One Night Only - Parte 2

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"One night only, one night only
Come on, big baby, come on
One night only
We only have 'til dawn"

One Night Only, Jennifer Hudson

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Ramiro nunca foi dado a sentimentalismos. Na verdade, foi podado a infância inteira pelos homens ao seu redor. Não poderia demonstrar emoções e nem fraquezas porque eram características destinadas às mulheres e às meninas. Meninos e homens adultos? Deveriam permanecer inexpressivos. Mesmo que sofressem ou passassem por algum martírio eram instruídos a não revelarem o dissabor. Apenas eram incentivados perante a possibilidade de agirem com brutalidade ao partirem para a agressão física.

Porém, ao ouvir essas palavras saindo da boca de quem amava, notou que, embora tenha sido educado pela mentalidade brutal e machista dos ditos machos de Nova Primavera, era a primeira vez que se sentia em paz na companhia de alguém. Nunca pensou que essa troca dar amor e prazer e receber amor e prazer fosse tão confortável. Antes de conhecer Kevinho e se tornar seu amigo e confidente achava que amor não existia. Era só uma emoção mais calorosa destinada às mulheres para elas continuarem em seus respectivos casamentos ou buscarem um marido. Agora, ali, naquele quartinho tão simples, iluminado pelo clarão do luar e algumas velas para os peões não notarem que havia gente ali e evitar serem interrompidos, constatou que era uma realidade - e estava apaixonado.

Após o capataz deitar no colchão, Kelvin se demorou observando o rosto do jagunço. As fortes linhas de expressão, a barba cheia, os cabelos encaracolados... Admirou o homem responsável pelos seus mais profundos desejos enquanto as longas mãos dele lhe exploravam o tronco, sentindo a maciez da pele. Quando repousou a destra direita sobre o peito, o outro a segurou em sua mão e a levou de encontro a cama para, em seguida, entrelaçar os dedos. Inclinou-se devagar em direção ao amado sem desviar o olhar, centímetro após centímetro, até lhe tocar os lábios num beijo calmo.

Queria primeiro relaxá-lo, deixa-lo confiante de que estava num ambiente seguro. Pelo menos era isso o que almejava transmitir para o mais velho. Talvez fosse a primeira vez onde partilharia de sentimentos e emoções tão nobres com quem amava. O momento não era para ser desenfreado, onde o tesão era quem os guiaria. Pelo contrário. Precisava ser prazeroso pra ambas as partes, sim, mas também carregado de afeto, zelo e paciência. Pra Ramiro era importante que as coisas seguissem por esse rumo porque talvez fosse a primeira vez que Ramiro estivesse se permitindo viver aquilo, embora o cantor não tivesse essa resposta. Agora, Kelvin... Há anos não tinha essa troca com alguém. Não a sexual, já que quando subia para o seu quarto fazer programa, os homens que lhe pagavam eram movidos somente pelo desejo. Ele queria ser desejado, sim, mas principalmente amado.

Quando desceu os beijos até alcançar o pescoço, foi excitante ouvir a respiração dele se tornar pesada e sentir as mãos lhe percorrerem todo o corpo, o apertando um pouco. Adorou isso, então, querendo que ele sentisse tudo aquilo o que já havia se deliciado com primor, passou a língua no pescoço, no exato lugar onde sabia que a artéria se localizava - a responsável por essa ser uma região erógena. Ramiro virou a cabeça para o lado oposto grunhindo baixinho, dando-lhe total acesso a sua pele - e Kelvin não teve nenhuma pressa em sair dali.

Sabia que estava fazendo um bom trabalho porque o capataz dos La Selva se contorcia na cama, grunhia e o apertava contra si.

- Agora sabe que é um pouquinho difícil não fazer barulho, né? - sussurrou com a voz aveludada.

Logo em seguida explorou o lóbulo da orelha. Se divertiu internamente ao vê-lo se esforçando para não emitir som algum. Enquanto se ocupava ali, segurava-lhe de leve pelos cabelos, sentindo a textura levemente crespa. Foi aí que sentiu com as pontas dos dedos. Havia uma cicatriz em alto relevo escondida sob os cachos negros de cerca de cinco centímetros. Ramiro estava tão entregue que não percebeu os dedos de Kevinho perto da nuca. O cantor estranhou, mas escolheu não perguntar nada. Não era o momento de tocar em assuntos provavelmente delicados - pelo menos por enquanto.

One Night Only - Short-fic KelmiroOnde histórias criam vida. Descubra agora