Parte 1

1.1K 129 20
                                    

-Eu preciso que você se comporte ao menos desta vez, Naruto. - meu pai berrou ao fechar o porta malas e quase arrancou os meus dedos no ato. Se eu não tivesse largado logo a minha mala. - Fomos convidados para um importante casamento e se você colocar tudo a perder com o seu comportamento, eu vou… - apertou o punho para me socar, mas parou no ato.

Entramos no carro. Passo o tempo todo da viagem quieto no banco de trás, ouvindo meus pais conversarem como eles foram sortudos por serem lembrados e convidados para o casamento de um desses grandes empresários do ramo da farmacologia. Meu pai é vendedor dessa empresa há mais de vinte anos e é considerado um dos melhores no cargo que ocupa. Ele fez certa riqueza ao longo dos anos e deu muito conforto à minha família, o bastante para me adotar quando eu tinha 12 anos, eles me disseram que era a última coisa que faltava para eles serem uma família perfeita, já que a minha mãe é incapaz de engravidar e não importa o tratamento que ela fizesse, seu útero continuava inútil segundo sua própria opinião. Quando eles me encontraram, disseram que eu era perfeito.

Talvez por eu ter olhos azuis e cabelos loiros ondulados, talvez porque eu era um menino alegre e sorridente que encantava qualquer pessoa, talvez porque eu era a única criança esteticamente parecida com eles e fiz de tudo para ser adotado e sair do orfanato.

O caso é que eu nunca os enganei sobre quem eu sou de verdade ou sobre a minha personalidade. Eles esperavam de mim algo que nunca pude dar ou ser. Um filho de revista. Tentei alcançar ao máximo as expectativas deles, mas quando eu entendi que tudo era fachada, só satisfazer o ego dos outros, parei.

Não sou o garoto dos sonhos deles, só na aparência, e parei de tentar depois que vi a verdade. A violência. Quando eu não tirava as melhores notas ou alcançava os mais altos rendimentos, eles me batem. Me castigam. De formas que eu me nego a descrever porque é reviver traumas os quais não mereço.

Passei a descontar na comida o fato de que o meu sonho não se realizou. Eu também tive um. De ser adotado por uma família que cuidaria de mim com amor. Então eu como e vou a festas. Meus pais são conservadores. Muito. Tradicionais ao máximo. Nem sei como meu pai vende aquelas drogas se tudo dele é bíblia e Deus, daquele jeito doentio, não do bonito que a gente vê na televisão.

Então, escapar de madrugada para ir a uma festa é como se eu usasse drogas para as pessoas “normais”. Me rendem boas surras, mas eu passei a ignorar a dor. Uns amigos meus me dizem que sou masoquista por simplesmente aceitar a dor se reclamar. O que eles querem que eu faço? Se digo um A, meu pai bate com ainda mais força ou usa outros meios para castigar como me trancar no porão.

Não tenho a quem recorrer por proteção, eles são os meus pais.

Nós chegamos ao destino depois de quase um dia todo na estrada. Meu pai até me deixou dirigir para que ele descansasse e eu pensei, por um momento, em capotar o carro para por um fim ao meu sofrimento. Minhas mãos tremeram para fazer isso. Não faltou coragem. Não é isso. Só algo me intuiu a não fazer, a esperar que eu acharia meu lugar.

Acharia quem me amaria de verdade e cuidaria de mim.

Eu só preciso ter paciência.

Os caminhos vão se abrir para mim.

A mansão, com toda mansão dos ricos e dos absurdamente ricos, fica numa parte isolada da cidade, literalmente no meio da floresta, no alto de um morro pedregoso.

E para a minha surpresa, não é uma mansão qualquer. Foi feita à imagem de um castelo do século 19, com altas torres. Me sinto encontrando o castelo da Aurora. Os portões abriram assim que chegamos, pois éramos esperados. Meu pai e minha mãe inflavam de orgulho a cada minuto avançando pelo íngreme estrada de calçamento que contorna o morro.

InsaniaOnde histórias criam vida. Descubra agora