Capítulo 3: Insanidade

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-Anastesia, tenha cuidado. Não queremos que um deles chore

Uma mulher falou. Uma mulher em veste de empregadas, uma espécie de vestido com saia e alguns barbados. Uma combinação de preto e branco. Detalhes e ornamentos entre as diversas mulheres dentro do enorme quarto, mostraram uma hierarquia entre elas. Algumas têm uma serpente com uma cabeça, enquanto outras têm de duas, e apenas três têm uma serpente negra de três cabeças. Aquelas que possuem uma serpente de três cabeças estão cuidando de crianças em específico que estão mais afastadas de outras crianças e em berços diferentes, berços muito bem ornamentados do que os outros que possuem uma estrutura mais simples.

Tais berços são diferentes dos outros por terem em pequenas placas na frente deles, placas com brasões diferentes. Desenhos nos brasões como alguns com leões de juba clara e uma cicatriz no olho direito, um com uma espada branca cruzada com um escudo dourado, outro com uma espécie de faixa vermelha com vinhas de uma árvore desconhecida. Muitos brasões diferentes, mas em especial um deles chamou atenção, um berço maior que os outros e muito mais ornamentado. Um berço com uma criança maior que as outras e mais desenvolvida de certa forma. A criança está com olhos abertos, olhando para o teto com perceptível tédio em seu olhar. Algo incomum em uma criança de sua idade, mas algo mais chamava atenção nele. Sua postura está relaxada, mas ao mesmo tempo preparada, ele está deitado enquanto ouve as conversas das empregadas. Sua pequena e fraca aura, uma aura de distante e indiferente, mas ao mesmo tempo elegante e calorosa. Todo bebê com um brasão tem sua própria aura que os diferencia um dos outros, mas o de brasão de serpente em especial é algo único.

Muitos choraram, mas ele em questão apenas ficou em silêncio durante dias e mais dias. Seu silêncio intrigou as empregadas responsáveis por cuidar dos bebês, elas nunca viram uma criança que nem chorasse por nada. Ele não chorou por alimento, o que muitos fizeram. Ele não chorou por estar quase que sempre sozinho, pois ordens foram dadas para que apenas empregadas de cabeça três pudessem cuidar dele. Um bebê perfeito. Fofo e quieto, um sonho de muitas mães e babás. Um pequeno ser que ficou em constante silêncio mesmo com o barulho à sua volta. Quando um deles chorava, quase todos seguiam o iniciador da pequena confusão. Mas... Seu silêncio também assustou as cuidadoras, pois ele apenas observava elas com interesse que desapareceu com o tempo. No início ele olhava com curiosidade para elas, mas logo seu interesse se perdeu e ele apenas ficou em silêncio profundo até a hora de ser alimentado.....

....

Dias....Longos dias cantando músicas para mim mesmo. Músicas que me trouxeram certa nostalgia de boas épocas, mas agora estou ficando sem opções...Vamos recapitular, talvez meu tédio suma. Lá estava eu, em um lugar onde posso falar com total certeza que é a barriga de uma mulher. Estava em seu ventre, por mais ou menos nove meses. Um lugar escuro, de certa forma bastante frio. Um lugar onde eu estava sempre submerso em um líquido viscoso e que quase me matou quando respirei por reflexo...A única coisa que me salvou foi meu instinto me dizendo para não tentar fazer isso novamente. Por pouco não morria e ia fazer companhia no inferno com alguns papas, reis, imperadores, pintores, inventores, e alguns filhos da puta que conheço. Eu estava muito confortável, considerando minha condição. No entanto, tudo que é bom, dura pouco. Na verdade, durou muito tempo...Nove meses esperando meu nascimento. Longos meses chatos e monótonos, meses que eu não tinha nada a fazer se não me relembrar de histórias em quadrinhos ou desenhos animados. Admito que foi esclarecedor que existem caminhos piores que a morte, um deles é definitivamente o tédio. Por sorte eu estava acostumado com o fato de ficar parado no mesmo lugar por muito tempo sem me mexer...

Bem, quando eu...Pera aí? Foi há dois dias? Três? Quatros? Não sei. Só sei que foi recente. Não muito recente, mas recente de menos de uma semana. Prometi a mim mesmo que pararia de contar o tempo. Não quero enlouquecer de novo....Okey, voltando ao assunto. Lá estava eu, saindo, ou melhor, sendo expulso do ventre de minha mãe enquanto tentava resistir a tamanha provação por medo do desconhecido. Meu frágil corpo parecia ser esmagado por todas as direções enquanto eu era empurrado para baixo. Eu definitivamente tive alguns ossinhos quebrados, mas de alguma forma eles se recuperaram de uma forma extremamente rápida e quase indolor. Foi uma dor bem agonizante, mas nada comparado a ser queimado vivo...Bem, tive algumas cicatrizes de terceiro grau, mas por sorte elas estavam nas minhas costas. Ainda não sei como não fiquei careca naquela vez....Bem, não sei como eu sobrevivi durante tanto tempo. Viver tantos anos nas prisões me fizeram questionar como diabos eu mantive uma aparência até que bela...Genes? Não, meu pai e mãe não eram tão bem conservados quanto eu.

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