Primeiro dia, primeiro dia, primeiro dia, sorria, seja simpático e não mostre fraqueza, vai dar tudo certo! Não demorou nem dez segundos para o surto começar.
Mas e se der errado? Certeza que vai dar errado, alguma coisa tem que dar errado, sou eu, tudo sempre dá errado comigo, é impressionante, não, calma, é só fazer tudo certo, é o seu primeiro estágio, olha pelo lado bom, você está na faculdade, você sempre quis fazer faculdade, sempre? Não estou lembrando muito bem agora, e se eu não conseguir mexer no computador, parece que eu vou trabalhar a tarde inteira no computador, minha barriga tá doendo, será que eu comi algo que faz mal, eu não lembro nem o que eu comi hoje, eu comi hoje?
Minha cabeça estava a mil, andando em passos rápidos com medo de dar errado, era meu primeiro estágio em uma editora muito importante da cidade, conseguir esse estágio não foi fácil, muitas etapas seletivas, eu pensei que não ia conseguir, mas lá estava eu, entrando naquele prédio enorme, a recepção era tão chique, não estava acostumado em ver as paredes de pedra daquele jeito, não sabia nem o nome daquilo mas sabia que era caro, cheguei na recepção e a senhora pediu pra eu me identificar.
-Samuel Macedo Santos!
-Veio para a entrevista?
-Na verdade eu já passei na entrevista, eu vim para trabalhar mesmo, digo, estagiar, é um estágio, eu sou estagiário, vim para o estágio. Eu disse tantas vezes a palavra estágio que a senhora baixou os óculos e ficou me encarando.
-Estágio entendi! Pode subir, seu nome está aqui no sistema, fica no décimo quarto andar!
-Décimo quarto? Oh deus! Obrigado moça, digo, senhora!
Ela me olhou de novo com um olhar de julgamento, mas eu a entendo, eu mesmo me julgo o dia inteiro. Quando entrei no elevador minha labirintite deu sinal de vida, odeio elevadores. Quando eu cheguei no décimo quarto andar, meus mini surtos voltaram, as mil vozes na minha cabeça dizendo tudo que poderia acontecer e dar errado e a porta abriu, e meu coração disparou, achei que fosse ter um infarto ali mesmo, eu sentia falta de ar, minha camisa social estava molhada em partes não muito bem vistas, logo de cara a primeira coisa que eu vejo é uma estátua, não tinha nome em baixo, eu fiquei procurando, parecia ser alguém importante, era de um velho com roupa antiga, acho que é uma roupa medieval, quem é esse homem e porque ele é tão importante a ponto de ter uma estátua na editora, eu deveria saber quem ele é, eu trabalho aqui agora, dei umas voltas sobre essa estátua e enquanto eu estava olhando ela curiosamente um rapaz alto, musculoso de cabelo bem curtinho gritou – ei!- quando eu olhei pra ele o seu rosto já estava quase de frente o meu - é um prazer conhecê-lo, você é o Samuel não é?
-Isso- eu não sabia quem ele era, mas parecia importante.
-Meu nome é Caio, fiquei encarregado de te guiar no seu primeiro dia, sou da equipe dos recursos humanos, vou te apresentar o local.
Eu estava nervoso, mas ele fez com que eu me sentisse em casa, seria algum tipo de truque psicológico? ele é dos recursos humanos, é treinado para lidar com as pessoas, com certeza é isso, o que será que ele esconde por trás desse sorriso simpático? Eu tinha essa mania de analisar as pessoas como se eu fosse um psicólogo.
Ele me mostrou todo o andar e ficou me apresentando para as pessoas, eu queria muito ser telepata para descobrir o que passou pela cabeça delas quando me viram pela primeira vez, eu estava meio sem jeito, as vezes tropeçava, e gaguejava pra falar, isso não é bom, não é mesmo.
- Agora que você conheceu todo o andar vou te levar para sua mesa.
- Mesa? Eu tenho uma mesa?
- Claro! Todo mundo tem, a gente precisa do computador para trabalhar, não é?
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Bilhetes para Samuel
RomanceSamuel é um jovem trabalhador que consegue seu primeiro estágio em uma editora, desacreditado de suas capacidades e movido por sua ansiedade extrema, se encontra em um abismo quando tudo dá errado no primeiro dia, mas Alexandre, o TI da empresa, enc...