Aquele com a verdade.

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2014.

×× BILLY’S POINT OF VIEW ××

Bem, era óbvio que eu não fiquei feliz com aquela notícia. Como eu poderia? Eu tinha acabado de perceber que eu havia me tornado tão irresponsável e negligente quanto meu pai foi comigo. Ou pior, eu realmente nem sabia da existência daquela garota. Quer dizer, saber eu até sabia porque há alguns anos, Christina foi ao meu camarim. Por volta de 2005, eu acho. Em meio às ameaças que me fizera, eu consegui arrancar a informação de que seu nome era Samantha e fui avisado mais uma, das dezenas de vezes, que eu não era o pai daquela criança. Eu não era. Christina tinha me dito isso. Não tinha como ter sido um engano, todas às vezes ela ouviu com clareza a minha pergunta. E agora eu era o cara ruim. Eu nunca havia lhe procurado. Nunca pedi um teste de paternidade até porque, sejamos sinceros, Christina jamais concordaria. Era como se ela tivesse repulsa daquilo. Algum tipo de medo ou receio. Tipo, não era como se eu fosse largar a minha vida de astro de cinema aqui em Los Angeles com o amor da minha vida só porque eu tinha uma filha. Ia ser difícil, mas naquela época eu cogitei dar um jeito nisso. Tudo o que eu não queria era ser igual o meu pai. Eu podia ficar com a garotinha quatro dias por semana se fosse preciso, oferecer auxílio, me responsabilizar pelo bem-estar dela e fornecer a melhor educação do país, longe dos horizontes restritos de Woodsboro onde Christina ainda morava. Tenho certeza que Stuart não se importaria. Stu era muito bom com crianças e eu daria o meu melhor.

Eu podia muito bem passar uma faca pela superfície de algum pescoço ou perfurá-la no estômago de alguém e lentamente puxar suas tripas para fora sem sentir remorso algum, contanto que aquilo fizesse sentido pra mim. Eu não matava qualquer um. E seguindo essa lógica, não teria problema se eu tivesse simplesmente roubado aquela criança dos braços de Christina naquela época. Se eu e Stu já não tivéssemos câmeras de paparazzis e microfones de jornalistas enfiados em nossos rostos seria fácil. Mas não importava o quanto eu desejava aquilo, nada faria sentido se aquela garota não tivesse meu sangue. Por que eu a sequestraria?

Se Billy tivesse lhe perguntado mais uma vez se quer sobre a paternidade de sua filha, tenho certeza que Christina lhe falaria a verdade. Ou tentaria lhe dar um tapa no rosto, daqueles de novela mexicana.

Mas por agora, Loomis mordeu o lábio inferior e assentiu com a cabeça, dando um suspiro baixo enquanto sentava-se no sofá extenso e estufado com couro preto. Apoiara os cotovelos nos joelhos e passou uma das mãos nos próprios fios, como se tentasse formular alguma frase ou qualquer coisa pra quebrar o clima.

Eu não tinha o que lhe falar.

Desculpas? Se aquela era realmente a filha de Christina Carpenter, era capaz de me encarar no fundo da alma e me dar um empurrão. Na verdade, isso também parece algo que eu faria quando jovem.

— Então...  – Ela começou, sentando-se na poltrona em frente ao meu assento, nos deixando divididos apenas pela mesinha de centro de madeira.  — Aquele rapaz.. É seu secretário?  – Parecia tentar puxar assunto.

— Ele é meu namorado, na verdade.  – Respondi, ainda meio atordoado com a ideia daquela jovem ser minha filha.

— Ah.  – Ela sorriu.  — Entendi.

Eu a olhei.

— Você preferia foder com um homem ao invés de ajudar a minha mãe e eu quando passamos por momentos difíceis.  – A garota de fios ondulados concluía, fazendo o sorriso irônico em seus lábios desaparecer ao longo de sua frase.

The Devil's Sequel.Onde histórias criam vida. Descubra agora