Antes que eu pudesse partir pra cima do Eros, Blaze segurou meus braços em minhas costas.
— Muita calma nessa hora, senhorita. — Ele brincou e eu quis bater nele também.
— Olha... pra informação de vocês, mulheres podem vestir o que bem quiserem, vestidos ou calças, saias ou shorts e bermudas. Desde que se sintam bem e confortáveis, sem se importar ou se preocupar com o que homens idiotas vão pensar! — Tentei não gritar, ao lembrar que tinha gente dormindo. — E esse short nem é curto, há quem use menores, e mesmo assim não precisam ouvir sobre suas pernas. Aí... queria muito socar ele, e você também Blaze!
— Solte ela, capitão. Deixe-a tentar a sorte!
A pose de bonzão do Eros me deixou ainda mais irritada!
— Vale lembrar que estamos em um mundo, continente, país, cidade e século totalmente diferentes do que conhecemos Eros. Claro que a cultura é diferente também, e merece respeito. Então agradeço se não testar ainda mais a paciência da garota. — Algo na voz ou expressão de Blaze, que eu não podia ver já que ele estava atrás de mim, pareceu fazer Eros tomar uma postura mais séria. — E me desculpe por incomodá-la tão tarde da noite, senhorita Ayla. Tentarei conter melhor minhas curiosidades. — Blaze me soltou, e se pôs a minha frente parecendo envergonhado, mas ao mesmo tempo como que para prevenir algo ainda. Afinal ele continuava entre mim e o moreno metido a besta que merecia uns tapas na fuça.
Bom saber que um desses dois homens das cavernas ao menos tinha um pouco de senso. Mas além de invadirem minha casa, me desgastaram.
— Hump... — cruzei os braços e apoiei meu quadril na mesa, ainda sentindo raiva. Era raro alguém me tirar do sério tão facilmente assim.
Normalmente Lipe é o que fica pistola com facilidade e quer matar pessoas. Mari é a que não se importa ou apenas assiste o circo pegar fogo comendo pipoca, e muitas vezes quer fugir das pessoas. Eu sou o amorzinho que geralmente abraça as pessoas, fazendo amizades rapidamente com desconhecidos. E agora nessa situação, senti como se Lipe tivesse baixado em mim.
— Da próxima, peço que só me apareçam a essa hora da noite de sábado se tiverem alguma informação relevante. — Falei, ao notar que ambos esperavam que eu dissesse algo. — Se não, esperem que eu apareça no navio quando estiver com tempo livre em algum fim de semana. Pode ser?!
Eros não demonstrou expressão alguma, mas Blaze sorriu complacente. Minha ficha caiu apenas agora, notando que até seus nomes parecem ter saído de livros de fantasia que eu leio normalmente.
— Acho que estamos combinados então! E mais uma vez, sinto muito por qualquer coisa. — O capitão inclinou o chapéu pra mim e eu assenti. — Vamos? — deu três tapinhas no ombro do mais alto e saiu pro quintal dos fundos, com Eros logo o seguindo.
Quando achei que tinha me livrado deles e fui fechar a porta da cozinha, dei de cara com um Eros – ainda de cara amarrada – bem perto da porta.
— O que fo... — Ele tapou minha boca com aquela mão grande e fiquei sem reação com o gesto repentino.
— Me desculpa por ter sido rude. — Ele não olhava pra mim, olhava pro céu pouco estrelado, me mantendo quieta. — Não quis ofender, nem nada do tipo, mas tendo a provocar as pessoas geralmente... — Ele olhou nos meus olhos por um segundo. Se aquilo era pra soar como "só quis te irritar", eu poderia soca-lo agora, mas aquele olhar...
Um mísero segundo pareceu durar muito. Seus olhos, que pareciam brasas, como dois sois que podiam iluminar tudo em meio a escuridão da noite. Aqueles olhos estavam presos aos meus até ele tirar a mão da minha boca, se virar e ir embora pela oficina do meu pai.
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Ayla & Os Fire Dogs
FantasyUma porta Dois mundos Passado e presente Ela achando que ele fugiu de algum hospício... Ele achando que ela morreria fácil... Ayla, uma estudante de geografia, que geralmente ama fantasias. Eros, um pirata rabugento perdido, que só pensa em treinar...