Capítulo 03

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Ele estava profundamente errado.

Eu era uma completa negação dançando, o que era irônico, já que para toda dama respeitável da aristocracia, dançar é o mais básico das qualidades para encontrar um esposo.

Mas eu não estava a procura de um, então, não era de todo o mal.

Sorte minha que chegamos a pista quando estavam começando a tocar os primeiros acordes de uma valsa, então eu só precisaria prestar atenção na contagem de passos e tentar ao máximo não tropeçar em minhas saias, mas parece que o lorde que me girava interpretou minha cabeça baixa e minha visão focada em nossos pés como um convite para conversar.

- Sabe, isso seria mais interessante se a senhorita olhasse para mim invés de minhas botas.

- Não se o milorde quiser que seus pés voltem inteiros para casa hoje. – e para provar isso, deixei que me girasse e pisei acidentalmente – ou nem tanto assim – em seu dedão esquerdo. Ele respirou fundo e suas testas se vincaram pelo prelúdio da dor. Eu dei um sorriso envergonhado e tentei olhar pra ele enquanto falava: - Desculpe.

- Está tudo bem. – foi o que ele disse, mas sua expressão levemente receosa me contava o contrário.

Dançamos em silêncio por alguns instantes, até eu ficar nervosa demais e soltar: - O senhor nunca me disse seu nome.

- Perdoe-me por esse erro. Visconde de Trenkle, irmão do Duque de Hamrolk. Ao seu dispor senhorita. – então me girou novamente e segurou-me em seus braços com um sorriso injustamente galanteador. – Preciso perguntar: qual das duas nasceu primeiro?

Eu soltei um riso surpreso, até que me lembrei de que havia ficado irritada com ele por essa mesma linha de pensamento mais cedo. Respondi na minha melhor tentativa de corrigir o erro passado e ser simpática com ele:

- Eu milorde, por 3 minutos.

- A senhorita realmente tem um ar de irmã mais velha.

- Está dizendo que eu pareço uma solteirona? – tentei brincar, mas seus olhos se arregalaram e ele achou que realmente tinha me ofendido. – Estou brincando, temos apenas 18 anos.

- Achei que uma dama nunca deveria revelar a sua idade.

- Então o milorde precisará guardar esse segredo.

O visconde sorriu para mim, e eu me peguei sorrindo verdadeiramente para ele também. A música parou, a orquestra foi para um intervalo e nós dois inevitavelmente nos separamos. Achei que ele faria uma reverência e iria embora, mas me surpreendeu ao enlaçar minha mão em seu cotovelo e me levar até onde meus pais ainda conversavam com a rainha e onde agora minha irmã também estava.

Celia sorriu animada ao me ver e fez menção de se aproximar, mas parou no lugar ao ver o cavalheiro alto e impossivelmente bonito ao meu lado. Seus olhos se arregalaram de leve, e eu quase podia ouvi-la pensar.

Quem é ele? É tão lindo.

Pare com isso, está começando a babar.

Claro, só não entendo porque você também não está babando.

Mamãe se levantou quando chegamos ao seu lado, e eu tive que desvencilhar de lorde Trenkle quando ela pegou minha mão e me pousou ao lado de Celia.

- Vamos meninas, contem a rainha da vez em que vocês trocaram de lugar e deixaram a tutora maluca.

Mamãe já tinha contado aquela história para todos os nossos parentes distantes e sempre relembrava quando achava que alguém precisava saber como éramos travessas.

Apenas mais um Romance de Época (Talvez uma História de Amor) - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora