Quinze Bilhões Ou O Meu Amor?

Capítulo I

Não se é novidade que na política, a honestidade anda em extinção. Apesar de todos os avanços na tecnologia e serviços de segurança dentro das instituições públicas, ainda sim alguns políticos se arriscam em desvios e superfaturamento de obras públicas.

Soraya Thronicke havia concorrido recentemente a presidente da república. Não ganhou, infelizmente. Ou felizmente?

Três meses após a eleição, com todos os sigilos do governo passado quebrados pelo presidente Lula, fora descoberto um desvio de verba pública no estado do Mato Grosso do Sul. Um esquema grande, que havia sido responsável pelo desvio de pelo menos quinze bilhões de reais. Entre uma obra e outra, os responsáveis conseguiam retirar o suficiente para manterem seus luxos.

Mas o que a loirinha de um metro e meio tem a ver com isso? Ela, aparentemente inocente, havia sido essencial nesse esquema todo, as verbas destinadas a segurança pública, agronegócio e infraestrutura eram as mais atraentes para Thronicke, sendo de longe as que mais enchiam seus bolsos.

É claro que ela não teria como colocar todo o seu plano em prática sozinha, e a investigação que já se estendia por quase dois anos, havia colocado cerca de vinte e sete pessoas atrás das grades, incluindo deputados, ex senadores com influência política, o próprio ex presidente da república e até mesmo integrantes do TCU do governo anterior.

Apesar da enorme quantidade de pessoas apreendidas, a investigação estava longe de terminar. Em uma tentativa de conseguir mais nomes para a lista, a equipe responsável pela investigação resolveu agarrar a opção da delação premiada e interrogar todos os que já estavam atrás das grades, tendo como seu foco principal Soraya Thronicke, a principal mandante e organizadora daquele desvio bilionário.

- Já se passaram seis horas, Soraya. - Disse o delegado olhando o relógio em seu pulso.

- Que bom que tenho o senhor pra me informar as horas. - Ela suspirou tediosamente.

Soraya havia aprendido a ser ainda mais debochada dentro da prisão. Em seus quase dois anos, a loira havia se tornado líder de um grupo de mulheres na penitenciária da capital de seu estado. Enquanto seu marido criticava suas mudanças de comportamento e dizia que aquilo não condizia com a mulher que ele casou, ela rebatia dizendo estar apenas se adaptando ao seu novo habitat.

E ela definitivamente havia se adaptado muito bem. As detentas que não a odiavam ou queriam lhe matar, lhe veneravam como alguém superior a elas. Além de ter a admiração da maioria, ela também havia aprendido a empreender dentro da penitenciária. Soraya mantinha seus contatos lá fora, e estes sempre davam um jeito de lhe enviar drogas ilícitas e outros objetos que suas colegas encomendavam.

Em outras palavras a ex candidata a presidente era o guru da penitenciária de Campo Grande.

- Um nome, Soraya. Só preciso de um bom nome e reduziremos sua pena. - Insistiu o delegado.

- Fui somente um fantoche, senhor delegado. Por que não pergunta a quem comandava o país? - Ela o encarou com um ar de superioridade.

- Já perguntamos. E sabemos perfeitamente que a senhora não foi só um fantoche. Na verdade é muito mais provável que tenha controlado os fantoches, segundo nossas investigações. - Ele semicerrou os olhos já sem paciência.

- Se o senhor diz... - Ela deu de ombros.

- Pode liberar ela. - Um oficial entrou na sala.

O delegado acenou com a cabeça e a loira levantou, mandou um sorrisinho junto de uma piscada para o homem e saiu rebolando.

- Essa mulher é o próprio satanás! Seis horas e a única coisa que eu consegui foi sarcasmo?! - O delegado socou a mesa irritado.

Soraya voltou para o lugar que estava sendo sua casa há quase dois anos.