O diagnóstico

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O som de uma pancada atinge meus ouvidos e eu abro os olhos no mesmo instante, assustada.

- Ah, finalmente.

Olho ao meu redor, confusa. Ainda estou no plantão, são 17:00, Josie está do meu lado com a mão na boca para conter o riso.

- O que aconteceu? - pergunto apoiando o rosto nas mãos.

- Você dormiu por uns 20 minutos.

Que vergonha.

- Alguém me viu?

- Não. Só eu e Dan - disse Josie, passando a mão nas minhas costas.

Bom, menos mal. Se alguém que não fosse eles tivesse me visto dormindo na frente do computador, eu com certeza teria levado uma advertência e seria o assunto do hospital.

Josie carrega sua bandeja com seringas cheias de remédio para o quarto onde Garrett está e é aí que entro em pânico e me levanto, indo com ela até o quarto. Eu estava prestes a golpear o pai idiota do garoto quando acordei, mas e se eu realmente tiver golpeado e não sei mais o que é sonho ou realidade?

Assim que chego ao quarto, um alívio me faz respirar de novo. O homem está em perfeito estado, infelizmente.

Antes do plantão acabar, passo novamente em todos os quartos, checando os pacientes. Quando chego no de Garrett outra vez, percebo que seu pai não está alí, as chaves do carro e a carteira não estão na mesinha de canto, o que me faz pensar que ele deixou o garoto alí sozinho.

- De 0 a 10, como está a sua dor, Garrett? - pergunto ao garoto.

- 6, tá melhorando...um pouco.

- Certo, logo vai diminuir - digo, para confortá-lo - Quer que eu chame alguém pra ficar com você?

- Não tenho mais ninguém além do meu pai, ele disse que já volta.

Droga. Pobre garoto, sozinho com um pai como esse.

- Está bem. Se precisar de algo é só tocar a campainha.

Com um sorriso gentil, dou as costas a ele e volto para o posto de enfermagem, esperando a enfermeira da noite chegar. Louis se aproxima de mim sorrateiramente e sei que vai me contar alguma coisa sórdida, ele sempre faz isso.

- Ouvi o pai do garoto falando ao telefone com uma mulher, disse que estava indo encontrar com ela - sussurrou meu colega.

Então o babaca largou o filho no hospital para ver uma mulher.

- Pode ficar de olho no garoto, por mim?

- Claro, Chloe.

Agradeço com um sorriso. Assim que vejo a enfermeira da noite, passo o plantão para ela e finalmente posso ir para casa.

Chego no meu apartamento no térreo e sinto o telefone vibrar no bolso. Não vejo quem é, nem atendo. A julgar pelo dia do mês em que estamos já sei quem está me ligando e porquê.

Jogo a bolsa no sofá e vou direto para o banheiro, tiro a roupa com cheiro de hospital e me enfio debaixo do chuveiro quente. A água é uma benção para meus músculos doloridos, pela primeira vez no dia me sinto relaxada. Até que o telefone toca outra vez.

Me enrolo numa toalha e atendo a maldita chamada.

- Alô.

- Até que enfim! Chloe Miller fez o favor de atender sua própria mãe. Perdeu um braço fazendo isso?

Meus olhos se reviram no instante em que ouço a voz de minha mãe fazendo o mesmo drama de sempre.

- Do que está precisando agora? Um secador de cabelos novo? Uma televisão? Ou o aluguel da sua casa? - digo logo, sem a mínima paciência para seus joguinhos.

ShadowheartOnde histórias criam vida. Descubra agora