UM

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A primeira coisa que Tal fez quando entramos no bar foi ir ao banheiro. "Preciso verificar minha maquiagem", disse ela. Como se alguém pudesse vê-la naquele conjunto de luzes bem pensado que poderia deixar você mais tonto do que qualquer outra bebida no bar.

Enquanto estava sentado na varanda do bar esperando por Tal parei para analisar o local.

O som era tão alto que eu podia sentir a batida do meu coração, fazendo-o disparar enquanto eu corria uma maratona. E eu amo isso.

Sempre fui uma pessoa noturna. Festas e bares e essa sensação de estar vivo e livre sempre foi minha praia. Eu era selvagem no Brasil e sinto muita falta de ser assim.

-Uma bebida pode fazer seus pensamentos descerem mais leves. - E então voltei à realidade.

-Huh?

-O que você está bebendo. -Ele disse olhando para mim. Seus olhos negros escuros olhando para mim, esperando pacientemente pela minha resposta. Seu cabelo escuro, não muito curto, caindo suavemente em seu rosto que foi desenhado simetricamente por Deus combinando com a roupa toda preta. 

A escrita branca "Siren Bar" em seu avental está brilhando devido às luzes de néon e está estranhamente em harmonia com o contraste que as luzes estão causando em seu rosto. Marrom claro.

-Desculpe, estou esperando alguém. - gritei tentando fazer com que minha voz fosse ouvida junto com a música e ele sorriu e encostou-se no balcão ficando mais próximo de mim. -Te conheço de algum lugar? -Ele me conhecia. E eu também o conhecia - Sim, eu conheço você. Você é o estrangeiro recém-formado na nossa universidade, certo? Estamos cursando o mesmo curso, nãoestamos? - Sim, nós somos. 

-Sim, sou eu. O estrangeiro. - E agora ele estava rindo. 

Um brasileiro que optou por cursar a Universidade na Tailândia é facilmente considerado louco aqui. Não porque seja uma loucura fazer, mas a loucura é escolher uma universidade totalmente tailandesa em vez de uma internacional. 

-Dois copos de vodka com energético, por favor, Kha. -Ela estava de volta e parecendo uma serial killer sexy para o cara que saiu para levar as bebidas. -Fazendo amigos, huh

-Ele só perguntou se eu queria pedir alguma coisa

-Ele é bonito. -E eu balancei a cabeça. 

-Ele não é um dos nossos "Phi's" da Uni

-Sim

-Dois Vodka Redbull Krab

Por que ele está sempre sorrindo para todos? Talvez eu seja o único muito amargo. 

-Obrigado Kah Phi. - Ela respondeu e olhou para mim em seguida. - Vamos dançar

Depois disso tudo ficou confuso. Não sei quantas horas se passaram, mas agora estávamos na pista de dança, pulando e dançando com pessoas que nunca conhecemos antes. Milhares de caras ao redor de Tal, sem camisa e suados, dançando com ela, já que ela era a atração noturna. E eu também estava lá. Sentindo cada batida profundamente em meus ossos e alma. 

Com os olhos fechados eu não conseguia pensar em mais nada além de como aquela sensação era boa. Revitalizante. Revigorante. Rejuvenecedora . Uma imensidão de paz.

 -Vou fumar lá fora. - Tentei contar para Tal, mas ela estava ocupada demais para sequer tentar ouvir. Então saí para o beco atrás do bar para fumar.

Onde eu coloquei essa porra de isqueiro. -Pensei enquanto procurava em cada bolso que existia e nas minhas roupas.

Eu podia ouvir o som de uma porta se fechando ao meu lado, mas estava ocupado demais para olhar para ela.

-Você fuma? -aquela voz de novo, mas agora muito mais clara e baixa.

-Às vezes. - Kuy mai Phen (sou péssimo com puxar assunto). - Quer dizer, eu vou se conseguir encontrar meu isqueiro.

-Aqui, deixe-me ajudá-lo. –Ele disse levantando minha cabeça com as mãos e chegando perto o suficiente para poder usar seu próprio cigarro para acender o que estava em minha boca.

Uma de suas mãos segurando meu pescoço me impedindo de me mover e a outra cobrindo os cigarros do vento.

Ele não poderia simplesmente me dar o isqueiro?

-Por que Tailândia? -Pergunta típica que todo mundo faz. - Quer dizer, você fala tailandês muito bem e eu poderia facilmente dizer que você pode ser meio tailandês, então acho que você já tinha tudo decidido enquanto aprendia o idioma. Mas o que torna a Tailândia tão especial?

-Não sei. Talvez eu seja louco como todos dizem que sou.

E instantaneamente me senti ridículo respondendo isso, mas quando olhei para ele e encontrei aquele sorriso novamente e não estava mais me sentindo assim.

-Foi uma quantidade de coisas que acabaram me deixando aqui.

-Você está feliz? Como você está gostando até agora? - E a única resposta que pude dar a ele foi um simples encolher de ombros.

-Interessante... - Interesante?

-Você acha?

-Você é interessante. - Sobre o que é essa conversa?

-Parece que vai parecer rude, mas... por que você está falando comigo, afinal? Achei que seria impossível falar com uma celebridade igual a você.

-Não é rude, mas irônico. E eu não sou uma celebridade. -Eu não pude deixar de revirar os olhos e dar a ele aquele tipo de "Sério?". -Sou apenas uma pessoa normal, ok?! E falo com todo mundo com quem tenho vontade de conversar.

Levantei minhas sobrancelhas sugestivamente e ele sorriu.

-Por que? Você estava querendo falar comigo? - E quase engasguei com essa confiança.

-Ok, Sr. Popular. Preciso voltar para meu amigo. - falei apagando o cigarro na parede e jogando o resto no lixo.

Olhei para ele e ele estava olhando para mim. Nada foi dito e voltei para o clube.

Tal não estava em lugar nenhum e quando peguei meu telefone para ligar ouvi que ela deixou uma mensagem dizendo que estava comendo para mim no balcão, bêbada demais para me procurar e fazer qualquer outra coisa.

Quando cheguei lá, ela estava lutando para ficar acordada. Um dos braços apoiando a cabeça e os olhos pesados demais para permanecerem abertos.

-Vamos, Barbie. Hora de ir para casa.

Into Deep Water (Português)Onde histórias criam vida. Descubra agora