A Little Love

Stay with me...

Correr. Correr sem parar. Sem olhar para onde ia.

E por isso mesmo é que já era tarde demais quando Reki percebeu o carro a vir em direção dele.

O engraçado, pensou ele, é que na sua mente repetia a discussão forte que tinha tido com Langa, e não os momentos felizes que tiveram...

-És exatamente igual a ele! És igual ao Adam! Um egoísta idiota.-Reki disse e virou costas.

-Reki por favor... Eu sei que menti mas... Eu tenho de fazer isto.-Langa disse com um sorriso no rosto e colocou-se à frente do rapaz- E eu quero o teu apoio...

-Eu... Não te conheço...-o rapaz respondeu triste, mas logo regressou à expressão irritada de antes e arrancou o braço das mãos do outro.-Era melhor se nunca nos tivessemos conhecido!

Reki agarrou o skate com força e começou a correr com a chuva forte a pingar pelo seu corpo e a misturar-se com as lágrimas salgadasem seu rosto.

Estava no meio de uma estrada quando percebeu as luzes ofuscantes na sua direção. Tentou dar passos para trás, mas escorregou na água do chão e caiu. A única coisa que lhe restava era proteger-se com os braços, coisa que fez.

O condutor tentou travar porém a chuva torrencial apenas fez com que o carro se despistasse e bate-se contra o rapaz.

Não passava muito da meia noite quando a ambulância chegou ao local.

Langa estava em casa. Tinha acabado de sair do banho quente que tinha tomado para evitar ficar doente. Assim que pegou no pijama, ouviu o telemóvel tocar.

O número era desconhecido e era tarde por isso apenas desligou a chamada, ao pensar que era spam.

Porém quando o número se iluminou novamente na tela o rapaz de cabelos azuis viu-se obrigado a atender. Sorriu ao reconhecer a voz da mãe de Reki do outro lado da linha, mas logo o sorriso foi tomado por desespero.

Tudo parecia em câmera lenta.

-O Reki...-ouvia-se a voz chorosa da pobre senhora.- Foi atropelado...

Langa paralisou. Sentiu o seu coração destroçar como só tinha sentido uma vez na vida: quando perdeu o pai.

Não podia perder Reki também. Não lhe podiam retirar a única luz da sua vida. Não era justo!

Acordou a mãe depois de vestir o pijama às três pancadas, esta que se assustou ao ver o medo do filho.

Langa não conseguia falar. Apenas dizia o nome do hospital e que tinham de ir.

A mulher não entendi nada do que o filho dizia, mas percebia a sua angústia e por essa razão pegou nas chaves e dirigiu até ao hospital.

Assim que chegaram Langa correu até ao quarto que a mãe do de cabelos vermelhos disse.

Viu a senhora encostada à cama do filho, a segurar a sua mão com firmeza. Estava de rastos. Os cabelos no ar, olheiras fortes e os olhos inchados de chorar. Além de estar pálida e cabisbaixa.

As duas mães ficaram no corredor a falar sobre o acontecido, enquanto Langa olhava o amigo, paralisado na cama.

Parecia tão calmo e sereno. Tinha os olhos fechados e a boca relaxada e entreaberta. Mas o seu braço estava partido, a cabeça enfaixada, o pescoço com curativos e o rosto cheio de hematomas.

Era impossível. Uma mentira mal contada. Reki ia se levantar daquela cama e rir. E Langa iria abraçá-lo e tirar-lhe a maquilhagem da cara.

Era impossível! Eles tinham falado há menos de duas horas.

Langa não soube quando é que passou de estar em pé, chocado, para de joelhos a chorar, à beira de Reki a agarrá-lo com força.

-Todos menos ele... Por favor!-ele implorava para o ar.-Tudo o que eu peço é que ele acorde. Ele tem de acordar bem!

Mas a verdade, é que Reki não acordou. Bem, pelo menos não no mês que se seguiu.

Mesmo assim, Langa visitava-o todos os dias. Claro que Cherry, Joe, Miya e Shadow também lá estavam, mas o de cabelos azuis passava todos os tempos livres e noites no hospital.

Chegou ao ponto dos enfermeiros colocarem uma cama provisória no quarto do rapaz, para que Langa lá dormisse.

Este também trazia sempre flores novas, pois sabia o quanto o cheiro a natureza alegrava o rapaz.

Era lá que Langa estudava, comia, lia, via televisão... A sua vida era feita no hospital, à beira do seu melhor amigo.

Mas também competia. Competia numa forma de descontar os sentimentos que prendiam na sua garganta e formavam um nó doloroso.

Era quinta feira à tarde, logo após as aulas, quando Langa entrou no quarto e fez um carinho no rosto de Reki.

-Hoje não tenho muito o que te contar...-ele começou a contar o próprio dia ao rapaz desacordado, hábito que tinha ganho durante aquele tempo- O Miya esteve aqui, pelos vistos deitou-se contigo e ficou a ver um filme. O Cherry... Está no piso acima, teve um  acidente na pista. O Joe diz que vai dar em doido e que se vir o Adam o vai matar...-os olhos azuis lacrimejaram e logo desabaram em lágrimas- Reki por favor...Todos precisamos, as tuas irmãs, a tua mãe... Eu! Eu preciso de ti. Desculpa pelo que eu disse, por favor acorda! Eu prometo que saio da tua vida se esse for o teu desejo! Podes te esquecer totalmente de mim mas eu preciso que acordes! Preciso de saber que estás feliz e bem!

As lágrimas eram tantas que molhavam a camisola do rapaz. Este que se deitou abraçado a Reki, com muito cuidado para não o magoar.

Depois de uma hora a chorar, finalmente conseguiu adormecer, a sentir o carinho tão distante do amigo.

Era madrugada quando Langa acordou com movimentos em baixo de si. Quando abriu os olhos, era milagre! Viu os olhos brilhantes do de cabelos vermelhos pestanejarem várias vezes até finalmente abrirem...

O sorriso que se fez nos seus lábios rasgava o seu rosto de lado a lado. Gritou de empolgação e abraçou o outro rapaz.

-Ele acordou!-gritou para a mãe de Reki, que estava no corredor e abriu a porta com entusiasmo.

Abraçou e beijou o filho durante quase cinco minutos, a chorar de felicidade. Reki sorriu pela mãe, mas olhou para o rapaz alto que agora estava animado e em pé, a olhá-lo. Ele conhecia-o, sabia quem era. Tinha ouvido a voz dele durante um mês inteiro.

Mas não fazia a mínima ideia de quem era...

-Quem...quem és tu?-foram as primeiras palavras que saíram da sua boca, dirigidas diretamente a Langa, cujo sorriso murchou imediatamente.