A libélula liberta

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A libélula liberta delonga o volar, vagueia esperta pelas paredes frígidas, alvas, cruas. Pausa assertivamente sobre a sombra da mais bela janela, ampla, de vista esplêndida, magnânima! Oh, aquela vista transformaria qualquer futurista admirador de máquinas e fumaça em um romântico enamorado da Natureza tal qual Goethe. As árvores se dispunham avolumada, densamente numa harmonia que nenhum Beethoven seria capaz de compor, que nenhum José de Alencar poderia descrever. Derramavam-se as folhas secas pelos caminhos com a paz de quem aceita o destino sem questionar, fiando-se completamente no cosmos. Uma cachoeira despontava ao fundo da vista, sobre as elevações augustas, cascateando com graça, serpenteando consciente de sua majestosa presença, sem pedir licença. A libélula, porém, de costas para a vista, contentava-se em observar as sombras do balançar das folhas, do serpentear das águas, pela gélida superfície branca. Não sabia que os farfalhares e chilreares lhe podiam ser acessíveis. Bastava que, num ato de coragem, abandonasse o conforto desconfortável do conhecido.

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