Semana

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Havia um homem, e ele não possuía nome, talvez o tenha esquecido ou perdido. Nada tinha, a não ser sua humilde casa, em um singelo pântano de piche.

Costumava sair pelo mundo, desbravando-o e desfrutando de todas suas maravilhas. E assim fazia todo o dia, para saciar-se e entreter a si mesmo. Mas, sempre ao final do dia, estava novamente no pântano. Seu pequeno e escuro pântano de piche.

O iniciar da semana trazia as segundas-feiras, que o levavam até as Colinas Verdejantes, para contemplar a cor esmeraldina das infinitas ervas da terra, tão aconchegantes. Ao anoitecer, retornava ao pântano. Seu opaco e grudento pântano de piche.

O sol logo raiava trazendo as terças, e o homem era guiado por elas até as mais distantes e maiores Montanhas Nevadas, que com seus ventos suaves e frios refrescavam a alma. E assim passeavam por toda a alva região; ele, as terças e os ventos. O entardecer avisava-o que era hora de voltar para casa, no pântano. Seu abafado e denso pântano de piche.

Não demoravam, e logo estavam a porta, as quartas. O destino era certo: as Florestas Coloridas que rodeavam todo o continente, e com suas lindas cores embelezavam até os limites da terra. O homem descansava e deleitava-se com todos os presentes, os frutos, sombra, flores, toda a gentileza dada pelas majestosas árvores. Mas o tempo corria, e logo teria de voltar para o pântano. Seu restrito e amargo pântano de piche.

As quintas rumavam às maravilhosas Cachoeiras Melodiosas, que com seu coro preenchiam, além de nutrir, todo o país. Banhava-se, e pescava, tudo em esplêndida paz. Imensa, inimaginável. Até o pôr do sol, amarrando-o, jogando-o de volta ao pântano. Seu barulhento e sujo pântano de piche.

Oh, sim. As sextas, tanto as amava, o pobre homem. Com todas suas forças restantes corria, e corria. A fim de chegar às Praias Resplandecentes que envolviam todo o cenário em que vivia. Todo e qualquer momento nelas era como estar no paraíso, onde o sol o aquecia enquanto vislumbrava os peixes pularem alegres sobre o imenso mar. A margem do horizonte o encantava, não importava quantas vezes olhasse. "Tão linda, delicada e distante" pensava. Porém, o dia sempre virava, forçando-o abandonar tudo à sua frente. Caminhava triste, em direção ao pântano. Seu sufocante e odioso pântano de piche. 

Betume do PântanoOnde histórias criam vida. Descubra agora