Acordo de Amor

Capítulo 3

Não, isso não poderia estar acontecendo.

Anabel guardou o convite e entendeu naquele momento que os olhares de desprezo iam além de sua vida sem recursos vinda de lugar nenhum. Eles a olhavam porque achavam que ela seria a esposa do futuro Marquês de Hawise!

Ah Deus, porque aquilo estava acontecendo, será que o velho Marquês ficou louco?

De repente, Anabel olhou para o anel cintilante de safira em seu dedo e se lembrou da insistência da governanta para que ela usasse junto com o vestido e as outras joias. Céus, ela nem desconfiou mesmo? Aquilo era tudo um plano do homem?

Anabel respirou fundo enquanto suas mãos tremiam, ela por um momento imaginou ser esposa de Isaac Hawise, e só conseguiu se lembrar de seu olhar frio para ela há poucos minutos.

Ela olhou ao redor, tentando encontrar o velho Marquês de Hawise, mas ele não estava em lugar nenhum.

Anabel perguntou discretamente para um dos criados que servia vinho.

— Eu o vi saindo do salão, Srta. Collins, creio que deve estar fumando um de seus charutos em seu escritório.

Ela agradeceu imediatamente, ela sabia onde ficava o escritório do Marquês graças ao passeio pela casa que a governanta Bonenza fez com ela no segundo dia de sua chegada.

Seus passos eram o único som que ecoava enquanto caminhava pelos corredores, subindo os degraus de dois em dois, ela chegou no segundo andar.

Anabel sentia que seu coração sairia pela boca, enquanto chegava mais perto da porta do escritório. Antes que ela pudesse bater, a porta foi aberta repentinamente, e Anabel se deparou com os olhos frios de Isaac Hawise a encarando.

Ela acreditou que o homem passaria por ela a desprezando, que lhe daria um silencio frio, mas Hawise não fez isso.

— Sua cúmplice chegou, pai. — ele disse, e abriu mais a porta para ela. — Vamos Anabel, eu posso chamá-la assim, não posso? Considerando que será minha esposa!

Ele estava possesso, e ela podia entender, estava óbvio que o Marquês havia feito aquele arranjo terrível sem o seu consentimento.

Mas ela era inocente naquela história, nas cartas que trocou com Hawise o velho, eles apenas conversaram sobre a ajuda que ele lhe daria. Contudo, o Marquês jamais disse que a traria para ser criada, e Anabel que ofereceu seus serviços... Como ela poderia imaginar aquilo?

— Eu não sou cúmplice, e isso é um engano. — disse calmamente, não perderia a calma por causa daquele homem.

Anabel aproveitou que ele mantinha a porta aberta e entrou.

O Marquês estava sentado em uma poltrona perto do fogo da lareira, ele tinha um copo do que parecia ser Whisky em uma das mãos, enquanto sua boca sustentava um charuto.

Sua expressão era serena, e ela não esperava que ele estivesse tão calmo quando seu filho estava com um olhar que poderia estrangulá-lo.

Quando ela entrou, ouviu a porta se fechar atrás dela, mas não ouviu passos.

Isaac continuava ali.

— Marquês Hawise, está cometendo um erro terrível, eu sou pobre e não fui educada como uma lady, ninguém da minha família tem qualquer título ou dinheiro. Eu não serei uma nora adequada, ainda é tempo de desfazer esse mal-entendido. — a verdade era que ela estava suspeitando que o homem estivesse ficando senil.

Era a única explicação.

O marquês não respondeu, apenas bebeu mais um pouco de sua bebida, e Anabel sentia um frio em seu estomago, enquanto suas mãos suavam nas luvas que usava.

Ah Deus, que confusão. Ela apenas desejava trabalhar e juntar dinheiro para se encontrar com os parentes de sua mãe na Escócia...

— Não precisa dissimular mais em minha frente, certamente ficaram semanas planejando isso em suas cartas! — exclamou Isaac.

O sangue de Anabel ferveu e ela não conseguiu mais se conter enquanto aquele homem bruto a acusava repetidamente.

A garota se virou irritada para ele e rebateu:

— Eu não tenho nenhum desejo de me casar com um bruto como o senhor. Pegue todas as minhas cartas e as leia, Hawise. Pode até ficar com elas, e verá que o senhor nunca foi sequer citado em minhas palavras!

Nesse momento, o Marquês gargalhou e exclamou:

— Vejam só, já até parecem casados!

Naquele momento, Anabel mesmo sendo grata por tudo que o Marquês fez em acolhê-la em sua propriedade e vida, sentiu vontade de puxá-lo pelos cabelos e chamá-lo de velho senil. Graças a Deus, ela não o fez.

Ao invés disso, ela disse, recuperando a calma:

— Marquês, peço por favor para que reconsidere essa decisão. Eu compreendo que suas intenções são boas, mas em minhas cartas eu não pedi um marido, e sim um emprego como criada em sua propriedade.

O homem respirou fundo, e apagou o charuto em um cinzeiro.

Em seguida, ele olhou para Anabel e Isaac que estava se servindo de uma bebida do outro lado da sala.

—  Eu não reconsiderarei. Faz sentido para mim que ambos fiquem noivos, Isaac já é viúvo há tempo demais, e você Anabel, eu tinha seu pai em autoestima. Ele iria querer que eu cuidasse do futuro de sua filha.

— Eu não serei forçado a me casar. Eu mesmo posso desfazer isso, dizendo a todos que não me casarei com a Srta. Collins. —  disse friamente Isaac e caminhou até a porta.

Antes que Isaac saísse, quando ele segurou a maçaneta, o Marquês se levantou e disse:

— Se desfizer o noivado com a Srta. Collins ela será alvo de todo tipo de especulação, e até mesmo as mais desonrosas. Sei que você mais do que qualquer um sabe como boatos podem destruir alguém, é isso que deseja para a Srta. Collins aqui?

Anabel se virou para olhar para Isaac, que estava parado de costas.

Ao ouvir as palavras do pai, ela viu como seus ombros estremeceram e seu aperto na maçaneta, ele hesitou por um momento, então seus ombros relaxaram e ela o ouviu dizer antes de sair:

—  Você quer me desgraçar velho. 

Ela ficou muito surpresa por ele tratar o pai daquela forma tão desrespeitosa.

O marquês deve ter percebido isso em sua expressão, e disse:

— Ele é um bom homem.

Sim, ela duvidava disso.

E o pior, não via como poderia se livrar daquele casamento sem se prejudicar.

Deus, o que farei se me tornar esposa daquele homem que claramente me despreza? Pensou Anabel.