Esse lugar não é pra mim

1.2K 168 17
                                    

POV VALENTINA

Sai daquela sala cuspindo fogo, esse lugar não é pra mim, cheio de gente esnobe, metidos e que se acham melhores do que todo mundo. Eu preciso achar um meio de me livrar disso e da minha mãe, eu não aguento mais e isso foi só o primeiro dia.

Sentei embaixo de uma das árvores e novamente deixei algumas lágrimas rolarem, mandei uma SMS para o meu pai, mas sabia que ele só responderia mais tarde, pelo fuso horário. Continuei ali pensando em minha vida, quando uma voz suave começou a recitar um monólogo.

"Aproveita o dia!
Não deixes que termine sem teres crescido um pouco.
Sem teres sido feliz, sem teres alimentado teus sonhos.
Não te deixes vencer pelo desalento.
Não permitas que alguém te negue o direito de expressar-te, que é quase um dever.
Não abandones tua ânsia de fazer de tua vida algo extraordinário.

-Nossa, que leitura linda. – Me aproximei devagar e a garota se assustou. – Me desculpe, não queria te assustar.

-Tá tudo bem, obrigada. – Ela tinha um livro roxo no colo e uma caixinha de som apoiada em cima. – Estou tentando decorar esse monólogo, essa é só uma parte.

-Eu gostei, e gostaria de ouvi-lo inteiro. – Ela sorriu e eu estendi minha mão pra ela. – Me chamo Valentina.

-Eduarda, mas me chame só de Duda. – Pela primeira vez no dia, alguém estava sendo simpático comigo além da senhorinha do banheiro. – Você é nova por aqui?

-Sim, sou do curso de moda. – Suspirei e me sentei ao lado dela. – Você faz teatro, né?

-Moda? Cadê as Pradas e Versace? – Ela disse com um sorriso maroto nos lábios. – Brincadeira, não entendo como esse povo arruma tempo pra se produzir tanto.

-Também não entendo, e pode ter certeza que estou aqui contra a minha vontade. – Dei os ombros e ela continuou anotando algo no caderno.

-Deve ser super chato então, mas por que você está aqui contra sua vontade? – Ela perguntou e eu sentia que podia contar para ela um pouco da minha vida.

-Você já viu alguém dizer não para Malvina Albuquerque? – Ela largou o lápis e me encarou surpresa. – Pois é, nem mesmo a filha dela consegue.

-Peraí, você é filha da Malvina? – Balancei a cabeça em afirmação. – Sinto muito por você, quer dizer, deve ser péssimo viver em um regime totalitário.

-Esse é o ponto, obrigado por me entender. – Duda era uma figura, passamos alguns bons minutos conversando e até trocamos nossos "MSN".

-Valen, eu preciso ir. – Ela se levantou e eu pude constatar o quão baixinha ela era. – Preciso encontrar minha amiga, que está muito atrasada, por sinal.

-Tudo bem, também preciso ir, Malvina me espera em seu atelier, preciso tecer algodão. – Duda gargalhou e me puxou para um abraço. – Prazer em te conhecer, Dudinha.

-Nos vemos por ai Marrenta. –Sorri com o novo apelido e vi ela se aproximar da garota que me chamou de bolsista mais cedo. 

A garota mais alta parecia aflita, mas não me importei, pessoas esnobes como ela, eu estava correndo. O que me espantava era Duda ser amiga dela, uma pessoa tão legal precisava de amizades melhores. Me livrei dos meus pensamentos e fui até o banheiro.

-Oi de novo. – A mulher que conversou comigo mais cedo ainda estava lá, novamente limpando o chão.

-Olá, está melhor? – Ela perguntou sorrindo.

-Não, só vou melhorar em Londres, longe da minha mãe e de toda essa coisa fútil. – Ela balançou a cabeça. – Esse lugar não é pra mim, cheio de gente arrogante e esnobe.

-Isso é verdade, aqui tem um monte. – Ela retomou sua atividade e eu me sentei na pia.

-Eles nem me conhecem, e já me julgaram pela minha roupa. – Falei indignada e me lembrei que nem tinha perguntado o nome da pobre mulher. – Isso me lembrou que nem ao menos perguntei qual o seu nome.

-É Sônia, meu bem, mas pode me chamar de Soninha. – Ela disse alegre. – E o seu?

-É Valentina, mas pode me chamar de Valen. — Respondi e ela estendi a mão pra ela. –Soninha, você sabe me informar onde eu pego um ônibus por aqui?

-Logo ali na frente tem um ponto de ônibus minha filha. – Ela me falou como eu chegava até lá e ainda me ensinou como eu chegava ao centro.

-Obrigado de novo, e até amanhã Soninha. – Me despedi novamente com um abraço e senti alguém pigarreando atrás de nós. – E se alguém te destratar aqui, pode falar comigo, tá?

Encarei a garota de olhos expressivos e sai apressada daquele banheiro.

______________________________________________

Quero saber o que a Luíza vai achar dessa amizade, volto logo

Whitou me (VaLu Version)Onde histórias criam vida. Descubra agora