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Pedi para o Emiliano ter paciência enquanto eu terminava de vesti-lo para a entrevista em família. Geralmente eu gostava muito de aparecer, mas algumas formalidades o deixavam irritado, especialmente quando precisava esperar o papai terminar de falar sobre como pensava em governar caso fosse eleito Presidente do México.

 Mas não tem música!  reclamou quando eu colocava pela vigésima vez o sapato que ele insistia em tirar do pé direito.

A mamãe sabe, meu amor... Mas olha só, eu te prometo que no momento em que sairmos daqui eu vou colocar uma música muito legal para cantarmos juntos, tá bem? Argumentei rezando para que ele concordasse porque era muito importante que aparecêssemos todos juntos naquele dia.

Manuel chegou em seguida de mãos dadas com Manu que trazia dois carrinhos na mão. Sorriu para mim enquanto entregava um deles a Emiliano e eu relaxei porque percebi que tinha ganhado alguns minutos da paciência dele.

Estão bem? — Manuel perguntou com atenção genuína, mas eu sabia que ele estava preocupado com a entrevista.

Sorri como quem diz "vai dar tudo certo" e ele assentiu. Percebi que ele respirou fundo quando o jornalista entrou na sala da nossa casa. Não sei quantas entrevistas já tínhamos dado desde o mês de Janeiro, mas sabíamos que seria exatamente assim em ano eleitoral. Especialmente porque ele tinha passado o ano anterior inteiro me acompanhando na turnê com a banda, era meu momento de conceder apoio incondicional aos sonhos dele. Afinal, é disso que se trata um casamento saudável, apoio.

Dei um beijo na testa de Manu que estava entretido com o carrinho e antes de ouvir "gravando", sorrimos os quatro.

A gravação não deve ter durado muito, mas como eu estava preocupada com os meninos que seguiam inquietos, parecia que o tempo não passava. Emiliano estava com sono, Manu reclamava de fome e Manuel precisava pela milésima vez explicar porque ele merecia mais atenção na corrida presidencial, se o protagonismo eram das duas mulheres que disputavam historicamente este cargo. Quando finalmente acabou, eu respirei aliviada.

Os meninos saíram correndo imediatamente pela casa, eu levantei e estiquei minhas costas porque tinha me sentado em uma posição muito desagradável e Manuel relaxou a tensão dos ombros que parecia morar nele nos últimos meses. Beijei seu rosto antes de deixar a sala, mas ele estava descontente com o que tinha acabado de dizer. Mais tarde conversaríamos para reforçar que não existia nenhuma ofensa em ser um candidato homem neste momento histórico. Todo mundo sabia que esta, infelizmente, não seria a vez dele. Então, que pelo menos ele conseguisse aproveitar a campanha com mais tranquilidade.

Subi para tomar banho para o jantar que teríamos mais tarde. No meu celular três notificações: mensagem da Maria dizendo que chegaria em alguns minutos para me ajudar com os meninos já que uma das babás estava doente, uma de Danna dando satisfação de como geriu o último boato de corrupção que envolvia meu nome e uma mensagem que tinha sido visualizada na noite anterior, mas que eu decidi não responder.

Quando se é uma mulher casada e com dois filhos existem algumas decisões que você precisa tomar e a principal delas é: escolher as suas batalhas. Naquele dia a minha batalha era acompanhar Manuel  neste momento tão importante da vida dele enquanto cuidava dos nossos filhos, assim como ele tinha feito nos últimos meses comigo. Eu não precisava lutar aquela batalha que apitava na notificação do meu celular há quase 24h. Mas assim que a água gelada do chuveiro tocou minhas costas eu me dei conta de que mesmo que eu ignorasse, eu queria.

Maria bateu na porta do banheiro antes que eu terminasse o banho. Talvez porque eu tenha ficado embaixo da água gelada mais tempo do que o normal esperando aquele problema simplesmente desaparecer. Gritei que já estava saindo e me olhei no espelho. Não tinha porque de tanta aflição, eu já sabia qual seria a minha resposta. Era só abrir a conversa e responder. Respirei fundo e imediatamente quando saí do banheiro, percebi que algo tinha acontecido.

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