Prólogo

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"O Senhor detesta lábios mentirosos, mas se deleita com os que falam a verdade."
- Provérbios 12:22

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Veryesk, 07 de Janeiro de 2023

Veryesk não era uma cidade, era um túmulo. Um túmulo onde os segredos deveriam se manter calados e nunca lembrados. E cada marionete daquele lugar possuía um segredo alimentado por mentiras sujas e podres.

E ele sabia todos podres daquelas marionetes, se lembrava de todas as palavras saídas daquelas inúteis bocas. O mesmo, que se dizia fiel, jurou a Deus perdoar e amar o próximo, mas como poderia cumprir sua promessa quando todas aquelas bocas tiravam um pecado imperdoável e sujo?

Seus olhos tornavam-se tortos para cada marionete que passava em sua frente. Eles contavam suas impurezas, achando que assim Deus os perdoaria, voltavam para casa sorrindo com seus dentes amarelos e falavam ser puros. É a forma como os pecadores justificam suas ações, mas Deus realmente perdoaria aqueles entulhos?

Assim é a população de Veryesk - mentirosos e pecadores.

Uma cidade - ou fim do mundo - onde todos se olham com desdém e possuem duas caras.

Exceto ele. Acreditava-se que ele era puro, o único limpo daquele túmulo. E que, com certeza, ele estava ali por engano. - Aos olhos daquele homem, que tanto rezava, aquele rapaz era assim. Ninguém mais lembrava dele, mas o homem sonhava com seu rosto deformado todas as noites.

Às vezes, aqueles sonhos tornavam-se pesadelos.

Viktor, o padre, encontrava-se sentado no banco mais próxima a estátua da Virgem, ela vestia panos brancos e possuía, no peito, as três rosas místicas — que representam a Oração, a Penitência e o Sacrifício. Viktor, segurando a cruz do terço que rodeava seu pescoço, não podia deixar de admirar a beleza da estátua de gesso a sua frente.

Era a Virgem mais bela que aquele Padre já viu; Seu rosto esculpido podia ser confundível com qualquer ser humano, seus olhos fechados e o sorriso leve que seus lábios formavam eram simples e detalhados. A Virgem orava com suas mãos que também seguravam um terço branco.

— Salve Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura, esperança nossa... — A voz do padre era quase inaudível no meio daquele salão.

Era tarde da noite, ninguém mais estava naquela igreja além de Viktor. A ausência de pessoas fazia o homem sentir-se vigiado, mas era um dos únicos momentos onde podia descansar e pensar.

Viktor também tinha problemas de insônia, por esse motivo preferia sentar na igreja e rezar, e algumas vezes aproveitava a oportunidade para visitar seu conhecido. Mas hoje era diferente, era Viktor quem esperava uma visita.

E enquanto esperava, não podia deixar de lembrar do passado. Nesta noite, o rosto distorcido daquele rapaz atormentava sua mente...

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Veryesk, 14 de Julho de 2011

— O que estás a fazer? — O garoto, que agora acendia um cigarro, perguntou.

— Exercícios de matemática. — O ruivo direcionou seus olhos ao garoto a sua frente. — Se a pedagógica te ver fumando, ela chamará sua mãe, Riley!

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