Escolhas

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INÁCIA POV

Estas semanas não têm sido nada fáceis, poucas vezes na minha vida tinha sentido tanta pressão como sinto neste momento, parecia que tudo andava a correr mal...
Tinha de fazer alguma coisa, começava a sentir que a polícia estava demasiado perto. Apesar de tudo, muitas pessoas dependiam de mim e nem tudo era preto ou branco.

Nunca senti que a minha vida pertencesse verdadeiramente a mim, fui condicionada a fazer o que faço e agora é muito tarde para mudar. Na verdade eu tinha sido criada neste mundo e nunca tive realmente uma escolha, para pessoas como eu o crime era significado de sobrevivência.

Comecei a acompanhar a minha irmã ainda muito nova, quando ainda vivíamos no sul do país e quando a vida ainda parecia simples, pelo menos para uma adolescente. Naquela altura eu não percebia aquilo que ela fazia, ela sempre me protegeu o máximo que conseguia, queria que eu tivesse uma vida normal o máximo de tempo possível. Ela também nunca teve opção de escolha, tudo o que ela fazia era com o intuito de me dar a mim uma opção.

Respiro fundo enquanto penso nela, não era este o futuro que ela desejou para mim, esse era o meu maior arrependimento e eu morreria com ele.

O meu mundo desmoronou com a sua morte, tudo mudou e o pior que podia acontecer, aconteceu.

Foi a partir desse momento que eu tive que passar a viver com o meu pai no norte.
O meu pai não era nada como a minha irmã, para ele eu era apenas um instrumento para continuar o seu legado, eu era a sua única filha de sangue e ele queria fazer de mim a sua filha prodígio, a próxima na linha do trono como ele dizia.

O meu pai controlava toda a rede de tráfico de narcóticos do norte da península Ibérica, era uma das pessoas mais importantes neste mundo da droga já que isto significava que ele controlava uma das mais importantes portas de entrada para a Europa. Não havia forma de conseguir escapar à sua influência, muito menos eu, sentia os seus olhos a observar tudo o que eu fazia.

Com o tempo fui me conformando com aquele que teria de ser o meu papel, ser uma das pessoas de confiança do meu pai e seguir os seus passos.

A grande maioria das pessoas não entrava neste negócio por opção própria, cada um tem uma história para contar e eu era mais parecida com eles do que eles imaginavam.

Era impossível para mim dizer que as pessoas com quem eu trabalhava eram más pessoas, essa não era a realidade, não era assim tão simples, nada nesta vida era simples. Podem dizer que nos aproveitavamos daqueles em necessidade, o que não deixa de ser verdade, mas para muitos esta era a única opção e eu não os podia deixar mal.

É nisto que eu estou a pensar enquanto estou no banco de trás do meu carro com a pessoa que considero ser um dos meus braços direitos.

Tiro o meu casaco à pressa e rasgo com força um pedaço da t-shirt que usava para conseguir amarrar em volta da perna do Rafael. Estávamos os dois sozinhos dentro daquele carro parado na entrada de um monte isolado, o primeiro que consegui encontrar.

O Rafa gemia de dor enquanto que os bancos estavam cobertos de sangue, o cheiro metálico cobria aquele carro e eu sentia a minha visão a ficar turva. As minhas mãos tremiam, eu tentava fazer o melhor que conseguia enquanto a ajuda não chegava.

"Tens que ficar acordado Rafa, nem penses em fechar os olhos!!" A única resposta que recebo dele é um pequeno aceno de cabeça enquanto contorcia a cara com dor.

Pressiono o local em que a bala que tinha atingido a perna do Rafa com toda a força que eu tinha, felizmente a bala tinha saído, era a única coisa que me deixava mais descansada neste momento, menos uma coisa para me preocupar. Ficamos assim alguns minutos, minutos a mais, pensei.

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