Segunda 01 de março de 2019 - 08h33 da manhã
Espero que o ônibus pare, salto no ponto que fica de frente para o hospital, a rua é grande e muito movimentada, espero que o sinal fechado para que eu possa atravessar. Atravesso, e paro em frente a porta, a porta é grande e feita de vidro, acima dela tem um conjunto de letras escritas 'Hospital Santa Maria', entro no hospital e vou até a atendente que está a minha direita, ela é magra, tem os cabelos descoloridos, deve estar na faixa dos 40 anos:
— Oi, bom dia.-falo para chamar atenção dela.
— Ha, oi, como posso te ajudar? -ela fala pousando a caneta de sua mão sobre a mesa.
— Eu vim aqui para conversar com o Dr. Castro.
— Pode me dizer seu nome?-ela fala se virando para o computador em sua mesa.
— Claro, Felipe, Felipe Gandra. -ela mexe em alguma coisa no computador e se vira novamente para mim.
— Felipe-ela fala como se estivesse acabado de descobrir-Siga naquele corredor, no final dele tem um elevador é no quinto andar, sala 101.
— Ah, sim, obrigado-falo e vou na direção ao corredor.
O corredor é grande e iluminado, tem muitos quartos, e da par dois caminhos, no final do corredor tem o elevador e virando a esquerda a sala de cirurgias. Paro em frente ao corredor da sala de cirurgia, já estive aqui antes, antes da minha irmã ficar doente, na morte dos meus pais. De frente para a porta tinha o que parecia ser uma família, uma garota parecia ter 4 anos e um homem tentando acalmá-la, à esquerda dos dois tinha um garoto um pouco mais novo que eu, encostado na parede com os braços cruzados olhando fixamente para a porta, 'não importa quem seja espero que saia dai', penso. Entro no elevador ele é grande, maior do que normalmente vemos nos prédios, a porta se fecha e o elevador começa a subir, me viro dando as costas para a porta, la tem um enorme espelho onde vejo meu reflexo, pareço ser um garoto ingênuo, 1,80 de altura, cabelo cacheado, pele escura e olhos negros, sorriso e levo minhas mãos ao alto.
— Você consegue!-Digo a mim mesmo em voz alta. Me viro para a porta quando vejo o número cinco na tela em cima da porta do elevador, a porta se abre e eu saio.
Agora estou em um corredor totalmente diferente do anterior, ele e muito silencioso, a parede do lado direito tem muitas janelas, todas elas dão para o lado de fora, e do lado esquerdo estão as portas dos escritórios, ando até a metade do corredor e paro em frente a porta com o número 101,ao lado da porta está escrito Dr. Augusto Castro, respiro fundo dou dois toques na porta e abro.
— Bom dia, senhor, posso entrar?-falo já entrando no escritório.
O escritório não é grande, a mesa dele fica no fundo da sala ao lado de uma janela, na frente da mesa tem duas cadeiras, e atrás deles dois armários grandes.
— Bom dia, Felipe, sente-se.-ele falou apontando para a cadeira em sua frente. Eu me sento e observo sua mesa, não tem muitas coisas, apenas alguns papeis empilhados, um pote com lápis e caneta, e seu computador.
— Bom, Felipe-ele digita algo no computador e vira a tela para que eu possa ver'--sabe me dizer o que é isso?-- Já vi aquela imagem várias vezes, o desenho de um cérebro com algo branco no meio.
— É um câncer--falo sem entender a pergunta.
Ele aperta outra tecla do computador mudando a imagem, essa é diferente, é um cérebro, só que o algo branco que estava no meio esta maior, cobrindo quase a metade do cérebro inteiro.
— Quer que eu lhe diga qual é mais parecido com o caso de sua irma?-faço que sim, mas já sabia a resposta --A segunda imagem. O que quero dizer Felipe é que o último tratamento não deu certo, e se continuar assim -ele aponta para a imagem no computador--ela só tera mais dois meses de vida.
Fecho os olhos só para me certificar que não estou sonhando.
— Quais são as minhas opções?-pergunto
— Temos mais um tratamento para fazer, o último, vai durar mais ou menos um mês, se não der certo você pode buscá-la e deixá-la aproveitar o resto de vida que tem.
— Então você acha que não vai dar certo?
— Conheço você há muito tempo Felipe, e sei que você não é o tipo de cara sonhador, então vou lhe dizer a realidade--ele suspira--tem 80 por cento de chance de dar errado--ele segura as minhas mãos --Mas eu vou tentar, e vou dar o meu melhor para que ela fique bem.
Eu afasto minhas mãos das dele e me levanto.
— Acho que já podemos parar por aqui-sorrio e vou em direção à porta.
— Felipe -ele fala antes que eu saia -seja forte, ela ainda precisa de você.
— Tenha bom dia, doutor.-falo me retirando da sala. Volto para o elevador e aperto o segundo andar, é onde fica o quarto da irma. Quando saio do elevador volto para um daqueles corredores iluminados e barulhentos, vou até o penúltimo quarto com o número 307, ao lado diz Paciente Naiara Gandra, abro a porta e entro. O quarto e grande e vazio, só tem uma cama, alguns monitores, uma janela enorme, e um armário na parede direita, também tem uma cadeira ao lado da cama, vou em direção a ela e me sento. Ela está deitada, brincando com os dedos e sorrindo, ela é muito parecida comigo, os cabelos cacheados na altura do ombro, a pele morena, e os olhos, nos temos os olhos de minha mãe. Pouso as minhas mãos sobre as dela.
— Eai pirralha, como você está?-provoco.
— Ei, não sou pirralha! Já tenho 11 anos!-ela cruza os braços fingindo esta com raiva.
'E eu queria que pudesse passar dos 11', penso. Suspiro e olho para o chão.
— Ei! — ela me dá tapinhas no braço chamando minha atenção-Hoje eu vi um pássaro muito bonito -ela aponta para a janela-ele estava bem ali. Quando voltamos para casa podemos comprar um?
— Se toda vez que eu vir aqui você me pedir um bicho de estimaçao, vamos ter que morar em um zoológico!
— Boa ideia!-ela ri -posso te fazer uma pergunta?-- Faço que sim com a cabeça.
— O que você e Augustos conversaram?-ela me olha fixamente.
— Nada de mais...
— Nada de mais!--ela me interrompe--Vou te dizer o que vocês conversaram--seus olhos enchem de lagrimas--Acha que eu não estou percebendo que estou morrendo! Eu quero ir para casa, quero passear no parque, quero ir embora com você!--ela fala chorando.
Levanto e a puxo para um abraço.
— Vamos fazer um trato. Só mais um mês, um mês, eu te levo para casa. -Levo minha mão ao rosto dela limpando suas lagrimas --Eu prometo.
Ela sorri e meda um abraço, olho as horas no celular.
— Eu tenho que ir agora, mas amanha eu volto, e vou passar o dia inteirinho com você.--me levanto da cadeira e vou em direção à porta--Eu amo você.
— Eu sei, e também te amo.
Quando saio do quarto, vou em direção à porta que dá as escadas, e subo no terraço, quando chego a primeira coisa que faço é grito, se eu não fizer isso sinto que vou surtar, e eu não posso, não posso surtar porque ela ainda precisa de mim.
— Idiota, idiota, idiota, como pode ser tão imbecil--paro de gritar, pois ouço um som vindo do outro lado do terraço.
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𝙿𝚘𝚛𝚏𝚊𝚟𝚘𝚛, 𝚗𝚊̃𝚘 𝚙𝚊𝚛𝚎 𝚍𝚎 𝚋𝚛𝚒𝚕𝚑𝚊𝚛
RomanceSou um garoto de 21 anos no primeiro ano da faculdade de engenharia, meus pais morreram quando eu tinha 11 anos, minha irma esta doente, moro em um dormitório no centro da cidade que divido com três homens, trabalho em um bar local e... Como você po...