Único - Mudança

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— Como chegou até aqui? — ela questionou.

— Vim correndo. — disse ele enquanto suspirou ofegante.

— Ok, mas são 17:06, seu trabalho não é até as 18? — ela disse enquanto verificou o relógio.

— Não podia perder mais um segundo. — ele sussurrou.

Ficaram em silêncio.

— Eu li a carta que me deixou. Sabia que existe celular? — ele olhou para ela com curiosidade, a mão com a carta tremia.

— Sim, mas descobri algo entre mandar mensagem e ficar no silêncio, que é a carta. — ela sorriu satisfeita.

— Seis minutos de conversa e... o que veio fazer mesmo? — ela instigou.

— Primeiro, eu sabia que você estaria aqui e queria falar contigo. e Segundo: você vai mesmo embora? — Dan finalmente criou coragem para perguntar.

— Sim, não é grande coisa, mas queria muito que você soubesse antes de qualquer outra pessoa.

— Já se despediu da igreja? — perguntou ele se sentando no meio-fio branco, enquanto fitava o sol querendo se pôr no horizonte. As ondas quebravam no rochedo ao seu lado direito, e ao seu lado esquerdo, a praia se enchia cada vez mais de pessoas para a apreciação dos últimos instantes de luzes cor de rosa, amarelas e laranjas.

— Vai ser amanhã de noite. — ela disse por fim, se sentando do lado dele.

— Eu gosto de golden hour, sabia — Dan falou enquanto passou o braço ao redor de sua melhor amiga - elas deixam o seus olhos mais brilhantes.

— Essa conversa de novo não, por favor — Lisa protestou enquanto seus olhos começavam a se encher de água.

Desde os 5 anos, quando ela se mudou de cidade, foram amigos. Tudo ficava melhor porque seus pais também eram amigos e pastores, o que rendia bons passeios para congressos e diversas viagens em missões.

Sempre guardaram com carinho as memórias que saíam das aventuras. Como no dia em que ficaram encharcados e griparam após fazerem um culto na única pracinha de um vilarejo. Ou da vez em que tentaram aprender o idioma de um povo que estavam visitando, mas a cada palavra só conseguiam rir, por não entenderem muito bem o que estavam querendo dizer.

Mas também tinha as vezes em que se desentendiam, fosse por qual casa começassem ir para falar sobre a Bíblia, ou com qual cor de camiseta fariam isso. Bobo, eu sei, mas do alto dos 12 anos dos dois, essas eram discussões seríssimas.

— Lembra de quando você se declarou? — Lisa tomou coragem de perguntar.

— E você me disse que nem por milhões de dólares se casaria comigo? Lembro.

— A única coisa... que me faria... desistir — as lágrimas vieram grossas ao encontro das bochechas coradas de Lisa.

— Lis, há três palavrinhas do mundo que devemos dizer às pessoas que importam...

— Jesus te ama?

— Também, mas seriam três mais pessoais, tipo de mim pra você — Dan segurou a mão de Lisa com ternura e carinho — e VOCÊ TÁ CHORANDO? — exclamou, fitando-a assustado — eu achei que estávamos conversando numa boa, Lis!

— E estamos — Lisa enxugava as lágrimas com um lencinho emprestado por seu amigo — eu acho que você é o único cara nesse século que anda de lencinho, sério! — disse rindo.

— Sempre foi pro caso de você precisar, risos.

O sol baixou mais um pouquinho, revelando no céu tons de rosa com roxo, e as pessoas na praia tiravam fotos e mais fotos do momento, enquanto na mente de nossos dois pombinhos uma música peculiar começou a ecoar, como se fossem guiados pela mesma voz (e de fato eram).

Dan foi o primeiro a sussurá-la, e isso não assustou Lisa como se fosse uma coincidência absurda, afinal, eles já eram acostumados a terem uma sintonia que para uns seria bizarra, mas para eles era somente o Espírito Santo os guiando em conjunto.

Mais formoso dentre todos, os meus olhos estão só em ti Lisa sussurou completando a canção - essa música é boa demais, af.

— Sim, e bom também seria eu saber o motivo da pergunta — Dan esticou-se como um gato, e com a mão da carta acenou para o sorveteiro que passava pela calçada, que parou e ofereceu o gelado.

Pegaram dois sorvetinhos cremosos e começaram a aproveitar.

— Ainda está de pé? — os olhos azuis brilhantes de Lisa encaravam os pretos de Dan - a proposta.

— A que fiz semana passada de tirar pelo menos um dia do verão pra te levar no parque da capital que, por favor é TERRÍVEL que ninguém nunca tenha te levado, ou a de casar com você que fiz a quatro anos, 4 meses e 4 dias atrás?

— Mas você é besta mesmo.

— A minha parte do velho homem, aquela que me atormenta, gostaria muito de dizer que agora eu gosto de outra, ou que agora eu sou um homem de compromissos com o emprego, ou que aos 20 anos eu não teria maturidade para ter uma esposa tão incrível como você, ou — Dan parou, enquanto Lisa balançava a cabeça de um lado para o outro — enfim, acho que você está entendendo.

Lisa havia passado em duas faculdades, o que dava-lhe uma possibilidade de escolha excelente, mas, quando começou a achar Fontes frias, sua cidade natal, pequena, quis se mudar para Campos de Abril, uma cidade a 70km dalí. Fazer pedagogia em Fontes frias significaria a possibilidade de estar com sua família, seus irmãos conhecidos da igreja e ir para a praia todas as tardes, como ela sempre gostou de fazer. E também significaria estar perto de Dan, que por mais que ela o amasse muito, tinha medo de ferí-lo com algumas inseguranças ou de estar confundindo seus sentimentos por serem tão próximos.

— Seria capaz de pedir pros meus pais tipo, nesse natal? — ela perguntou.

— Sou capaz de pedir agora mesmo. — Dan ousou, enquanto se levantava e jogava os potinhos de sorvete deles numa lixeira próxima.

— Dan, tenho medo de te machucar comigo mesma, tenho medo de não ser suficiente, e tenho medo de perder nossa amiza — e antes que ela pudesse concluir, Dan inclinou-se e selou seus lábios. Foi o primeiro beijo de ambos, o primeiro beijo mais querido e memorável de todos os tempos.

— Eu tenho permissão para te namorar desde que te pedi aquele dia, concedida por seus pais e tudo, quase autenticada no cartório, querida — Dan disse enquanto sorria vitorioso.

— Eu quero um pedidoo — Lisa reclamou enquanto se recompunha.

Naquele momento, surgiram duas mocinhas, uma com um buquê de rosas vermelhas e outra com uma caixa de bombom em formato de coração. As duas vindo em direção deles, que já estavam de pé, e enquanto Lisa se distraía com elas, Dan se ajoelhou, tirando uma caixinha minúscula do bolso com duas aliancinhas finas em formato de onda, que era a coisa favorita de Lisa (e que ela já tinha dado mil indiretas sobre achar esses anéis lindos, perfeitos, e de muito bom gosto, nas palavras dela).

— Ai que lin-COMO VOCÊ AAAAAAAAAA VOCÊ AJOELHADO — Lisa gritou enquanto começava a rir e chorar ao mesmo tempo, devido ao choque.

— Eu vim preparado para te pedir em namoro.

— M-mas DANIEL - Lisa chorou de verdade, e Dan teve que se levantar para consolá-la primeiro e fazer o pedido depois.

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⏰ Última atualização: Dec 05, 2023 ⏰

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