4 - Uma Esperança de Paz

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Durante o resto do dia, Inaê supervisionou as preparações do exército delfino. A força bélica da pequena ilha nunca fora significativa, e a marinha não precisava vigiar as águas há mais de vinte anos, então não era de se estranhar que os mais jovens e inexperientes estivessem nervosos. Mas o problema maior era a quantidade superior de inimigos.

Perto de anoitecer, Ondina veio ao quartel e falou com Inaê quando todos se retiravam. Perguntou, já parecendo um general:

— O que achou do que viu?

— Fala do cerco à ilha ou dos nossos soldados em potencial?

— De ambos.

— Somos capazes de lutar. Se bem administradas, nossas armas podem bater com as deles, mas estamos em menor número. Isso me preocupa.

— Todos estamos preocupados. Janaína deixou vários policiais a postos para qualquer emergência, e Dario está estocando gaze, anestesia e tudo que pode precisar no hospital.

Só o que Inaê, Marisol e todos os jovens da mesma idade sabiam sobre a guerra de vinte anos atrás eram as histórias que seus pais contavam e que aprendiam na escola, histórias essas que, apesar de assustadoras, sempre pareceram um passado distante que não voltaria mais. Aquilo tudo acontecendo tão rápido parecia irreal.

— O que o parlamento resolveu? – a jovem perguntou quando saíam do quartel.

— Aqueles papéis que me entregaram eram os termos de rendição da ilha e um resumo das mudanças que serão feitas quando ela se tornar parte do reino Lunae. Novas leis, montagem de força militar para manter a ordem, e controle de todas as informações e produtos que circulem por aqui.

Ondina suspirou num misto de cansaço e preocupação. Inaê sempre achou que, para uma mulher na casa dos cinquenta, a rainha tinha uma disposição e vitalidade fora do comum, mas agora seus olhos pareciam refletir o peso de centenas de anos.

A jovem supôs que a guerra tinha esse efeito nas pessoas, e em breve todos os ilhéus teriam esses mesmos olhares cansados e entristecidos.

*

Ela quase não dormiu naquela noite. Os pensamentos que perseguiam Inaê só pioraram quando ela chegou em casa e encontrou a irmã sentada no sofá da sala, segurando um livro que não conseguia ler, de tanto medo do que estava por vir. Um nó se formou na garganta da princesa ao imaginar Marisol num cenário de guerra.

Não, essa imagem era errada demais para se tornar realidade. Marisol era a menina mais gentil que ela conhecia. Só a ideia dela em um ambiente de destruição, cercada por morte e cinzas revirou o estômago de Inaê. A mais nova se sentou ao lado da mais velha e puxou-a para junto de si.

— Vai ficar tudo bem, Mari, eu juro que não deixarei você sentir o que é uma guerra.

Quando o sol nascia no horizonte, Inaê já estava de pé, esperando nervosamente pelo momento da chegada de Alika e Nalu no Edifício Caramuru. Seus pais também levantaram cedo, embora tenham chegado quase meia-noite.

A ilha inteira está provavelmente na mesma situação.

Inaê recebeu os lunaes no porto, e diferente do que pensara, não vieram apenas os irmãos, mas também um homem de patente mais alta, a julgar pela postura e as condecorações em seu uniforme, e um pequeno grupo de marinheiros rasos, escolta talvez. O homem foi o primeiro a sair do bote, e se dirigiu a Inaê.

— Represento a alta cúpula do nosso reino para falar com sua rainha. Eu sou Edward Thatch, almirante de esquadra.

— Eu sou Inaê Luamar, princesa da Ilha Delfim. Vou levá-los até a rainha Ondina.

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