Capítulo 1 - Salve ele, Deus!

50 7 28
                                    


Deus, salve ele!

Meu corpo grita, lutando contra mim mesma e minha alma urra, lutando contra ele conforme as luzes atravessam o local onde estou, que claramente é um delírio.

Vejo pessoas, vejo sangue, vejo monstros e um homem fugir comigo de algo, correndo pelo corredor antes de me empurrar e, ser golpeado no meu lugar, batendo contra a parede enquanto enormes dedos e mãos surgem da escuridão.

Lampejos, a imagem do jovem de pele parda muda e fica cada vez mais clara, surgindo em luzes ao tomar diferentes posições.

Segurando uma mochila, ele sorri e os olhos castanhos parecem brilhar junto do cabelo preto recém cortado, causando algo em meu estômago que, quando a visão muda, embrulha.

Abaixo de mim, com a respiração fraca, vejo-o inconsciente e com uma enorme ferida em seu peitoral, fechando-se lentamente sob meus gritos de desespero.

Por algum motivo, nesse delírio onde estou eu me lembrei do que ele raramente dizia, do que ele falava e aparentava crer com tanta força.

Crer com força o bastante para brigar com várias pessoas para não nega-lo, com força o bastante para abdicar do próprio tempo para ajudar a comunidade e, para rejeitar se deitar comigo, preferindo seguir o que acreditava ser certo.

A tristeza e desespero me dominam, porém nenhuma lágrima é formada em meu delírio, aparentando rir de mim ao mostrar o homem que amo morrendo diante os meus olhos.

Deus, salve o Rodolfo.

Eu nunca fui crente, eu nunca aprendi nada de você e o que aprendi naquelas aulas da crisma me fizeram afastar, assim como as aulas de história sobre a inquisição, sobre os terrores dela e das atrocidades que vejo na mídia.

Mas, mesmo assim, eu te imploro, salve Rodolfo.

Uma forte luz me atinge por frente, retirando o foco da ferida dele e, arrepiando, algo parece explodir dentro de mim.

Volto os olhos na direção dela, tremendo, não entendendo o que é aquilo enquanto o medo, o pavor e a tristeza são esvaziadas, deixando uma alegria descomunal crescer no meu peito.

Uma mão surge da luz e, abrindo-se ao oferecer um apoio, vem na minha direção, parando diante dos meus olhos.

Então, quase hipnotizada, levanto as minhas mãos e, indo até ela, algo parece estourar.

No instante seguinte, vejo um teto branco.

Quase como se estivesse acordando, meus membros reagem lentamente com torpor e, com os olhos arregalados, consigo sentir meu coração bater violentamente, feito um tambor em uma festa.

Ele me respondeu.

Desço os olhos pelo teto de concreto, vendo várias marcas de tempo nele conforme meus pelos arrepiam, inspiro o ar com força e, vendo inúmeras máquinas, computadores, estantes e um enorme vidro, vejo minhas roupas repletas de rasgos pela camisa preta e pelo short, quase rasgando-se totalmente.

Imediatamente tento me mover e meus braços são restringidos por algo, algo como correntes. Olho para eles, esticados e com gigantes cordas de aço presas nele, quase não me deixando afastar nem um único centímetro da espécie de… Cama? Mas é duro, parece aquelas cadeiras de dentistas…

Eu acabei de falar cordas de aço, no que quero explicar?

Fecho minhas mãos, os músculos pela minha pele escura são contraídos e, somente então noto a mudança de cor dela, mais corada.

Tanto faz.

Puxo os braços, as correntes resistem e ouço o metal bater nele mesmo, esticando no movimento e, movo as pernas, sentindo ser presa pelos calcanhares.

A Calamidade, A salvação Onde histórias criam vida. Descubra agora