Quando entrei naquele carro novo, um arrepio gélido e súbito tomou-me o corpo. Deveria ter percebido antes de entrar! Tantos anos, tanta morte, tanto sangue, e, mesmo assim, não achei que esse dia chegaria. Tolo eu fui.
Quando vi ela dentro do carro, soube que minha vida acabaria ali. Minha vez chegara. Sempre esperei que chegasse, mas, assim?! Jamais imaginaria. Um milhão por vida tirada era bom demais para não aceitar naquela época, quando ainda não tinha família. Sabia que teria que trabalhar para eles a vida toda, mas não sabia que tirariam a minha vida também ao final.
Eu olhei bem para a mensagem com a localização do meu próximo alvo — nunca havia deixado de fazer um serviço, mas estava claro que não conseguiria completar esse.
Nem adiantava tentar fugir, os rastreadores que implantaram em meu sangue eram impossíveis de retirar.
— Ah, olá! — ela disse, sorrindo. — Parece estar surpreso em me ver aqui.
— Estou, sim — respondi com uma vergonhosa lágrima escorrendo em meu rosto. — Muito mais do que deveria, não é?
Como último ato, escrevi rapidamente uma mensagem para minha esposa num bloco de notas, avisando que iriam atrás dela. Sabia que ela se cuidaria bem. Quando terminei de escrever, aceitei minha sina.
— Amor, não! — ela gritou enquanto eu atirava em meu próprio queixo.

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EntreTempos
Ficção GeralVocê está prestes a acessar uma outra perpespectiva de realidade, não limitada pelo que se lê, mas pelo que se entende. As histórias que se passam aqui, às vezes, não poderiam ocorrer em nosso mundo, mas às vezes, estão a um passo de acontecerem...