o digno de ser

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24 de outubro de 1922, Alexander Palace, Rússia.

Minha mãe dobrava cuidadosamente os lenços de Alexei dentro de um baú grande que usávamos para viagens. Ela não disse muitas palavras, e não que realmente precisasse, a tensão era bem evidente.

Como filha mais velha, me lembro da minha mãe quando ainda era uma mulher jovem e inexperiente com a maternidade. Sempre muito brincalhona, porém ainda era uma Czarina. As gestações frustrantes e a vida de uma imperatriz de um império em queda tiraram dela todo o brilho e alegria que o casamento a trouxe.

A mulher que eu conheci na minha infância é muito diferente da mulher que Anastasia conheceu e do que Alexei conhecerá. Mas ainda assim, mamãe era forte e não tinha medo de ir até o fim para defender o que ela acreditava, ensinou a mim tudo o que sei sobre a vasta Europa e compartilhou comigo as angústias de uma esposa rechaçada e mal recebida pela corte russa.

Ela vez ou outra chorava em cima de uma das peças de roupa do meu irmão, e se recusava a me dizer o exato motivo de toda aquela arrumação enquanto ele dormia calmamente em um berços do quarto particular dela.

- Precisa de ajuda com algo, mãe?

- Não. - Foi tudo o que disse enquanto voltava a dobrar meias e luvas.

- Para onde Alexei vai?

Minha mãe suspirou e finalmente olhou para mim.

- Me diga para onde vão levar ele, mãe.

- Alex ficará sob os cuidados da esposa de um aristocrata até que ele se convença de que é digno de ser o imperador que o seu pai prometeu.

- E quem irá com ele?

Minha mãe não me respondeu de imediato, ela suspirou antes de se sentar na cama e olhar para o berço, mas rapidamente olhou para mim.

- O seu pai não sabe disso, mas dei permissão que levassem Alexei para Moscou, e nós ficaremos aqui.

- E quando pretende dizer isso a ele?!? Mamãe, ele ficará louco!

- Eles querem as nossas cabeças e eu não posso deixar isso acontecer.

- Mas pode dar o meu irmão a eles?!? Um bebê de dois anos??

- Eu... eu não sei...

- E quando verem que ele está doente, mãe?

- Talvez seu pai e eu tenhamos a sorte de conceber outro garoto, ou talvez dentro de pouco tempo você tenha essa sorte. Não podemos colocar tudo a perder agora. E não seja ridícula, o seu irmão não vai morrer, ele volta muito em breve.

- Você está oferecendo Alexei como um sacrifício para eles nos deixarem em paz?!? - Não pude ignorar que eu havia perdido naquele segundo metade da admiração que sentia pela minha mãe.

Tudo o que eu sei é que há pessoas que são contra o governo do meu pai e se aproveitam da insatisfação do povo com o Czar para nos tirar da Rússia, o que facilitaria o comando.

- Eu só confio que Deus dará um jeito de me devolver o meu filho, May.

- O papai vai ficar doido. - Falei para mim mesma.

- Ele não precisa saber. Direi que Alexei está sob os cuidados de uma equipe médica.

- E por quanto tempo a senhora acha que ele vai acreditar nisso?

- Tempo suficiente para que eles vejam que não tem nada errado com seu irmão. Apenas você e Deus sabem disso.

- Essa é a coisa mais burra que eu e Deus estamos te vendo fazer. - Disparei, e tudo o que recebi foi um tapa no rosto.

Os Diários de Regine May - PrequelOnde histórias criam vida. Descubra agora