||Capítulo 4

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      — Lembra que você está me devendo?

    É a primeira coisa que digo quando ele atende o telefone. Hoje completo exatos 17 anos de vida. Não que ela tenha sido perfeita, não mesmo, é ao contrário eu tenho todos os motivos e justificativas para odiar meu aniversário, mas apesar deles, também tenho motivos para sorrir. Não que meus sorrisos sejam graças ao meu pai, na verdade é por causa dele que eles somem.

    Hoje tinha de tudo para ser só mais um dia comum, onde eu vou pra escola e fico lá até tarde, depois trabalho, então limpar casa depois de mais um dia de bebedeira. Porém, além de ser meu aniversário, também fazem exatos 17 anos da morte de Lee Meiying, minha mãe. Eu nasci e ela se foi, não tem como não me culpar. As vezes fico imaginando como seria se ela estivesse viva, nós seríamos uma família feliz?

    Acordei com sons de coisas quebrando, era ele voltando de algum bar, tudo que consegui fazer foi pegar meu celular, trancar a porta e me esconder dentro do armário. Poucos minutos depois ouço batidas agressivas na porta do meu quarto, a esse ponto já chorava de soluçar sentindo meu coração querendo sair pela boca.

    Dez minutos, meia hora, três horas, perdi a noção do tempo que levou para eu não ouvir mais nenhum barulho e só então liguei pra primeira pessoa que me veio à mente.

— Lembra que você está me devendo?

— O que houve? — ouço sua voz que expressa preocupação, não é pra menos, eu também me preocuparía se alguém me ligasse cedo na manhã com a voz falhando e em um tom choroso.

— Me tira daqui, por por favor, só me tira daqui — É tudo que consigo dizer antes de voltar a chorar.

— Chego em 10 minutos.




                                                                                              ~*~




    Na verdade ele chegou em cinco minutos, sim eu contei, precisava me distrair enquanto passava pela sala para sair de casa, o homem que eu chamava de pai agora roncava esparramado no sofá velho.

    Ele desceu da moto e eu já estava em seus braços, o abraçando tão forte que meu braços doeram.

— Ei, o que houve? fala comigo Pirralha

— Me tira daqui, por favor. — Acho que ele percebeu que eu não falaria nada porque desistiu de tentar descobrir o motivo de tanta choradera.

— Okay, vou te levar lá em casa

— Na casa dos seus pais não, por favor não quero que eles saibam — eu imploro

— Mas só dá pra te levar lá

— Tem seu dormitório da faculdade, eu prometo que vou me comportar, é só hoje — Depois dessa minha sugestão, vejo seus lábios formarem um bico torto pra esquerda, enquanto pensa se deve ou não me levar ao seu dormitório, até por que é proibido meninas na ala masculina da faculdade. Acho que minha situação decadente foi o suficiente para o convencer, pois sua resposta é de meu agrado.

— Okay, mas você tem que me obedecer, me ouviu?

— Ouvi, prometo que não vou dar trabalho.

Us || Hidden Love - EM BREVEOnde histórias criam vida. Descubra agora