BANG!

CAPÍTULO I

Luna resmungou em um estado de semiconsciência ao ouvir as notas do refrão de "As if it your last" do BLACKPINK tocarem, lembrando que era segunda-feira, e consequentemente, começo de uma semana longa e torturante de trabalho. A morena suspirou, ainda enrolada no mar roxo de cobertas em sua cama antes de tomar coragem e finalmente levantar.

Depois de se arrumar, colocou o uniforme amarelo vibrante do restaurante meio velho em que trabalhava desde sua juventude. Luna suspirou profundamente ao olhar no espelho, a combinação de suas roupas espalhafatosas e coloridas com o amarelo praticamente neon da camiseta era uma visão que se tornara familiar ao longo dos anos, era frustrante lembrar como anos antes, ela esperava que seu tempo no Freddie's fosse temporário. Ainda assim, aqui estava ela, uma mulher adulta de quase 26 anos, formada em Design, se olhando no espelho e tentando achar resquícios da esperança jovem e estúpida que sempre teve.

Desceu as escadas do minúsculo apartamento que dividia com sua mãe, indo imediatamente até a cozinha. Rosa já estava no fogão, fazendo o café, a imagem era parte de sua rotina conjunta. Luna a abraçou e sentou na bancada - Um mal hábito que lhe rendia sempre um olhar de desaprovação.

- Como foi a entrevista para aquela vaga, filha? - Sua mãe perguntou colocando um prato com frutas e torradas a sua frente. Luna suspirou pesadamente, sentindo-se mal pelo olhar esperançoso no rosto de sua mãe, ela mais uma vez havia falhado. Ela brincou com um fio solto de seu cardigan roxo.

- Eu não sei, acho que não era para mim. O lugar parecia uma daquelas corporativas malignas de desenhos animados onde os funcionários são robôs do mal. - Tentou desviar seu óbvio fracasso com uma piada. Ela nem tinha expectativas reais para aquela oportunidade. Depois de diversas negativas, descobriu que seu diploma não era nada sem contatos ou experiência real. - Acho que não é dessa vez que o Frederico vai se livrar de mim.

Frederico era seu chefe, um senhor na casa dos cinquenta anos, era filho de imigrantes italianos e tinha herdado o Freddie 's de seu pai. O velho ranzinza tinha um sotaque caricato que lembrava o Mário, mas era um homem de bom coração - Na realidade, fora o único indivíduo que já havia contratado Luna.

- E falando nele, preciso ir. Se me atrasar mais uma vez ele vai me matar. - A morena franzina pulou do balcão, colocando mais um conjunto de uvas na boca antes de pegar sua bolsa, também roxa, e se despedir de sua mãe com beijinhos e abraços exagerados.

- Cuidado filha! - Sua mãe exclamou com um olhar carinhoso e preocupado enquanto Luna pegava a característica bicicleta violeta presa ao gancho para começar mais um dia.

- Pode deixar dona Rosa. - Exclamou de volta, mandando beijinhos antes de sair. A manhã estava agradável, apesar do vento frio que deixava sua pele oliva avermelhada nas bochechas. Ela suspirou enquanto colocava os headphones roxos e começava a pedalar pelas ruas de Elmhurst no Queens. Ela havia crescido ali, conhecia os caminhos de forma quase que intuitiva. Principalmente o caminho para o Freddie 's, então não era incomum que ela se perdesse na paisagem e na música em seus ouvidos, normalmente algum pop coreano distraía sua mente com letras e inúmeras informações que sabia sobre os idols.

A visão das árvores desbotando em uma coloração avermelhada como um fogo antigo em consequência do outono era uma paisagem de tirar o fôlego, ver as pessoas começarem o dia e cumprimentar um e outro vizinho que conhecera durante toda sua vida, as ruas úmidas e as crianças agasalhadas caminhando juntas para escola remetendo ao tempo quando ela mesma tinha doze anos e passava todos os dias em uma versão menor de sua fiel bicicleta violeta a caminho da escola. O ar tinha gosto de casa - ou talvez fosse poluição - mas tudo sempre remetia a familiaridade daquele lugar. Por mais almejos que Luna tivesse, de crescer e se tornar importante, havia uma partezinha dela que sempre estaria ali, presa entre as ruas familiares e os dias repetitivos.