A/N: Essa é uma ideia bobinha que eu tive um dia desses e me empolguei pra escrever. Dose fofa de yeonbin a seguir <3
"Ve-ne-no. Impressionante, não é? Diria que até um pouco dramático."
"Não, hyung. Nada de mortes, por favor, de triste já basta a vida! A não ser que você esteja querendo ficar em último lugar nesse seu concurso."
"Por que não, Soobin? Seria, tipo, um elemento surpresa. Ninguém espera que o herói morra no final."
"Eu juro que se você matar o personagem inspirado em mim eu nunca mais vou te ajudar com suas histórias mirabolantes."
Um suspiro. Yeonjun larga o lápis sobre a mesa, erguendo a cabeça para encarar os um metro e oitenta de Soobin a seu lado, evidenciados sobretudo pelo fato de ele estar de pé, com as mãos e a base da coluna apoiadas na mesa, enquanto Yeonjun permanece sentado, quase amassando a folha de caderno que jaz na superfície de madeira.
Já faz duas semanas que Yeonjun tenta escrever. Os conselhos e opiniões de Soobin são um bônus durante o processo. A vontade veio de um concurso de contos, coisa simples - ele viu na internet por acaso. Longe de ser alguém com grande experiência no universo da prosa, Yeonjun resolve arriscar mesmo assim, com seu pouco repertório de letras de músicas rascunhadas em bloquinhos de notas. Talvez aí que a opinião de seu melhor amigo ganhe mais valor, além de secretamente ser um incentivo extra; tudo é diferente quando sabe que há alguém esperando para ler suas palavras.
De início, sua mente sintetiza um clichê, bem do tipo daqueles filmes de super-herói nos quais é tão fissurado (até vestiu sua camisa do homem-aranha como motivação, por mais que a peça nada tenha de charmosa. O importante é o valor sentimental), quiçá também um tanto influenciado pelos animes shounen que Soobin tanto gosta e o força a assistir nos dias de tédio - Yeonjun faz drama, implica, mas no fim começou até a achar alguns... maneiros. E assim segue com a fórmula completa: tem um herói, um vilão, uma cidade em apuros e a esperança dum final feliz.
Algo ainda parece errado, no entanto.
"Não sei se isso vai dar certo", ele declara, descansando os próprios cotovelos na mesa. Admira a figura de Soobin enquanto aguarda uma resposta - ele não olha para Yeonjun, e sim para todo outro canto da mesa.
Demora o olhar sobre as canetinhas coloridas espalhadas por cima do caderno fechado, de onde arrancou a folha. Concentra-se por uma brevidade na torre Eiffel de lego que Yeonjun ganhou de presente no outono passado. Olha com um tanto de carinho para o LP bem acomodado próximo à janela, bem como para a pilha de discos logo ao lado (cinco ou seis destes foram dados pelo próprio Soobin, uma doce lembrança).
"Você... já pensou em tentar algo diferente? Não diferente tipo ninguém-nunca-fez-isso-antes, mas só... diferente do que você geralmente tenta? Mas ao mesmo tempo familiar? Não sei se faz sentido", ele sugere, inconscientemente mordendo o próprio lábio inferior. "Não sei explicar as coisas direito."
Em resposta, Yeonjun suspira mais uma vez, passando uma mão nos próprios cabelos escuros, um velho hábito. Tinha decidido deixar crescer desde o inverno, mas agora, com o verão quase batendo à porta, sente uma grande vontade de cortar. Anseia por mudança.
"Talvez", Soobin se afasta da mesa para pôr uma mão sobre o ombro de Yeonjun. Um, dois, três apertos firmes, e Yeonjun percebe o corpo relaxar. "Talvez se você pensar nas letras... Você já escreveu músicas de amor, né? Todo mundo gosta de histórias de amor. Você pode transformar uma das suas músicas em conto."
"Mantendo os mesmos personagens?", Yeonjun pergunta, considerando. Não é uma ideia tão ruim na verdade. A parte mais difícil sempre é convencer o leitor ou ouvinte a acreditar naquilo que está lendo ou escutando. Isso é uma preocupação que suas duas maneiras de fazer arte possuem em comum.
É tardinha - os raios de sol não adentram diretamente o quarto devido à atual posição do astro-rei, mas Soobin convence a si mesmo de que o calor é a razão para sentir o próprio rosto esquentar de repente.
"Se você quiser", ele diz devagar, atentando-se para os mínimos detalhes da reação de Yeonjun. Diferente de antes, agora seu foco total é nele, a despeito da vermelhidão que colore suas bochechas. Não se esconde. Pelo contrário. "Pode imaginar como seria se você e eu estivéssemos apaixonados."
"Pra mim é mais fácil trabalhar com imagens de pessoas do mundo real. Parece mais... vivo, sabe?" Yeonjun apoia o queixo entre um indicador e um polegar. Não parece contrário e tampouco ofendido pela ideia, o que para Soobin é uma imensa vitória. "E, honestamente, acho que seria muito fácil pensar num mundo onde eu me apaixonasse por você."
"É...?" A voz de Soobin falha por um instante devido à surpresa. A mão que mantém no ombro de Yeonjun desliza por acidente, e de maneira súbita, ele não sabe mais o que fazer com os próprios braços, com o próprio corpo. Só os pés permanecem sustentando toda a massa corporal, incluindo a multitude de palavras engasgadas.
"Sim. Por mais que me doa dizer isso, você tem muitas qualidades." Yeonjun dá um daqueles sorrisos, tão sinceros que Soobin não consegue fazer qualquer coisa senão contemplar, registrar, guardar cada nanossegundo daquele momento. "Acho que se eu me apaixonasse por você, seria muito natural. Provavelmente eu só ia reparar depois de um tempão, porque não sei analisar muito bem meus sentimentos. Nisso acho que você me vence."
"Com certeza." Um pigarro, e então é a vez de Soobin de sorrir, algo delicado. "Mas tenho certeza que você ia querer compensar o tempo perdido, hyung. A gente ia passar a ter encontros quase toda semana."
"Até sei pra onde eu te levaria na primeira vez! O Taehyunie me contou de um café muito bom que ele descobriu...", Yeonjun acrescenta. "Eu ia te encher de doces."
"Eu ficaria muito feliz." Os dedos de Soobin de alguma forma encontram os de Yeonjun pela mesa, e enfim parece certo. A carícia no dorso da mão é suave, algo sem urgência. "E tiraria muitas fotos."
De certa forma, sempre foram Soobin e Yeonjun, Yeonjun e Soobin. Tal como raízes fincadas num solo firme. Cenários como esse - tardinha, lado a lado, o tempo passando sem que sequer se dessem conta - estão dentro do natural. É natural. Às vezes, Yeonjun tem alguma composição nova para mostrar. Em ocasiões um tanto mais raras, Soobin arrisca tentar tocar algumas das músicas no violão, como maneira de testar seu progresso nas aulas com Beomgyu que começou recentemente.
"Tem uma música que eu escrevi... não é definitivo, mas eu tava pensando em dar o título Os três lados da mesma moeda." Yeonjun fecha os olhos enquanto diz. Ainda sorri. "É sobre um sentimento que combina muito com um dia assim."
"Mas, hyung, moedas só têm dois lados..."
"Soobin-ah, você já ouviu falar em metáforas?" Ele abre os olhos de repente, franzindo o cenho. Apesar disso, permite que o leve carinho em sua mão continue. "Pode ser uma história sobre esse terceiro lado, por mais clichê que seja. Um lado romântico. Um lado seguro. Tão seguro quanto eu percebendo que te amo, nosso encontro, as fotos, você me dando um beijo de despedida quando eu te deixo na porta de sua casa."
O peito de Soobin se enche de ar e mais algumas sensações intrusas. Não consegue deixar de encarar Yeonjun, e por um tempo permanecem assim, olho no olho. Vê ali um calor muito maior do que aquele projetado pelo sol. Vê mil constelações e muito mais. Vê a si mesmo, e de repente, sente-se inundado. Yeonjun sempre foi bom com as palavras, tudo o que Soobin não é.
Mas no fim é Soobin quem primeiro age. Segura uma das bochechas de Yeonjun de maneira tão tenra, como quem tem em mãos algo delicado. Aproxima-se devagar e com igual ternura afasta os fios de cabelo da testa alheia para ali deixar um demorado beijo, contendo tudo aquilo que quer dizer.
Yeonjun fecha os olhos, e a julgar pelo sorriso com o qual Soobin se depara assim que se afasta, ele entende perfeitamente.
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Os três lados da mesma moeda ♡ yeonbin
FanfictionJá faz duas semanas que Yeonjun tenta escrever. Os conselhos e opiniões de Soobin são um bônus durante o processo.