Capítulo 3

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2023

Duas semanas para o Halloween

— Você tem que tomar esse suco, bonequinho.

Faço uma careta de nojo quando entro na cozinha e escuto minha mãe chamando meu padrasto de bonequinho enquanto tenta lhe enfiar goela abaixo um suco verde com aparência duvidosa.

Myron, como sempre, está com a cara enfiada no celular, cuidando de seu dinheiro ou sei lá como os empresários ricos perdem tempo.

— Não insista, Debby. — Ele fecha o celular e coloca o paletó. — Estou atrasado. Ei, bom dia, não está com uma cara muito boa. — Ele nota minha presença, enquanto aspiro o cheiro gostoso de ovos mexidos, meus olhos varrendo a cozinha e parando na mesa infantil em um canto onde minha irmã Stacy está sentada sem dar atenção ao prato fumegando, distraída com um desenho.

Ignorando a crítica do bonequinho que paga as contas, meus pés seguem quase que por vontade própria até o prato de ovos, mas antes que chegue lá mamãe resolve enfiar o suco asqueroso na minha frente.

— Nem pensar. Não pode comer tanta gordura de manhã!

— Mãe, por favor, isso parece lavagem!

— É suco verde. Faz bem para seu metabolismo. — Ela enfia o suco na minha mão.

— Prefiro o ovo da Stacy, ela nem está comendo.

— Stacy, coma seus ovos, princesinha da mamãe.

— Não quero. Estou em jejum.

— Jejum pra quê? — Tomo um gole do suco e até que não é ruim.

— Quando os extraterrestres chegarem, eles vão preferir os humanos mais limpos de toxinas.

— Como sabe o que são toxinas? E não existem ETs.

— Tem certeza? — Ela levanta a sobrancelha e eu me pergunto a quem Stacy puxou.

Ela é uma menininha de sete anos estranha. Linda com seus cachinhos loiros, hoje arrumados em duas tranças iguais, mas sempre com ideias meio bizarras em sua pequena cabecinha.

— Você trabalha demais, precisa relaxar, pirulitinho — mamãe está dizendo a Myron enquanto o abraça em despedida.

É sério, pirulitinho?

Nem quero imaginar se isso tem algum significado. Eca.

— Eu preciso pagar nossas contas, querida.

— Mas vai trabalhar até tarde hoje? É nossa noite de pôquer na casa dos Smith.

— Vá você.

— Não vou sozinha como uma dessas mulheres divorciadas! Vão achar que estamos com problemas e... — ela larga meu padrasto quando algo chama sua atenção pela janela — não acredito, olha quanta coisa!

Sigo seu olhar enquanto meu padrasto aproveita para fugir e um caminhão acabou de parar em frente à casa dos Jackson. Suzannah se aproxima animada, observando dois carregadores levarem suas encomendas para dentro da casa.

— Aposto que é para a decoração de Halloween, o que será que ela está aprontando? — Minha mãe finca as unhas no meu braço com raiva.

— Ei, menos, maluca!

— Oh desculpe, amorzinho. Mas estou surtando com o Halloween este ano. Temos que ganhar dessa vez.

— Mamãe, sério, por que isso é importante? Você é a mais bonita, a mais gostosa, a mais rica, porque quer tanto vencer a Suzannah numa coisa boba de Halloween?

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