Ser você- Kelmiro

Eu vou...

Já era noite e ambos continuavam juntos.

Aquele dia havia começado não muito agradável, com o carro ou melhor, a lata velha de Nando quebrando no meio da estrada, forçando Kelvin e Berenice a chegarem a pé na fazenda dos La Selva.

A moça até mesmo lavou os pés na piscina da mansão enquanto ouvia Ramiro defendendo o loiro com unhas e dentes dos comentários desnecessários dos outros peões.

Depois dali, para Kelvin o dia foi repleto de pequenas vitórias, Ramiro o defendendo, elogiando seu cheiro, comida de graça e o melhor, uns apertõezinhos que recebeu mesmo que escondido.

Agora eles estavam ali, sentados na varanda, com Ramiro recostado em uma pilastra enquanto brincava com o singelo brinco brilhoso na orelha alheia.

O pequeno aproveitava o carinho de todo seu coração, sempre como se fosse o último, apesar de naquela altura do campeonato ter certeza de que não seria, mas não era todo dia que Ramiro estava disposto a tocá-lo de forma tão próxima muito menos correndo risco de serem pegos.

Ele mais do que ninguém sabia que corriam esse risco, mas não comentaria nada para não acender o alerta de Ramiro, ser esperto demais as vezes nos prepara para situações indesejadas, e a esperteza de Kelvin o preparou para a ínfima chance de Ramiro agir como se estivessem cometendo um crime caso fossem vistos por alguém.

Se bem que Ramiro do jeito que é, se sentia mil vezes mais confortável ameaçando a vida de alguém rodeado de pessoas, do que em ser visto trocando carícias com o amigo, como ele insistia em chamá-lo.

-Sabe que eu gostei de como cê falou com os peão mais cedo?- Kelvin inicia uma conversa.

- É? - Indaga Ramiro recebendo um breve acenar de cabeça como resposta.- Foi bem macho né?

- Foi...foi bem macho...aliás falando em macho, sabe que eu acho? Que cê podia rever o seu conceito do que você acha que é macho sabe? - Ele responde, afinal ser macho não precisava ser sinônimo de algo ruim.- Acho também que a terapia tá te ajudando... Quem sabe ela também não te ajuda a entender o que você sente, o que você acha que você é, te ajudar a entender tudo isso aí pra você se libertar de vez...

- Kevin mai...resumindo o que isso qué dize?- Ele continua o carinho na bochecha do outro com a ponta do polegar.

Kelvin sorri de forma doce e satisfeito em saber que o peão estava mesmo interessado em se compreender por completo, sem amarras, sem medo, apenas querendo ser como um pássaro livre.

- Ramis...eu só acho que você podia parar de ligar pra o que as pessoas pensam de você, você é lindo aos meus olhos e pra mim, só você ser você já tá bom...- Ele deixa seu coração despejar palavras de carinho que nem sempre tinha abertura para falar.

Ramiro sorri ladino com o pensamento que invade sua mente.

Ele pensa que como deve ser, ser ele mesmo, fazer o que seu coração tem vontade, seguir seus instintos e ser feliz, sem se importar se um alguém hipotético está ligando.

- Então eu nem me importo mais também...com o que os outros pensam, tô nem aí...

E de repente o mundo para.

O tempo começa a passar lentamente, as folhas caem em câmera lenta e tudo para de acontecer quando aqueles dois olhares apaixonados se encaixam clamando por atenção.

Assim como um imã é atraído pelo metal, seus corpos atraem um ao outro.

Ramiro se aproxima devagar apenas analisando o terreno, ele repete que vai fazer algo até o último segundo para apenas convencer a si próprio de que aquilo é algo certo.