisassem de você hoje..."
"Não precisam, mas podem preci-"
"Não vão precisar, Lux! Você vem com a gente."
Katarina não deu opção, não mais. É meio deprimente ficar agarrado ao papai e à mamãe durante uma das maiores festas da família enquanto todos os outros da sua idade se divertem como se não devessem nada a ninguém; muitos deles não deviam mesmo.
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It's Halloween, and we can be anything.
Roman d'amourLuxanna nunca soube o que quis, nem quem era, muito menos do que gostava. Depois de falhar na sua introdução ao mundo dos adolescentes da elite à qual pertencia durante uma festa de halloween, Lux conhece Jinx, uma garota que talvez possa lhe ajudar...