ARRASTEI-ME MAIS PARA DENTRO da casa da árvore. Era um cubículo de um metro e meio por um metro e meio; nem mesmo Alex podia ficar em pé lá dentro. Mas eu amava aquela casa. Tinha uma entrada pela qual só se passava agachado e uma janela minúscula na parede oposta. Havia uma banqueta velha em um dos cantos para servir de suporte para a vela, e um carpete tão gasto que era quase o mesmo que sentar diretamente na madeira. Não era muita coisa, mas era o meu paraíso. Nosso paraíso.
— Por favor, não me chame de linda. Primeiro minha mãe, depois Nour e agora você. Isso está me dando nos nervos.
Pelo jeito que Noah me olhava, notei que minhas palavras não me deixavam mais feia. Ele sorriu.
— Não consigo evitar. Você é a coisa mais linda que já vi na vida. Não me condene por dizer isso quando posso.
Ele segurou meu rosto com as mãos, e eu olhei bem fundo em seus olhos.
Foi o suficiente. Seus lábios tocaram os meus, e eu não consegui pensar em mais nada. Não havia Seleção, família pobre ou Illéa. Havia apenas as mãos de Noah nas minhas costas, puxando-me mais para perto; a respiração dele no meu rosto. Minhas mãos passaram por seus cabelos castanhos, ainda úmidos do banho — ele sempre tomava banho à noite —, e se uniram em um nó perfeito. Noah cheirava ao sabonete que a mãe dele fazia. Eu sonhava com aquele cheiro. Nós nos afastamos, e eu não consegui esconder um sorriso.
As pernas dele estavam bem abertas. Sentei-me no meio delas, como uma criança que pede colo.
— Desculpe, não estou de bom humor hoje. É que... nós recebemos aquele aviso idiota pelo correio.
— Ah, sim, a carta — suspirou Noah. — A gente recebeu duas.
Claro. As gêmeas tinham acabado de fazer dezesseis anos.
Enquanto falava, ele observava cada detalhe do meu rosto. Noah fazia isso quando estávamos juntos, como se quisesse fixar uma vez mais meu rosto em sua memória. Já fazia uma semana, e uns poucos dias sem nos encontrar bastavam para deixar os dois ansiosos.
Eu também o observava. Noah era o garoto mais bonito da cidade, de todas as castas. Ele era moreno, tinha olhos verdes e um sorriso que fazia você pensar que ele estava escondendo alguma coisa. Era alto, mas não alto demais. Magro, mas não magro demais. A luz fraca revelava pequenas olheiras; com certeza ele tinha trabalhado até tarde a semana inteira. Sua camiseta preta estava gasta, assim como o jeans surrado que ele usava quase todos os dias.
Se eu pudesse pelo menos me sentar e costurar sua roupa... Era isso que eu queria. Não queria ser a princesa de Illéa. Queria ser a princesa de Noah.
Doía ficar longe dele. Alguns dias eu ficava maluca tentando imaginar o que ele estaria fazendo. Quando não aguentava mais, praticava música. Eu devia agradecer Noah por ser a musicista que era. Ele me levava à loucura.
E isso era ruim.
Noah era um Seis. Eles trabalhavam como ajudantes e estavam apenas um degrau acima dos Sete, porque tinham uma educação melhor e aprendiam a trabalhar em ambientes fechados. Noah era mais inteligente do que qualquer pessoa que eu conhecia e era muito bonito, mas dificilmente uma mulher se casava com alguém de uma casta mais baixa. Um homem de casta inferior podia até pedir sua mão, mas raramente recebia um "sim" como resposta. E, quando pessoas de castas diferentes se casavam, tinham que preencher um monte de papelada e esperar uns noventa dias para poder tomar as outras medidas legais necessárias. Já ouvi mais de uma pessoa dizer que essa burocracia pretendia dar ao casal a chance de mudar de ideia. Assim, essa intimidade bem depois do toque de recolher de Illéa poderia nos meter em um problema sério. Isso sem falar no quanto minha mãe me infernizaria se soubesse.
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A Seleção - Beauany
Romance"Não queria ser da realeza. Não queria ser Um. Não queria nem tentar." Para trinta e cinco garotas, a Seleção é a chance de uma vida. Num futuro em que os Estados Unidos deram lugar ao Estado Americano da China, e mais recentemente a Illéa, um paí...