Girassol

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"Sai como a flor, e murcha; foge também como a sombra, e não permanece."
‐ Jó 14:2
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Veryesk, 12 de Janeiro de 2010

Não muito longe dali, uma pequena ave cantou enquanto batia as asas em círculos. Ela voou vigorosamente em direção ao sol, que aos poucos se preparava para dar lugar à vasta escuridão da noite. Uma pena branca se soltou da ave e foi levada pelo vento, dançando em harmonia com a brisa. Gradualmente, a pena foi perdendo força e pousou em uma pequena poça de neve que derretia diante de um grande edifício.

No centro do edifício, alguns degraus decorados com pequenas esculturas religiosas desgastadas pelo tempo levavam à enorme porta. Ao olhar para cima, uma pequena torre com um sino se destacava no topo do prédio. De ambos os lados, encontravam-se grandes janelas com vitrais coloridos que brilhavam sob a luz do sol.

Por detrás da ingente porta, o espaço era preenchido por imagens religiosas espalhadas pelo teto, junto com as obras cerâmicas feitas para representar a Virgem Maria. No centro, onde ficava o altar, um homem de olhar penetrante e voz firme andava de um lado para outro com um microfone em sua mão. As pessoas estavam sentadas nos bancos organizados em fileiras e prestavam atenção em cada palavra do homem.

No primeiro banco, logo à frente do púlpito, uma mulher com um olhar cansado sorria com o discurso do homem à sua frente. Ela tinha cabelos lisos, e por mais que tentasse cuidar, eles ainda não pareciam penteados. A criança sentada do seu lado tinha a mesma cor de cabelo dela, castanho vivo, com olhos grandes e verdes. O menino abanava as pernas ansiosamente; queria sair para brincar. Ele olhou para os outros bancos, onde viu uma menina da sua idade, então levantou sua mão para cumprimentá-la.

A garotinha sorriu ao perceber e imediatamente correspondeu. O menino sorriu radiante e ia continuar a conversa, mas sentiu sua mãe cutucá-lo pelo braço, o que desviou sua atenção de sua nova amiga.

— Ghael, fique concentrado. — Sua mãe sussurrou.

Ghael cruzou os braços e bufou, então concentrou seus olhos no homem ruivo no altar. Ele não entendia uma palavra sequer do que estava sendo contado; a única coisa que queria era sair dali.

— Meus amados irmãos e irmãs, que a graça e a paz de Deus estejam com cada um de vocês. — Com um olhar sereno, ele ergueu as mãos. — Agradeço a todos por estarem aqui hoje.

As pessoas mantiveram-se em silêncio, percebendo que eram as últimas palavras do pastor. Ele continuou a falar, com voz firme, enquanto algumas pessoas na plateia assentiam com a cabeça, demonstrando compreensão e aceitação.

Quando finalmente terminou seu discurso, o pastor fez uma breve pausa, permitindo que a mensagem se instalasse na mente e no coração de todos os presentes. Em seguida, ele agradeceu mais uma vez e, com uma reverência, se retirou do palco.

As pessoas se levantaram, algumas aplaudindo suavemente, enquanto outras permaneceram em silêncio, assimilando o que foi compartilhado. Algumas começaram a deixar os bancos, outras saíram pela porta, e algumas foram à procura de uma vela, com a intenção de fazer uma oração privada.

Ghael, que esboçou um sorriso genuíno com o final da palestra, sentiu sua mãe agarrar sua mão e começou a puxá-la para que andasse com ela. O menino presumiu que iam sair daquele lugar e já estava prestes a falar com sua mãe, mas ela parou em frente ao homem que estava no púlpito a poucos segundos atrás. A confusão tomou conta dele.

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