Uma garrafinha de água, uma arminha de brinquedo e uma munição.
E, claro, ao meu lado minha professora, ensinando como deveria apoiar os pés e segurar a arma para atirar. Há toda uma preparação, toda uma ideia e cálculo antes do gatilho ser puxado.
Lembro dela me zoando após ajustar a forma que estava atirando e a enorme vergonha que senti. Nunca tive muito contato com mulheres e, do nada, essa guria cola em mim.
Ainda consigo sentir a respiração dela em minha orelha enquanto ela alinhava minha coluna, movia meus braços e, claramente em uma provocação, fazia questão de ficar o mais perto possível ao rir da vergonha de seu aluno. Vulgo, eu.
Faço uma careta e, vendo Steffany do meu lado, comendo extremamente feliz a manga que cortei pra ela ao melar sua pele branca e nariz fino, também melando o cabelo preto e ondulado dela, não consigo evitar de sorrir.
Os olhos castanhos, agora escurecidos, são voltados para mim. A dúvida toma conta de seu semblante, tentando entender o motivo de eu estar rindo e fazendo uma careta.
–O que fazemos agora? –Questiono, voltando à expressão normal ao puxar um pacote de bolacha da mochila.
–De duas, de três na verdade, fazemos uma. –Ela começa a falar, ainda mastigando a manga e fico com receio dela sujar a blusa de gatinho. –Ou vamos atrás de Rodolfo e Vitória, ou ficamos com esses caras ou seguimos sozinhos.
–Ir atrás deles é… Difícil. –Digo com pesar. –É quase como achar uma agulha no palheiro.
–Penso o mesmo. –Suspiramos juntos. –Eu realmente quero ir atrás daqueles dois e ajudar caso estejam com problemas, mas… A chance de encontrarmos eles nessa bagunça é quase zero.
–Eu… Eu havia mostrado os supermercados que iriamos, acha uma boa irmos e esperarmos eles lá? –Steffany tomba a cabeça, concordando em seguida.
–É uma boa. O problema é: E se eles não aparecerem? –Faço uma careta, coçando a cabeça em seguida. –Eles podem estar em quinhentas situações diferentes e… Provavelmente não vamos saber.
–Tudo o que podemos fazer é esperar então? –Mordo uma bolacha, sentindo o gosto dela e do chocolate extremamente amargo.
–É, basicamente. –Os olhos de Fany são voltados para a bolacha, ofereço o pacote, o qual é prontamente pego e esvaziado pela metade. –Podemos falar para eles irem conosco caso… Sei lá, queira retribuir a ajuda.
–Se você for, eu não ligo. –Digo, pondo a cabeça na parede ao olhar o teto. –Mas odiaria seguir sem eles.
Apenas ouço um murmuro, provavelmente reclamando da situação em que estamos e o silêncio prevalece.
O plano é então irmos pro próximo supermercado como sempre e ir para uma região afastada. E depois, viver plantando? Chega a ser engraçado. Aqueles caras, o pastor e o povo da igreja, estão indo buscar suprimentos né… Deve ser uma boa ajudar eles.
–Consegue andar? –Questiono, Steffany ameaça se mover e me levanto, pronto para ajudar no menor sinal de fraqueza.
Contudo, ela levanta tranquilamente e, arregalo os olhos, tendo que subir o rosto para vê-la nos olhos.
–Que isso mulher? Tá na puberdade? –Questiono realmente abismado, arrancando uma risada dela. –Credo, você já era grande mas TU TÁ GIGANTE!
–Isso explica porque a roupa apertou. –Ela fala, movendo o tronco e braços, fazendo a camisa de gatinho azul esticar, porém não mostra o menor sinal de que vai rasgar. –Mas vou ficar continuar assim.
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A Calamidade, A salvação
HorrorVitória desperta de seu sonho, quase coma, após quase morrer e, descobrindo que o que viu não era um sonho, segue atrás de Rodofo e de sua mãe, tentando sobreviver num mundo repleto de zumbis, humanos malignos e forças das trevas que sequer consegue...