A noite do concerto

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Decidi retornar a minha cidade natal, o dia estava claro, quente, porém os ventos que vem do litoral deixava o passeio mais leve, nostalgia eu diria. Visitar pontos turísticos sempre foi meu sonho quando criança, olhava os lugares através dos ônibus e imaginava eu ali, desfrutando dos encantos que a cidade possui, fiz uma lista pelas quais queria visitar; começaria pelo centro da cidade: museu do Ceará, Catedral Metropolitana de Fortaleza, Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura e por último o Teatro José de Alencar.

A noite chegou, trouxe consigo a lembrança que daqui a pouco irei ver as competições de ballet da cidade, sejam escolas de dança de médio a grande porte competindo para ganhar prêmios ( seja para ajudar economicamente sua instituição ou ter mais visibilidade e oportunidades) ou solos de profissionais já na área, e também bailarinos fazendo suas primeiras apresentações que desejam mostrar seu talento e amor pelo ballet.

Ansiedade a mil, é perceptível no meu rosto, percebe-se também meu batom vermelho cereja e meu vestido branco longo de cetim, eu estava simples porém muito bonita.

— Acho que assim está ótimo — confesso, me intimido comigo mesmo faz anos que não me via tão bonita. As horas não param, desvio meu olhar do espelho do hotel e pego minha bolsa prateada. — Certo, já chamei o uber, logo, logo estarei lá, será que estou esquecendo de alguma coisa? — digo confusa pois não raciocino direito estando ansiosa.

— Bom, espero que não.— viro meu olhar para o celular e motorista já sinalizou que chegou, saio do quarto e ando às pressas até o portão, dirijo-me ao carro e percebo que é o mesmo do aplicativo.

— Boa noite, Carlos? — Pergunto para verificar se é o mesmo motorista.

— Olá boa noite, sim, a senhora é a Cecília? — pergunta de volta o motorista moreno com um sorriso largo.

— Sim, obrigada por aceitar, hoje está demorando de mais para aceitaram a corrida por aqui no Montese.— desabafo um pouco estressada por causa da situação, não queria chegar no meio da apresentação, por isso sai mais cedo possível do hotel.

— Acredito que seja por conta da distância e horário, é muito engarrafamento mesmo — informa enquanto dirige em direção ao ponto de chegada — Principalmente o sentido que está indo, posso perguntar se vai para o espetáculo de ballet?

— Claro, você já aceitou — brinco com a situação.

— Não é à toa, está sendo divulgado nos jornais da cidade, muito aguardado, aparentemente. — afirma no seu tom simpático, após isso volta sua atenção para o trânsito caótico do início da noite.

— Confesso que esta competição de ballet, é um dos motivos para visitar minha terra natal — rio um pouco nervosa da situação em pensar que isto foi um estopim, apesar de existir vários concertos de ballet em outros estados, principalmente em São Paulo onde vivo atualmente.

— Então não mora aqui? Espero que este concerto faça a senhora ficar então, seja por qual motivo você se mudou, saiba que sempre será bem vinda aqui — diz o motorista que olhava para o trânsito, calmo, havia sinceridade nas suas palavras.

— É, nunca se sabe, a vida é cheio de imprevisibilidade — digo um pouco pensativa, as palavras dele me pegou de surpresa, não sabia onde queria chegar., mas fico grata pela boas vindas — Você já morou fora também ? — pergunto para tentar entender a frase que parecia ser intima de mais.

— Já, mas fui apenas por trabalho, voltei porque conseguir uma casa de herança, e hoje trabalho de uber nas horas vagas, desculpe por ter dito aquilo, é que sabe como é você nunca vai ser bem tratado e respeitado do que na sua terra onde nasceu. — disse com orgulho, eu concordava com a cabeça mas esses assunto são bens pessoais.

— Que bom que deu tudo certo, fui embora para recomeçar do zero, seja questão de dinheiro ou pessoal — digo, sem perceber o que acabei de dizer, mudo de assunto rapidamente quando volto para a realidade. — Bom, espero que consigo chegar cedo, se quiser ir rápido não tem problema. 

— Pode deixar que por você ultrapasso o sinal vermelho. — disse em tom de brincadeira, que logo surgiu uma leve risada, me pergunto se foi apenas  brincadeira.

— Sei. — digo desconfiada, desviando o olhar para a janela, acredito que esta atitude do rapaz foi  para mudar o clima que estava ficando melancólico. 

Faltava poucos minutos para chegar no meu ponto de chegada, logo vejo as luzes amarelas, brancas e coloridadas nas árvores,  já estávamos em novembro porém, surpreendentemente, as decorações natalinas fazia presente em todos os lugares, nas praças, lojas e lógico no teatro, estava tudo lindo, trazia uma magia no ar, uma sensação emocionante de dilatar as pupilas dos olhos.

Final da viagem. 

Na Ponta dos Pés - ContoOnde histórias criam vida. Descubra agora