CISNE BRANCO // yoonmin

࿐ prólogo: primeiro amor ࿐

Yoongi cresceu inserido na religião cristã. Em sua memória, desde muito cedo em sua vida, tinha lembranças de sua mãe o vestindo com as melhores roupas que tinha, dentro do possível, para ir aos cultos de domingo na igreja que ficava bem perto da sua casa, no fim da rua, a qual frequentavam há anos. Por trabalhar duro a semana toda para alimentar seus quatro filhos, aquele era o dia em que a mulher fazia questão que todos estivessem juntos.

Por muito tempo, aquele foi o dia preferido da semana para Yoongi, porque ir para a igreja significava uma coisa que, para ele, era mais importante que tudo: música.

O menininho de cinco anos ficava fascinado quando o coral se levantava para cantar, observando como todas as vozes se encaixavam perfeitamente, e como os instrumentos criavam uma bonita harmonia juntos, a qual era sempre seguida por lindos cânticos, capazes de tocar todos os corações no ambiente. Seu pequeno peito batia forte, e já havia até se acostumado com os pelos do seus braços arrepiados, apertados dentro da única camisa social que lhe cabia.

As notas do piano, por algum motivo, lhe chamavam mais atenção.

De vez em quando se pegava observando estático a pianista, ignorando o mundo ao seu redor, com medo de piscar e perder algo importante. Ela colocava tudo de si no que estava fazendo, deixava que não só os seus dedos, mas todo o seu corpo fosse levado pelo som, e vê-la tocar de olhos fechados o deixava admirado se perguntando "como ela sabe o que está fazendo?".

O piano era um instrumento de presença imponente, tomando um grande espaço dentro do salão, e era visto por todos ali com grande valiosidade. E com razão. Seu som trazia algo novo às músicas, uma carga emocional diferente, prazerosa. Yoongi sabia que se sentasse bem perto era possível sentir sua vibração, como se as células do seu corpo dançassem sob influência da melodia, como se fossem um só, e essa era a melhor sensação do mundo.

Foi ali que Yoongi conheceu o amor. O piano foi seu primeiro amor.

Numa noite, depois do culto, na primeira oportunidade que teve ele se esgueirou apressado entre os assentos de madeira até chegar ao instrumento, e aquela foi a primeira vez que estava o vendo tão de perto. Era muito mais lustroso e pomposo do que imaginava, mas só não era maior que a grande ansiedade e a curiosidade que se embolava em sua barriga.

Rapidamente se sentou no banco acolchoado e, balançando suas perninhas para frente e para trás, encarou todas as teclas à sua frente, querendo muito apertar uma delas e pensando no que aconteceria se o fizesse. Todas lhe pareciam bonitas e altivas, e ele sentia como se elas estivessem o espiando. Era um tanto intimidante, mas ao mesmo tempo o incentivava.

Sua mãe sempre dizia que ele era um garoto corajoso e que não devia ter medo de nada, então, pensando nisso, Yoongi ergueu sua mão e apertou uma das teclas à sua esquerda com o dedo indicador. O som do Ré o fez dar um pulo de susto, mas também o fez querer repetir.

Sentindo-se mais confiante, ele usou novamente seu indicador e apertou mais uma das teclas, bem no meio dessa vez, mas o que o surpreendeu não foi o som que havia acabado de reproduzir, mas as mãos de alguém nas suas costas e em seu ombro.

— Alinhe a coluna.

A pianista sentou-se ao seu lado arrumando o vestido e o olhando curiosa. O rapazinho arrumou a postura sentindo suas bochechas salientes esquentarem de vergonha por ter sido pego, mas o sorriso alentador nos lábios da mulher o diziam que isso não tinha sido um crime tão grave assim.

— Essa nota que você acabou de tocar se chama Dó. Quer fazer de novo?

Um tanto acanhado e não mais tão resoluto, Yoongi repetiu seu gesto se sentindo um pouco desconcertado com a presença dela. Era como se estivesse sentado ao lado de uma pessoa extremamente importante, alguém que tinha total noção de como todas as coisas funcionavam no mundo, e ele era tão pequeno e indefeso. Em sua visão, ela era quase como uma fada, como as que sua irmã gostava de assistir na televisão.