Medo

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Oi (sim...)

Cá estou com mais um dodói da minha cabeça. 

Vocês precisam saber de um segredo: eu desconto tudo o que sinto na escrita, então as vezes eu to desgraçada e... bem, é isso. 

Daí junta minha cabeça hoje com o pedido que me foi feito. 

Bem vindes (sorriso sem expressão do Di)

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A terra seca cedia à força exercida sobre si e tomava os ares formando uma densa poeira ao redor, tal como os pensamentos do dono dos passos pesados, distribuídos em uma elipse persistente.

Ramiro tinha uma nuvem escura e pesada cobrindo seus pensamentos.

Na fazenda só recebia esporros, era cobrado sempre que cometia o mínimo erro dentro de todas as coisas que lhe diziam ser o correto.

Matar é correto.

Retirar as pessoas do caminho, indiferente de como isso será feito, é correto.

Macho não sofre; macho não chora; macho não sente.

Ramiro era macho, dizia aos quatro ventos toda vez que alguém pensava em duvidar ou fazia qualquer comentário que indicasse o contrário.

Ele era capaz de matar sem remorso, bastava seu patrão mandar. Ninguém ficaria no caminho de Antônio La Selva enquanto seu braço direito fizesse tudo o que fosse mandado. Gostava da sensação de serviço bem feito, pois isso causava um sorriso vitorioso no rosto o homem que, para si, era a figura paterna que conhecia.

Não era difícil.

O patrão manda, Ramiro faz e recebe seu pagamento, responsável por seu sustento e o de sua mãe, que morava na pequena cidade longe dali.

Não deveria ser difícil, mas alguém cruzou seu caminho e mostrou que nem tudo era preto no branco.

Kelvin mostrou as cores para Ramiro.

Agora o caleidoscópio confundia tudo o que tinha por certo em sua vida.

Kelvin ensinou que o mundo é muito mais que os limites das terras do poderoso homem.

Ensinou também que Ramiro não era um jumento, como o patrão sempre bradava, mas sim um homem com pouco conhecimento. Conhecimento esse que lhe foi duramente negado quando o trabalho lhe foi imposto sem remorsos.

Ensinou-lhe ainda que precisava trabalhar as confusões de sua mente e lhe apresentou a psicologia, ou melhor dizendo, as sessões de psicoterapia.

Hoje sua confusão, inclusive, tinha ligação direta com a consulta que fora há poucas horas.

...

- Ramiro, mas esses sonhos, onde seu... amigo... aparece sempre ao seu lado, como seu par. - Respirou fundo, dando tempo para que suas palavras entrassem na mente do homem que continha uma dificuldade absurda em compreender a si próprio. - Você não acha que isso tem, sim, algum significado a mais?

- Êêêê... - Resmungou desconfortável. - Mai o que cê quer dizer, Dona Pesecológica? - Seu olhar, inocente como era por vezes, esperava por qualquer coisa que o ajudasse a entender tudo o que sentia e não sabia dar nome.

- Vou mudar a pergunta: - sorriu compreensiva enquanto buscava novas formas de abordar aquela situação - O Kelvin, seu amigo, é muito importante pra você, não é?

- O Kévin? - Perdeu-se no próprio pensamento e um sorriso lindo nasceu em seu rosto. - O kévin é o único amigo que eu tenho nesse mundo, Dona Pesecológica. - Falar daquele pequeno grande ser lhe deixava leve, fazia um bem que poucas vezes Ramiro sentiu em si. - Eeeele já me ajudô em tanta coisa, sabe? Me ajudô, lá, quando o patrão me bateu e me jogou no chão - sua voz foi sumindo aos poucos e o olhar... havia tanta dor nos olhos de Ramiro - e... se não fosse meu kévin, não sei o qu'eu faria...

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