8. UM ESTRANHO NO PARAÍSO

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O beijo de Conrad fora mais do que satisfatório para mim, mas eu precisava admitir que sentir um frio na barriga quando atravessamos a floresta como um raio serpenteando entre as árvores. Ele era tão rápido quanto eu, é claro. Mais de um século de experiência o deixava sempre a um passo à frente de mim. Então, só pude observar quando ele se lançou em um arco alto por cima do Lago Louise até os abetos enormes aos pés do Monte Whyte do outro lado da margem.

— É sério? — gritei, quando ele pousou como um felino selvagem em terra firme.

Ele riu, uma nota suave no tom da risada flutuou até mim com o ar gelado da montanha.

— É mais fácil do que parece! — disse ele relaxado, como se pudesse fazer aquilo de olhos fechados.

E com certeza, ele podia.

— Só que não parece nada fácil!

— Relaxe, baby! — Eu podia notar seu olhar firme e intenso, mesmo do outro lado da margem. — Basta se lançar para cima e deixar o seu corpo fazer o resto — disse ele, à guisa de explicação. — Esta é sua natureza agora.

— Espero que esteja certo — sussurrei para mim mesmo, mas sabia que ele podia ouvir também.

Balancei a cabeça para pôr as ideias em ordem e sai correndo, impulsionando o corpo na beira do lago como ele me instruíra.

Naturalmente, Conrad tinha razão. Meu corpo sabia exatamente o que fazer. Parecia que eu estava voando. O Lago Louise passou por baixo de mim quando disparei pelo ar, céu e terra se fundindo majestosamente como uma pintura de Monet, um brilho verde e rosa-salmão colorindo o céu escuro acima das montanhas e árvores reluzindo sob a superfície espelhada da água cor de esmeralda.

Conrad estava me aguardando quando pousei com maestria a poucos metros de onde ele estava, equilibrando-me na ponta dos pés.

— Nunca duvidei de você. — Sua voz era quente e doce como Marabou.

Eu estava eufórico.

— Quero fazer isso de novo! — falei com a empolgação de uma criança, sem conseguir acreditar no que tinha acabado de fazer.

Captei a sombra de um sorriso em seus lábios, como se ele estivesse curtindo uma piada íntima.

— Temos a eternidade ao nosso favor, baby — prometeu, os olhos cheios de expectativa.

Eu respirei fundo e assenti.

A eternidade me parecia um espaço de tempo curto demais agora que eu era imortal.

— Isso foi tão legal...

— Espere só até ver o próximo ato.

Ele olhou para mim por um segundo antes de desaparecer montanha acima.

Conrad!

Eu o segui pela encosta da montanha, saltando sobre os trechos de rocha escarpada, e o encontrei parado no topo, como um capitão se aprumando na proa de um navio — a síntese da beleza competindo em pé de igualdade com a imponência das Montanhas Rochosas do Canadá.

— Não se preocupe — disse ele, olhando para o horizonte infinito diante de nós, o queixo anguloso ligeiramente inclinado para frente. — Nos tornamos mais fortes e mais rápidos com o passar dos anos. Você é tão rápido agora quanto eu era quando tinha sua idade.

MORDIDAS NUMA SEXTA-FEIRA À NOITEOnde histórias criam vida. Descubra agora