Abismo

Capítulo Um

[🍄] Bom dia! Minha primeira Bingjiu do perfil e finalmente criei vergonha na cara pra postar. Um enemies to lovers, tomara que os amantes de svsss gostem (porquê eu gosto).
Desculpem qualquer erro e boa leitura! Xoxo!

Shen Jiu tinha tudo o que queria, na hora que queria. E como o filho do Imperador da China, assim como o primeiro na linha de sucessão, o jovem príncipe não conhecia nada além do luxo que os grandes muros do palácio poderiam lhe proporcionar. Jovem, bonito, inteligente e bem postado, o primeiro filho do maior governante do país era a exata personificação da palavra arrogância.

Como homem, Shen Jiu permitia esbanjar-se de toda a grandeza que seu nome carregava; jantares caros, roupas de grifes, passeios de carruagem e jóias das quais poucos seriam capazes de comprar sem afundar a própria família na miséria. Ele pouco se importava com o que os cidadãos comuns diziam a seu respeito e a sua péssima reputação, afinal todos sabiam que o filho mais velho do rei era uma perdição vaidosa e soberba.

Mas como príncipe, era inevitável sentir o peso dos deveres para com o país pesar em seus ombros esguios ao longo dos anos. Como o mais velho de seus irmãos, cabia a Shen Jiu inteirar-se dos assuntos referentes ao mandato de seu pai para que pudesse assumir o lugar deste assim que chegasse o momento. Ou talvez, assim ele pensara.

Fôra pego totalmente desprevenido quando chamado até a presença do Imperador para uma conversa — a qual ele não estava nem um pouco otimista sobre.

Quando chegou até seu destino uma figura de um homem de idade já avançada, vestido em trajes tão exuberantes que quase faziam-no desaparecer em meio a tantos tecidos, esperava-o de pé próximo a uma das grandes janelas do cômodo. Caminhando a passos curtos e nada apressados, Shen Jiu se juntou ao outro e também se pôs a apreciar a majestosa vista que tinham dos jardins do palácio àquela hora da tarde.

O silêncio entre eles foi quebrado pelo próprio Imperador que, ainda sem se voltar para o filho, disse:

— Vivemos em tempos harmoniosos, onde não existe mais o medo e a aflição causados pela guerra.

— O senhor fez um excelente trabalho, meu pai. Poucos teriam a sabedoria necessária para manter a ordem em tempos tão caóticos, quanto os que enfrentamos.

— Fiz o que era necessário para alcançarmos a paz, vidas foram perdidas neste processo doloroso e cicatrizes foram formadas. Não há vitórias sem sacrifícios e, mesmo quando achamos ter alcançado estabilidade, o mundo nos mostra que estávamos errados.

Shen Jiu o encarou, vendo pela primeira vez como o rosto do pai ficava ainda mais abatido a cada palavra que era deixada de seus lábios ressecados.

— Não entendo onde o senhor quer chegar.

— Atualmente nos encontramos em um cenário onde podemos voltar a instabilidade de fome e segurança nas partes mais longínquas do país. Porém, depois de uma longa conversa com meus conselheiros, conseguimos chegar a uma solução que não requer força física.

— Sinto que essa solução necessita bastante da minha participação.

— Mais do que você poderia imaginar, meu filho — o Imperador enfim se virou, pousando a destra em um de seus ombros enquanto apertava-o levemente. — Pelo bem do país e do povo, preciso que se case com o governante da Província Norte, Yue Qingyuan.

Shen Jiu sentiu-se tensionar os ombros sob a palma do pai após sua fala. Seu pedido — ou ordem — havia o atingido como um golpe certeiro e encurralado-o entre a cruz e a espada. Confuso e sem saída, a última coisa que o príncipe de fato queria era acatar tal ordem. Entretanto, seu pai voltou a se pronunciar, interrompendo-o antes que fosse capaz de reclamar sobre.

— Entendo que não queira se casar, ainda mais com um homem desconhecido e alguns anos mais velho que você. E, acredite, como pai eu jamais o pediria para fazer tal coisa; mas como Imperador, minha prioridade é para com o bem-estar do povo e do país. Por isso, e apenas por isso, estou te pedindo para que faça este sacrifício.

[...]

— Acredita? Ele me pediu para que me casasse com aquele governante do norte tolo e desconhecido.

Já em seus aposentos, Shen Jiu tomava um de seus banhos de ervas matinais como forma de tentar relaxar após a conversa estressante que tivera com o pai alguns momentos mais cedo. Isso se ele realmente pudesse chamar aquilo de conversa, visto que apenas o patriarca havia tomado posse da palavra e não permitindo assim que Shen Jiu se expressasse em momento algum.

Tanto que, após seu breve monólogo, o Imperador o dispensou para seus aposentos para que tirasse um tempo para "descansar e aceitar a ideia de que logo mais se casaria". Shen Jiu, mais do que nunca, sentia ódio. Nem mesmo o gostoso cheiro dos cravos o ajudariam a relaxar no nervosismo que se encontrava.

— Meu Príncipe, como sabe que o governante do norte é tolo se mal o conhece? — Shang Qinghua, seu servo pessoal, o questionou enquanto penteava seus longos cabelos e Shen Jiu nem se dignou a respondê-lo de imediato. Era óbvio o tom de gozação na voz do outro homem, vindo de uma característica intimidade que havia sido criada entre eles, mas que o próprio príncipe não se lembrava de tê-la permitido em voz alta.

— Ele é tolo apenas por aceitar esse acordo. Um tolo ainda maior por sequer cogitar tal coisa. Duplamente tolo! — os fios longos de seu cabelo escorreram pelos dedos do servo quando se virou de frente para este, respingando algumas gotas de água para fora da banheira no processo. — Como posso eu, um jovem príncipe lindo e promissor, me casar com aquele velhote? Diga-me, isso nem mesmo é viável para mim!

— Não foi dito que o governador não era apenas dez anos mais velho?

— Dez, três, cinquenta anos. Do que me importa se eu não quero me casar?

— O casamento pode não ser tão ruim, Yue Qingyuan ainda é um nobre bastante rico, tenho certeza que não lhe faltará nada.

— É bom que um de nós esteja a tentar ver o lado positivo — se reencostou novamente na borda da banheira, de forma agressiva. — O Imperador está sendo muito injusto em não me deixar ao menos decidir.

Shang Qinghua nada mais disse, seria o mesmo que teimar com uma criança, então apenas se contentou em sentar próximo a banheira e esperar que o príncipe terminasse de se limpar.

Shen Jiu por outro lado estava com a cabeça ao longe. Sentado silenciosamente, enquanto sentia a água cheirosa começar a esfriar, seu belo rosto frio e pálido ganhou um novo brilho quando chamou seu servo com um breve aceno de mãos.

— Traga as minhas roupas, irei sair.

— A esse horário, meu Príncipe?

— Claro. Estarei casado daqui a não sei quantos dias, gostaria de então poder aproveitar do pouco tempo de liberdade que me resta.