Você é a música em mim

Infinito Particular

"Eis o melhor e o pior de mim
O meu termômetro, o meu quilate"

Rachel Sheherazade era um dos nomes mais conhecidos dentro do show business, o que ela moldava virava sucesso, era o nome por trás de grandes carreiras dentro do mundo do entretenimento Nacional. Seu nome além de sinônimo de sucesso era também sinônimo de exigência, para ser o melhor tem que se esforçar, era isso que ela exigia de todos que haviam sido moldados, ensinados, preparados e lançados por ela.

No entanto nos últimos tempos ela havia ignorando qualquer novo talento que seus olhos pudessem ver, deixava com que sua agência e funcionários trabalhassem em cima de novatos a espera de um lugar ao sol e ela apenas se dedicava a administrar o escritório e sua desastrosa vida familiar. Aos quarenta e sete anos ela havia acabado de sair de um casamento onde amargou uma traição e se viu sozinha tendo que cuidar dos filhos. Pedro, era um tímido menino de dez anos de idade. Manoela, de treze anos, era uma mini copia da mãe, exigente, segura e inteligente.

- Rachel, você precisa conhecer essa moça --- André tentava pela milésima vez naquela semana despertar o espírito motivador em sua amiga. Rachel por sua vez não tinha a mínima vontade de conhecer ninguém, era exaustivo moldar alguém para o mercado, isso havia levado longos anos de sua vida e destruído grande parte da sua vida pessoa.

- Rachel, você está me ouvindo? --- André não tinha certeza se estava se fazendo ser ouvido, pois Rachel não desviou o olho do notebook desde o momento que ele havia falado com ela que descobriu um diamante já quase lapidado para jogar no mercado.

- Não sou surda --- Ela falou zero simpática.

- Então está me ignorando de propósito --- Ele disse em voz alta.

- Exato, eu não sou surda, você não é burro --- Rachel se levantou da cadeira de couro branco, a aparência jovial mascarava que aquela mulher logo teria cinquenta anos e carregava consigo uma vasta experiência de vida --- André, você como um dos meus melhores amigos sabe que não vou mais trabalhar assim, não vou mais me dedicar a um nome, não tenho mais idade pra abdicar da minha própria vida e viver vidas alheias. Pedro está em uma fase complicada, ele está entrando na puberdade e se sentindo um menino estranho e tímido, cada vez mais isolado no quarto jogando jogos online e falando com desconhecidos em rede, já Manoela --- Rachel fez uma pausa e abriu sua garrafa de água sorvendo um pouco do liquido e hidratando a garganta --- Manoela está cada dia mais parecida comigo. O que é extremamente pouco saudável para ela --- Outro gole de água --- Não posso virar baba de adulto nessa etapa da minha vida e simplesmente largar minhas próprias crianças de mão, já fiz isso a vida deles toda, já perdi meu casamento, já perdi toda a luta do meu pai contra o câncer, não vou mais abrir mão de nada para ganhar dinheiro e transformar alguém em estrela. Não quero pagar esse preço --- Rachel foi sincera com o amigo, mas ela sabia que pouco adiantaria, pois aquela mesma conversa eles já tiveram outras varias vezes quando ele tentava que ela focasse em qualquer novo nome a ser lançado.

- Luiza não vai precisar de tanto esforço seu, a menina está pronta --- Rachel colocou a garrafa novamente em cima do descanso.

- Luiza? Já temos tanta Luiza por ai --- Rachel voltou a sentar na sua cadeira de couro --- Mude para Luli --- Ela disse e André sorriu empolgado com a sugestão, realmente Luiza poderia ser confundida com outras cantoras.

- Já vi que não vou consegui te convencer, então vou te deixar trabalhando --- André pegou sua pasta e saiu. André Gonçalves era realmente um bom olheiro, mas odiava o trabalho "sujo" e "duro" de moldar um talento.

Duas semanas haviam se passado e Rachel estava prestes a pegar um voo de três horas de duração para acompanhar as gravações de um clipe musical, embora pudesse bancar uma passagem de primeira classe ela nunca fazia, não gastaria dinheiro a mais podendo gastar a menos. Ainda mais ela sendo uma pessoa de altura baixa e magra, a poltrona da classe econômica a deixava confortável o suficiente, o único problema naquele voo é que geralmente ela gostava de sentar na janela, estava odiando ter que ir na poltrona do meio. Ela só rezava para a moça loira da janela não ser do tipo que tem incontinência urinaria e que precisava levantar para ir ao banheiro mesmo em um voo de apenas três horas.