Kelvin estava entediado.
Na mesa da cozinha posta para dois, o silêncio imperava. O café da manhã era farto: uma variedade de bolachinhas e um bolo de chocolate convidativo. Seu copo de vitamina de banana oferecia um certo refresco ao calor daquela manhã.
Seu marido, Frank, sentava à sua frente com os olhos vidrados na tela do notebook, apoiado ao lado do seu prato quase intocado. Bebericava seu café, mas Kelvin tinha quase certeza de que já estava frio.
- Amor, acho que o seu computador não irá criar pernas se você tomar o seu café sossegado. - Ele falou, levando sua mão até a do marido. A aliança dourada e grossa, com um pequeno diamante cravado, reluzia em seu dedo - E me dar um pouquinho de atenção.
- Desculpe, docinho. - Ele disse, oferecendo um sorriso delicado antes de dar uma mordida na sua torrada - Quais os planos para hoje?
Kelvin sentiu vontade de gritar. Aquela pergunta era claramente uma mera formalidade, porque não havia interesse genuíno. Aliás, há algum tempo não havia. Em ambas as partes, se pudesse ser sincero. Entretanto, respondeu mesmo assim. Uma comunicação casual era melhor que a ausência dela.
- Bom, uma das maiores prioridades do meu dia certamente é contratar um piscineiro. A ideia de comprar uma casa com piscina foi ótima, principalmente neste calor horrível, mas é tão trabalhoso manter!
- Eu avisei, mas você insistiu em ter uma piscina, docinho.
- Você certamente não reclamou de alguns momentos que tivemos naquela piscina. - Kelvin retrucou, bebendo um pouco de vitamina e jogando um olhar malicioso.
Frank apenas deu uma risadinha, pegando seu celular e o desbloqueando, mexendo em algum aplicativo que parecia mais importante do que olhar para seu marido enquanto conversava. Aquela indiferença o irritava profundamente. Sentia-se como uma parede ao invés de um marido.
- Por falar em piscina, resolvi isso para poupar sua cabecinha linda desses problemas domésticos. - O empresário falou com um sorriso, acariciando o rosto de Kelvin rapidamente - Um piscineiro já foi contratado para realizar o serviço hoje pela manhã. Não estarei aqui, pois tenho uma reunião logo depois do café, então você poderia acompanhar o serviço e o pagar depois?
Aquele tom de Frank ao explicar a situação, como se ele fosse burro, o irritava profundamente. Ele tinha essa mania chata de explicar ou mandar algo como se ele fosse um funcionário. Kelvin sorriu, falso, e apoiou o rosto na mão do marido.
- Você pensa em tudo mesmo, não é? Claro que faço. Não tenho compromissos para essa manhã. - Concordou, se desvencilhando do toque do esposo - Só não usa esse tom comigo, tá? Você sabe que eu não gosto. Não sou um de seus funcionários.
- Desculpe.
Ele falava muito essa palavra ultimamente. Kelvin não sabia dizer se era verdade. Por isso, apenas ignorou e começou a cortar um pedaço de bolo. Viu, pela sua visão periférica, Frank largar o celular e tomar um pouco de café, aproximando-se dele. Sentiu seu nariz roçar em seu pescoço, coletando o cheiro do seu perfume doce.
- Trocou o perfume?
- Há uma semana.
- Muito cheiroso. Bem melhor que aquele outro que você comprou na Itália.
Kelvin soltou uma risada cética e comeu uma garfada de bolo, gemendo com a explosão de chocolate em sua boca.
- Frank, amor, nós realmente precisamos exercitar sua capacidade em elogiar.
Ele não disse nada, apenas olhou o relógio e levantou as sobrancelhas. Levantou-se, pegando a gravata preta que estava pendurada na cadeira ao lado e passou pelo colarinho da camisa. Direcionou-se até um espelho da sala e deu um nó perfeito antes de retornar à mesa e recolher seu blazer preto.
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O Piscineiro
FanfictionShortfic kelmiro. Kelvin é casado há cinco anos, um típico marido troféu. Seu casamento está em crise e ele está cansado de sua rotina tediosa e da indiferença do marido, além de estar em uma luta unilateral por algo que parece já ter acabado. Ram...