Capítulo 02

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A carruagem real parou na entrada da Mansão Latjorhoin, as portas se abriram e Vossa Majestade saiu, em um vestido com uma saia que ocupava no mínimo dois metros ao seu lado e uma peruca branca que era maior que sua cabeça, mas tudo a deixava simplesmente deslumbrante.

Senti Celia soltar um suspiro ao meu lado e antes que pudesse tomar alguma atitude, mamãe estava nos puxando pelo braço e nos levando para o lavabo, gesticulando como uma doida e falando de um jeito atropelado que não conseguíamos entender.

- Pelos céus! A rainha está aqui! Vocês duas tem ideia do que isso significa?! – ela parou de repente, levando a mão ao peito de um jeito bem dramático e voltando-se para nós. – Se ela as aprovar, vocês serão um sucesso imenso! Sei que deveriam ter sido apresentadas a ela antes do debute, mas teríamos que esperar mais um ano e... – mamãe pegou nossas mãos, emocionada, e olhou para nós como se fôssemos tesouros que acabaram de ser desenterrados do fundo do oceano. – Minhas filhas vão impressionar a rainha!

E nos empurrou para dentro do lavabo, batendo a porta em nossas caras chocadas.

- Bem, - disse Celia, seguindo em direção ao espelho e sorrindo feito uma criança no Natal. – isso foi uma reviravolta inesperada.

- Sim, inesperada parece a palavra certa.

- A Rainha está aqui! Por nós! Você consegue acreditar?

- Não podemos ser todo o motivo pelo qual ela saiu do palácio para vir até aqui.

- E por que mais seria? Ela não comparece a muitos bailes, pelo que me disseram. Só aos importantes. Isso quer dizer que somos importantes!

Pensando desse jeito, duas gêmeas idênticas debutando atrasadas no meio da temporada social não é algo que acontece todos os dias. Mas a rainha teria algo mais interessante para fazer, não é? Por exemplo, cuidar de um país?

Celia ainda falava enquanto arrumava seu penteado sem nenhum fio de cabelo fora do lugar na frente do espelho, mas eu não conseguia registrar nada do que ela estava dizendo. A Rainha estava ali, bem do outro lado da porta, por nós! Se ela nos desaprovasse por qualquer mínimo erro, tudo iria por água abaixo. O nome da nossa família iria para o lixo, mamãe e Celia ficariam mortificadas, sem mais convites para eventos sociais, nossa temporada seria um desastre e nunca encontraríamos um marido. – não que minhas chances anteriores a esse acontecimento fossem boas. Papai não seria mais aceito em clubes e seus investimentos nas indústrias poderiam falir. Tudo isso poderia acontecer consequentemente a única pequena falha.

Como aparecer de volta a festa com o vestido sujo de limonada rosa.

De repente, a pequena falta de ar no meu peito tornou-se um aperto tão forte que eu estava com dificuldades para respirar. Meus joelhos fraquejaram por um segundo e eu achei que cairia no chão, mas duas mãos me ampararam e me ajudaram a sentar em uma pilha de almofadas amontoadas ao lado da pia.

- Lily, o que foi? – a voz familiar e calma de Celia me chamou de fora daquele abismo de desespero em que eu estava me afogando e seu rosto apareceu no meu campo de visão, lindo e preocupado. – Olhe pra mim, respire fundo.

Obedeci, no automático. Ela apertou forte minhas mãos que estavam suando dentro das luvas e suas palavras tranquilizantes ajudaram-me a me acalmar. Eu não tinha uma crise desde que mamãe estava grávida de Kaio e se acidentou no cavalo, ficando semanas na cama e quase perdendo a luta pela vida. Nós tínhamos 13 anos na época, e minhas memórias sempre ficavam nubladas quando eu reagia a acontecimentos assim.

Com o coração voltando a bater normalmente, dei o que esperava ser um sorriso apaziguador para minha irmã fiquei aliviada ao receber um de volta. Ela me abraçou, e ter seu corpo colado ao meu me trouxe boas lembranças de quando ainda dormíamos na mesma cama e fazíamos tudo grudadas uma na outra.

Apenas mais um Romance de Época (Talvez uma História de Amor) - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora