Capítulo V

149 26 3
                                    

O silêncio que abriu caminho logo depois das palavras de Neytiri foi agoniante e intolerável. Sua pesada respiração se misturava com os grunhidos e clamores de raiva que os demais Na'vis emitiam ao compartilhar a dor. Em minha cabeça só se repetía a palavra morte. Me recusei a pensar que o que dizia era verdade. Sequer era possível?

Não. Não é. Ele não pode estar morto

Neguei, com os olhos de Ar'yen subindo até mim. Observei a cada um dali, confirmando que nenhum parecia ter indícios em sua expressão de que a mulher estivesse incorreta. Kiri me contemplou confusa, me pedindo uma explicação silenciosa

— Isso é impossível. Ele não pode estar morto

— Foi assassinado pela RDA faz meses

— Não. Vocês não entendem — voltei a negar com a cabeça — Ele não...

— Não tem maneira de que conheça o Neteyam. Eles devem ter te falado sobre ele — Lo'ak se aproximou, com a mandíbula tensa — O que é que você quer?

— Vem para um Clã ao que não pertence, é parte daqueles que se aliaram aos demônios, assegura uma antiga crença e a conecta com alguém que seguimos em luto

Ronal se aproximou, coloca do uma mão no ombro de Neytiri ao ver que ela parecia a ponto de perder o controle, igual de preso que as lágrimas em seus olhos. Não me sentia assustada de que começassem a tirar suas lanças, me sentia assustada de tudo o que vi até nesse momento em meus sonhos. Eu estive com ele

Neteyam me buscou

Ainda quando por dentro tudo queimava, não mudei minha postura tranquila; minhas feições continuaram neutras e minha respiração, a qual me custou mais, se manteve quieta

— Neteyam veio até mim — sussurrei — Foi ele quem apareceu qua do fiz o ritual para encontrar o fôlego do meu antepassado. É ele quem o carrega. O vi em sonhos. Ele falou comigo. É impossível que esteja...

Não pude continuar, pois as palavras que me disse o rapaz a última vez chegaram a minha mente: "Não pode acabar com o que já foi apagado". Um morto que renasce em outro. Algo estava errado em tudo isso

Toquei em meu peito, tentando encontrar aquela voz que sempre me fazia companhia, mas justo agora não estava. Minha irmã acariciou meus dedos em busca de atenção, mas não podiam dá-la, não quando a confusão entrava por cada poro do meu corpo

— Está aqui? Seu corpo está aqui? — não recebi respostas além de olhares perplexos e de ira

— Não podemos deixar ela ir, não estamos certos se é uma armadilha. Mas se é assim, a teríamos para usar como fraqueza de Varang — Jake me deu as costas, começando a falar com Tonowari

— Também não podemos ter-la no Clã, não é seguro, principalmente com a habilidade que carrega

— A central. A central que Norm construiu perto daqui, lá podem manter ela presa

Comecei a sentir a respiração em meus ouvidos igual as batidas do meu coração. Com as vozes dos demais e os chamados de minha irmã, o barulho do meu interior se acrescentou. Em algum ponto senti que me agarraram pelos braços e partes do meu tronco para me imobilizar de forma com que eu não pudesse fazer nada. Embora pudesse sim, mas não quis. Me encontrava o suficientemente perturbada e alheia como para sequer fazer a tentativa de para-los

Os gritos de Ar’yen retumbaram ao longe. Lentamente dirigi o olhar para ela

— É só uma criança, mãe. Olha pra ela, está assustada — Kiri apontou para a pequena do Clã das Cinzas que se retorcia nos braços de mulheres Metkayina — Não a prenda

NÜ'RIEL (Neteyam x Oc)Onde histórias criam vida. Descubra agora