Capítulo 1

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— Eu sinto muito Srta. Collins, mas seu pai faleceu na guerra... Aqui estão seus pertences.

Anabel quase caiu para trás ao pegar a pequena malinha que o soldado fardado em sua porta oferecia, seu rosto trazia pesar por ela, e Anabel só conseguiu dizer:

— Isso não pode ser verdade... Ele disse que não estava nem na linha de frente na última carta! — ela gritou, as lágrimas saindo profusamente.

O soldado embora se compadecesse dela, não se demorou e Anabel ficou sozinha com a pequena mala de seu pai.

Agora Anabel estava sozinha nesse mundo, e seu coração doía por seu pai. Ela se sentia desamparada em meio a sua dor. Alguns minutos depois, Anabel abriu a maleta e encontrou uma carta de seu pai que ainda não havia sido enviada.

O conteúdo da carta a surpreendeu.

Seu pai contava que sentia saudade, e pelo meio da carta parecia estar preocupado que não retornasse, e deixava o endereço de um amigo que ela nunca ouviu falar. Mas ele garantia que aquele tal de Marquês de Hawise iria ajudá-la caso algo acontecesse com ele.

Anabel pegou tinta e papel e começou a escrever uma carta para o Marquês.

 

Um mês depois.

— Entre srta. Collins, o Marquês a espera. Seja bem-vinda. — disse a governanta e Anabel não sabia porque a mulher estava sendo tão amável.

Afinal, ela estava vindo de tão longe para ser uma criada na mansão do Marquês de Hawise , sendo um favor para o seu pai que morreu na guerra.

Quando a mulher tentou puxar sua única mala, ela não permitiu, dizendo que ela mesma podia segurar.

— Jenkins pode levar para a Srta., agora deve ir para o café da manhã, o Marquês espera que vá.

Ela devia tomar o café na cozinha, com os empregados, mas antes que pudesse dizer isso a governanta que se chamava Sra. Bonenza, um homem corpulento surgiu do nada e puxou sua mala com facilidade.

— Espere!

— Vamos, ele a espera. — disse a governanta, e a puxou pelo braço.

Anabel não conseguiu mais protestar, e apenas deixou que a governanta a guiasse pelos enormes corredores da mansão do Marquês.

O piso era de excelente madeira, lustrado e havia estátuas nos corredores, assim como algumas portas e quadros excelentes. Ela nunca havia estado em um lugar tão bem arrumado e majestoso.

Quando finalmente chegaram em uma ala com duas portas grande, a governanta abriu as duas e revelou um enorme salão de café da manhã. Com algumas mesas redondas com toalhas azul clara e com flores, havia janelas que dava uma bela vista do enorme jardim.

Mas não foi isso que a surpreendeu, e sim as pessoas que estavam tomando café da manhã.

Eram todas muito bem-vestidas, mulheres com seus vestidos de seda, e homens com suas roupas que valia mais que o seu salário de costureira por toda a sua vida.

Ela rapidamente passou as mãos em seu vestido que era o único novo que ela possuía e em seguida passou as mãos sobre seus cabelos, em uma tentativa de deixá-lo com melhor aspecto.

Mas nada mudou os rostos de desprezo dos presentes.

— Aqui não é meu lugar, senhora Bonenza... — disse para a governanta.

— Não, o marquês disse que assim que chegasse, era para ser trazida imediatamente até ele.

Naquele instante, um homem de meia idade se levantou, e a chamou pelo nome.

Ele estava sentado perto de uma das janelas, em uma mesa redonda e havia outro com ele, mais jovem.

Ela se sentiu ainda mais tímida, até que o jovem se levantou e caminhou até ela.

O homem era alto, seu porte físico era de um guerreiro, nada parecido com os outros que estavam sentados nas mesas.

Seu rosto também era mais duro que o dos outros, e ele não estava barbeado, seus cabelos eram de um tom intenso de obsidiana. E seus olhos, de um âmbar profundo.

Quando o homem parou em sua frente, ele a cumprimentou educadamente, e disse:

— Venha até o meu pai, Srta. Collins, eu sou Isaac Hawise.

Ela nunca havia visto alguém assim, com olhos tão magnéticos e sua voz era ainda mais profunda e bonita.

Anabel o acompanhou até a mesa, e ficou chocada ao perceber que o Marquês mesmo sendo muito mais velho que seu filho, era muito animado. Ele não parecia se portar como um senhor de mais idade.

Após uma troca de palavras suaves, e perguntas educadas sobre se ela fez boa viagem e ela agradecer várias vezes por recebê-la, Anabel teve que tentar consertar as coisas.

Afinal, ela não deveria estar ali...

— Marquês Hawise, eu fico emocionada com tanta hospitalidade, mas me sentirei melhor se me tratar como uma costureira. Sei que meu falecido pai onde estiver, está imensamente agradecido por me conseguir um emprego em sua casa como costureira...

— A Srta. é uma hóspede aqui. Eu a estou tratando como tal. — o velho Marquês a interrompeu.

Até mesmo Isaac que estava silencioso, pareceu reagir aquilo.

Ela ficou olhando para o velho sem entender.

— Eu vim como criada e costureira, foi isso que pedi na carta...

O velho levantou uma mão para que ela parasse de falar, e disse:

— Seu pai era um amigo querido, e eu não tratarei a filha dele como uma criada. Aproveite a companhia de Isaac, ele é muito divertido!

O velho saiu, a deixando sozinha com Isaac Hawise e seus olhos de falcão, que agora pareciam analisar cada centímetro dela.

Ela evitou seu olhar, ainda processando o que acabara de acontecer, quando o homem pegou sua mão repentinamente e disse com frieza:

— Se estiver tentando seduzir o meu pai, devo pedir que pare agora mesmo. A idade trouxe certa ingenuidade a ele em certas questões, e por vezes não vê o jogo sujo de mulheres como você, mas se o machucar, eu farei dez vezes pior.

Ele soltou sua mão quando terminou suas ameaças, enquanto Anabel o olhou, perplexa, enquanto ele voltava a comer tranquilamente, como se não tivesse acabado de ameaçá-la.

Ela não conseguiu se conter, e rebateu:

— Por acaso o senhor é surdo? Não ouviu que eu me ofereci para vir trabalhar?

Quando o homem a ignorou, ela fez o impensado.

Antes que ele usasse o seu garfo para espetar um pedaço de bolo, ela o puxou de sua mão, e isso atraiu o seu olhar de imediato.

— O senhor me deve desculpas.

— Pelo que exatamente? — ele perguntou, sonso.

Ela quase se engasgou com sua raiva pelo cinismo dele.

— O senhor me ofendeu, ofendeu o meu caráter.

— Eu posso ver pelas suas roupas e suas atitudes nada dignas de uma donzela que não teve educação apropriada, logo viu uma oportunidade de seduzir um Marquês velho que acha que tem alguma dívida com o seu pai falecido. Estou só a alertando que seus planos não vão funcionar aqui, mesmo tendo um rosto tão bonito.

Ela sentiu todo o seu sangue ferver, enquanto se imaginava enfiando o garfo em seu olho.

Contudo, Anabel respirou fundo e disse:

— Com licença. Espero nunca mais ter o desprazer de sua companhia.

Ela se retirou daquele salão com rostos que só sabiam se contorcer para ela, e embora com um rosto divino, ele não era nada diferente daquelas pessoas.

Anabel falaria com o Marquês o mais rápido possível, e ajeitaria as coisas, ficaria trabalhando como costureira e criada, e conseguiria juntar o dinheiro que precisava.

E por Deus, não olharia mais na cara daquele Isaac Hawise, que homem desprezível!

Acordo de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora