Capitulo 1

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E lá se vai mais uma bola. Que eu errei, para deixar claro.

O jogo de vôlei não poderia estar indo pior, claramente por culpa minha. A bola vem novamente em minha direção e dessa vez acerta na minha cara, acho que não era para acontecer isso. Sinto minhas costas molhadas de suor pelas minhas tranças, eu até prendi elas num coque desgrenhada no começo do jogo, mas com o passar do tempo as tranças se soltaram e não tive tempo de prende-las novamente. Ray me dá um olhar de irritação. Tento não revirar os olhos, ela odeia perder até mesmo um joguinho meia boca de vôlei, parece até que seu orgulho depende disso.

A bola volta para mim e aparentemente eu devo fazer um saque, sendo que há trinta minutos achava que saque se tratava apenas de transações de dinheiro.

Dou meu melhor e finjo saber o que estou fazendo. Respiro fundo e jogo a bola no ar, porém ela não vai muito longe já que bate direto na rede, coisa que não deveria acontecer. De novo.

Chega, esportes não é para mim.

Nunca foi, na verdade, sempre fui ruim em qualquer coisa que dependa do meu esforço físico. Vôlei, basquete, futebol, natação, handebol, queimada, skate, será que ping pong também vale?

É uma lista tão longa que poderíamos ficar o dia inteiro discutindo em quantos esportes eu sou ruim.

Mas chega de humilhação por hoje. Mas a verdade é que nem queria estar jogando. Nem queria estar aqui, sendo sincera. Eu preferia estar pegando sol ou lendo um debaixo de alguma sombra, mas aqui estou eu, suada e muito humilhada.

- Mari, presta mais atenção. - Como se esse fosse o verdadeiro problema aqui, nós duas sabemos que EU sou o problema.

- Ray, eu acho melhor eu sair do jogo. - Por um segundo eu vejo alívio em seus olhos que disfarçam muito mal o quão feliz ela está com a minha decisão.

- Tranquilo, Mari se você achar que é o melhor a se fazer. Não estou surpresa pelo fato de que ela não insistiu para eu ficar, ela realmente odeia perder.

- Você vai jogar sozinha?

- Não, o Felipe está chegando aí.

Felipe, era seu atual namorado. Ele era legal acho, mas nunca puxou qualquer assunto comigo, sempre parece muito hipnotizado pela Ray para prestar atenção em qualquer outra pessoa que não seja ela. O que é bom, quero dizer eu não estou reclamando de que ele seja apaixonado por ela, na verdade fico feliz porque minha irmã parece gostar dele. Mas o que estou dizendo, é que eu não estou surpresa em saber ele está obcecado pela minha irmã, todos são obcecados por ela. Todos os seus ex's eram completamente apaixonados por ela e as vezes obcecados.

Ray, tem uma beleza estonteante, ela tinha aqueles grandes olhos azuis safira que combinavam perfeitamente com os cabelos loiros dourados que pareciam ser sempre tão sedosos, sua pele era perfeita, nunca teve nenhuma sequer espinha nem mesmo quando entrou na puberdade, eu lembro de quando nós fomos ao dermatologista e o médico disse para ela que era um milagre não ter nenhuma espinha, já para mim sobrou a maldição.

Eu era aquela típica adolescente tímida, espinhenta e que vivia trancada no quarto. E sempre teve comparações com nós duas, não apenas na personalidade, mas também na aparência. Eu sou uma menina negra com tranças que troco sempre possível e com alguns problemas de vista que me obriga a usar óculos.

Sim, somos muitos diferentes e talvez mais tarde eu consiga explicar o que meus pais fizeram para chegar a isso. Mas por enquanto, é só isso que você vai saber. E não pense que eu não sei o meu valor, sei que sou agradável de olhar, mas quando sou comparada a minha irmã, eu sou normal. Pelo menos era isso que os garotos me diziam.

O problema sempre foram as comparações entre mim e ela, somos totalmente diferentes não só de aparência, mas também de personalidade. Ray é extrovertida, faz amizade com todo mundo e as vezes é um pouca sincera demais, já eu sou tímida-extrovertida, falo bastante com meus amigos em geral, porém quando se trata de fazer novas amizades ou conhecer gente nova, eu sou particularmente um desastre.

Quer um exemplo? Minha melhor amiga Luiza, estudamos juntar por cinco a anos, mas só consegui criar uma amizade com ela no terceiro ano. Volto minha visão ao jogo de vôlei. E sorrio comigo mesma ao perceber que Ray está claramente vencendo depois que eu saí do jogo. Além de ruim em esportes, sou pé frio também.


Sentada na cadeira de praia tento me concentrar na leitura. O que é impossível com crianças gritando e caixinhas de som altas demais, quem disse que praia era um lugar de paz? Apesar de tudo, insisto no livro, mas percebo que apenas li o primeiro parágrafo várias vezes. Desisto e guardo o livro, olho para trás a procura de Ray e a vejo jogando vôlei lindamente, vejo também os homens que estão jogando contra, babando nela. Ela nem parece perceber ou apenas fingi que não percebe, acho que deve estar acostumada.

Volto a olhar para o mar entediada.

Hoje está típico dia carioca, calor de 40° graus e praia extremamente cheia com pessoas de várias regiões juntas. Quando eu era menor e nossa mãe nos trazia para a praia ela sempre dizia "A única coisa que junta os playboys do centro com pessoas da comunidade é certamente a praia".

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⏰ Última atualização: Nov 25, 2023 ⏰

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