Capítulo 01 | Fogo e Poder

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No meio do Atlântico, havia um pequeno reino situado numa distante ilha, cercada por belezas naturais estonteantes e incontáveis riquezas escondidas dentro de seus templos de pedra tão antigos quanto a história pode contar

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No meio do Atlântico, havia um pequeno reino situado numa distante ilha, cercada por belezas naturais estonteantes e incontáveis riquezas escondidas dentro de seus templos de pedra tão antigos quanto a história pode contar. E neste lugar, habitavam mulheres guerreiras que trajavam vestimentas e armaduras leves o suficiente para que não as atrapalhasse em sua missão de proteger o local de forasteiros curiosos - que costumeiramente eram capturados, e selecionados a dedo para servirem apenas como reprodutores, para depois serem mortos a sangue-frio - ou possíveis colonizadores, mantendo assim acesa sua tradição e rituais para as gerações vindouras. Eram as Amazonas.

Entre elas, vivia a jovem Yoren, uma mulher forte, de estatura média, e que possuía a pele tão vermelha quanto a cor do sangue daqueles que ousavam enfrentá-la, e os olhos tão verdes quanto a grama no verão. Apesar de introspectiva, sempre fora uma das mais habilidosas e ágeis de seu clã, por isso, destacava-se constantemente. Para aqueles que tiveram a sorte de cruzar seu caminho, e voltar para contar a história, era um verdadeiro demônio travestido num corpo de mulher. E de certa forma, essas histórias terríveis ajudavam a manter a ilha segura, já que muitos a temiam sem sequer terem pisado nela.

A vida dessas mulheres não era fácil. Seus treinamentos eram árduos, rígidos, e começavam desde cedo. Enquanto crianças, a primeira coisa que aprendiam era ter disciplina, para depois brincarem. Entretanto, eram essas dificuldades que as mantinha unidas e, principalmente, vivas. Sabiam que não tinham nada senão umas às outras, por isso não havia competitividade, mas um poderoso senso de coletividade. Elas raramente questionavam seu papel no reino, pois entendiam que tornando-se uma fortaleza humana, seriam capazes de manterem-se vivas através das gerações vindouras.

Humin era a guerreira mais próxima à Yoren. Sabia que a mulher era calada por natureza, afinal, conheciam-se desde pequenas, e com os anos, aprendera a aceitar o jeitão carrancudo da amiga. Na verdade, achava até engraçado! Estavam sempre treinando juntas, correndo maratonas, confabulando ideias, fazendo flexões, duelando bravamente, dando aulas às mais novas, e admirando o pôr-do-Sol. Uma impulsionava a outra a ser sua melhor versão. Mas apesar de dividirem praticamente a mesma idade, havia uma coisa que as separava: Yoren era a filha única da rainha Maylah, sua grã-mestra. Aliás, era bastante incomum ouvi-la falando sobre sua mãe. Talvez, em sua mente, sentia-se tão filha quanto todas as outras, mas a verdade é que nas poucas vezes que a guerreira permitiu-se quase embebedar durante as festas que faziam costumeiramente, cheias de dança, copulação, e rituais, demonstrara a falta que sentia de ter mais proximidade com a mãe. Coisa que jamais confirmaria estando sóbria. Era orgulhosa demais. Sem falar que não gostava de ser chamada de princesa, por isso preferia que todas a tratassem da mesma forma.

— Yoren, você acha que um dia deixaremos essa ilha? Sabe, tem todo esse mar à nossa volta.. já pensou quantos povos diferentes de nós vivem por aí? Quantas coisas poderíamos aprender, e ensinar? — perguntou Humin, enquanto sentavam à beira da praia, observando o fim da tarde em seu descanso, que logo daria a vez a um novo e longo turno de trabalho.

A mulher demorou para responder. Jamais havia pensado sobre isso. Seu objetivo sempre fora cuidar das irmãs e proteger a mãe de invasores, e nada mais.

— Isso é besteira, Humin. Nosso objetivo é ficar aqui, e proteger nosso povo. Afinal de contas, acho muito difícil que povos diferentes de nós aceitassem mulheres no poder, e você sabe, nós não somos de nos sujeitar a homens.

— Por que você acha isso?

— Me diz uma só vez que um dos navios que atracaram aqui pra tentar nos roubar e escravizar, era comandado por uma mulher.

Humin tirou o olhar intrigado da amiga, voltando-o para o Sol, que aos poucos rasgava o oceano.

— É, você tem razão. Aqueles homens porcos jamais iriam querer uma de nós dizendo a eles o que fazer.

As duas riram enquanto aos poucos o céu ia abandonando o tom escarlate, para dar a vez a uma miríade de estrelas que ganhavam vida conforme a escuridão se aproximava, e tomavam coragem para subir novamente a longa escadaria para que pudessem cobrir seus respectivos turnos.

O céu estava particularmente calmo naquela noite. O vento soprava uma brisa leve no rosto de Yoren, que fora incumbida de liderar a proteção de uma das entradas que guardava, sob seu incontável número de degraus, a escadaria do templo principal onde reinava sua rainha. Humin e Kilandrah descansavam, protegidas numa torre de observação, no topo das montanhas, próxima de onde estava a guerreira, enquanto aguardavam sua vez de vigiar. Horas haviam se passado, e tudo parecia estar dormindo, exceto pelo mar, que trazia e levava suas ondas num movimento incansável. Aquele som constante poderia ser o suficiente para adormecer qualquer um, mas não Yoren, que inclusive pegava a maioria dos turnos da noite devido ao seu exímio vigor em resistir ao cansaço noturno.

Sua vigia aproximava-se do fim, quando a oeste, viu de longe uma figura que parecia com um grande pássaro se aproximando. Esfregou bem os olhos, pois poderia estar alucinando de sono, mas aquilo chamou sua atenção de tal forma, que quanto mais olhava, mais real ia ficando, despertando nela ainda mais curiosidade. De repente uma luz flamejante começou a vir exatamente em sua direção, e só então percebeu que eram chamas! Imediatamente, com seus rápidos reflexos e habilidades, desceu do cume da montanha onde estava, seguindo em direção à torre de vigia, avisar às demais do perigo que se aproximava.

— Irmãs, acordem! Rápido! Estamos sendo atacadas.

As mulheres acordaram assustadas, e mesmo sem saber qual era o inimigo, seguiram o protocolo de invasores acendendo uma grande fogueira na torre, posicionada estrategicamente para ser vista de longe pela torre seguinte, e num súbito, correram atrás de Yoren, quando outra labareda poderosa e incandescente atingiu a montanha próxima onde estavam, destroçando parte dela.

O coração da Amazona estava quase saindo por sua boca, e por sorte escaparam do pior. Ela nunca havia visto nada como aquilo, e talvez pela primeira vez sentiu o medo pulsar em suas veias. Mas as labaredas não paravam de chegar do céu, e o que restava às indefesas guerreiras perante a todo esse poder incompreensível e mortal, era apenas correr e procurar abrigo. Decidiram, portanto, correr na direção oposta às labaredas, afinal era a única coisa óbvia a se fazer, e se esconderam numa caverna entre duas grandes paredes rochosas. Alguns minutos se passaram, e tudo pareceu se acalmar novamente. Em alguns minutos, as demais guerreiras que estavam de guarda teriam visto a grande fogueira e as alcançariam, trazendo reforços.

Diante da triste, e nem um pouco recorrente sensação de impotência, Yoren reuniu toda a coragem que lhe restava, e, mesmo contrariada pelas amigas a sair e ver se encontrava o misterioso pássaro que expelia fogo, por mais incoerente que isso soasse em sua cabeça, resolveu seguir seus fortes instintos de proteção. E lá estava, parado como uma sombra a pelo menos cinco metros de distância de onde estavam, olhando-as sem piscar com seus grandes olhos verdes e brilhantes, mas de forma muito serena e paciente, como quem sente possuir todo o controle da situação nas mãos:

— O que é você? — perguntou assustada, e a criatura mágica logo respondeu:

— Eu sou um dragão, e vim aqui para tomar o que é meu por direito.

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Como Humanos e Dragões (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora